Quem seria o ídolo? Aquele que inspira? Aquele que muda a sua experiência como consumidor? Aquele que ajuda na venda do entretenimento? A figura do ídolo vai muito além.
Se bem verdade é que o atleta hoje é quem faz o mercado girar, e aqui não falamos apenas das transferências e desempenho em campo, mas do consumo do esporte de modo geral, é ele também que se torna o principal responsável pela materialização da indústria. Indústria essa que sempre se pautou na existência de ao menos um ou uma grande atleta, não é à toa que os esportes acabam por se dividir em eras: Era Guga, Era Marta, Era Oscar Schmidt. Hoje talvez estejamos vivendo a Era de Simone Biles, de Lewis Hamilton.
O documentário de Pelé recentemente veio nos lembrar da forma como um atleta pode se tornar ídolo, e como um ídolo se torna um representante midiático de qualquer produto que queira vender. À época, através da construção de uma carreira de conquistas, de sucesso e de um carisma diferenciado, Edson Arantes do Nascimento passou a ser requisitado em comerciais e solenidades, sem falar na cobrança por seu posicionamento político.
Tempos depois da Era Pelé, entendemos que o mercado esportivo e a sociedade ainda percebem a necessidade dessas manifestações, ainda que – e principalmente – num universo mais tecnológico. E as marcas vislumbram lucro através da identificação dos consumidores com a figura dos que possuem o perfil de ídolos.
Provavelmente, a principal responsável por construir a representação social desses atletas é a mídia, mas é ela também que pode destruir todo e qualquer resquício de boa influência. Atletas são humanos, erram e acertam como qualquer pessoa, apesar disso eles são referências, são exemplos.
Para ilustrar é mister falar sobre a construção da imagem do fenômeno Rayssa Leal, que levou os brasileiros a torcerem de maneiras inusitadas nos Jogos Olímpicos, e hoje além de colecionar troféus, estampa revistas de repercussão mundial.
Por outro lado, existem ídolos que possuem condutas altamente reprováveis para a posição que ocupam não só no esporte, como no coletivo social geral.
Certo é que o ídolo é alguém que marca sua posição na sociedade, e por tal razão deve entender essa sua função que vai além da prática desportiva, podendo, com isso ser vetor de desenvolvimento e instrumento para a redução de desigualdades, as quais são tão marcantes em nossa sociedade. Não obstante, a responsabilidade social das entidades começa muito antes de uma contratação, e não deve se manter apenas nas campanhas bonitas. O resultado de uma incongruência pode ser devastador!
Ainda que até pouco tempo atrás as Eras tenham sido marcadas estritamente pelo resultado em campo dos grandes esportistas e também, no máximo, pelo seu carisma, a mudança do comportamento de consumo e a ânsia de parcela da sociedade por um ambiente coletivo mais igualitário, faz com que o olhar para essa esfera do esporte já não seja como antes.
E, assim, os ídolos podem tanto vender muito mais, e assim gerar mais número, como pode fazer com que as entidades acabem por perder reputação e importâncias financeiras em razão da sua conduta. Nesse sentido, a preocupação das instituições que possuem suas referências deve estar alinhada com as próprias metas e valores, para prevenir eventuais intercorrências e, ao mesmo passo, criar novas oportunidades de negócio relacionadas aos ídolos que possuem.
Crédito imagem: AFP
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