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A injustiça vem da Casa Branca

Uma decisão recente do novo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, levantou mais uma vez a polêmica: indivíduos XY deveriam competir com indivíduos XX? Por meio de ordem executiva[1] publicada no dia 20 de janeiro de 2021, Biden definiu que não poderá haver qualquer tipo de discriminação baseada em identidade de gênero e, entre as garantias, incluiu o acesso a competições esportivas estudantis.

Dessa forma, segundo a nova ordem executiva presidencial, quaisquer indivíduos que se declarem mulher poderão competir com outras mulheres, independente de seu perfil biológico e genético. Um exemplo claro disso foi visto naquele mesmo país há pouco tempo. Dois indivíduos XY passaram a se identificar como mulher e, desta forma, competir contra outras mulheres em competições escolares no Estado de Connecticut. Imediatamente passaram a dominar as provas de velocidade, alternando-se sempre entre primeiro e segundo lugares. As demais competidoras, XX, não tinham chances de competir em nível semelhante. A diferença física impede qualquer possibilidade de competição.

Após esse caso, houve uma manifestação do Departamento de Educação apontando que essa autorização fere os direitos civis das mulheres, por ir de encontro ao Título IX das Emendas Educacionais de 1972[2], uma vez que muitos estudantes Estadunidenses recebem bolsas em suas universidades para disputarem competições esportivas. Ao permitir a competição desleal entre indivíduos XY e indivíduos XX, o que estaria de fato ocorrendo é uma limitação do acesso dos indivíduos XX a essas bolsas de estudo. Mais que isso, poder-se-ia criar um “mercado” para atletas transgênero, tendo em vista a existência do benefício esportivo e financeiro, o que acabaria inclusive com a ideia de livre determinação de gênero defendida por uma parcela dos estudiosos. Essa liberdade acabaria no momento em que fatores externos, como benefícios financeiros, passassem a influenciar a tomada de decisão.

O desequilíbrio entre homens e mulheres é tão significativo que muitos dos recordes mundiais femininos não seriam suficientes sequer para que atletas passassem para as finais de competições masculinas no ensino médio. Há questões físicas que não podem ser superadas, mesmo que seja realizado controle hormonal.

Mas essas questões não se limitam ao esporte americano. No Brasil observamos há algum tempo a atuação da atleta Tiffany, que disputa a Superliga de Vôlei Feminino após disputar competições masculinas por alguns anos. Atleta medíocre entre os homens, Tiffany passou a ser dominante entre as mulheres, ainda que em uma modalidade coletiva o impacto de um único indivíduo seja diluído.

Outro exemplo claro do desequilíbrio são os frequentes treinos da seleção brasileira de futebol feminino contra times de base masculinos. Os treinos mostram uma realidade clara: não há como comparar homens e mulheres. Times sem tradição compostos muitas vezes por atletas de 13 ou 14 anos derrotam de forma muito fácil a seleção brasileira. Goleadas por mais de 5 gols de diferença em menos de 35 minutos de amistoso não são incomuns, o que mostra a descomunal diferença.

Mesmo a melhor jogadora de todos os tempos, Marta, não é capaz de se destacar contra equipes sub-15 de times como Bangu e Ceará, que não estão entre as melhores da categoria nos últimos campeonatos. Ou seja, a melhor de todos os tempos do futebol feminino não é melhor do que crianças medianas no futebol masculino.

Liberar esse tipo de competição, além de ferir uma das ideias basilares do esporte, a igualdade de armas para competir (par conditio), cria um potencial problema social, já que em ambientes de grandes desigualdades isso pode servir como um fator crítico para a autodeterminação de gênero. E, em ambientes como o dos Estados Unidos, pode representar uma barreira para o acesso à educação de muitas mulheres.

Ainda que em alguns casos seja necessário garantir os direitos individuas, cenários como esse podem trazer significativos danos coletivos. Por isso, antes de decisões como estas é preciso estudar de maneira muito mais aprofundada tudo o que envolve a questão, seja do ponto de vista competitivo, seja do ponto de vista social.

Em breve teremos competições femininas dominadas por atletas transgênero?

……….

[1] https://www.whitehouse.gov/briefing-room/presidential-actions/2021/01/20/executive-order-preventing-and-combating-discrimination-on-basis-of-gender-identity-or-sexual-orientation/

[2] https://www.hhs.gov/civil-rights/for-individuals/sex-discrimination/title-ix-education-amendments/index.html#:~:text=Title%20IX%20of%20the%20Education,activity%20receiving%20federal%20financial%20assistance.

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