Por Sebastian Acevedo Vasquez
“O estudo não se mede pelo número de páginas lidas em uma noite, nem pela quantidade de livros lidos em um semestre. Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las” extrato livro: A importância de ler e o processo de liberação.
Paulo Freire, filósofo pernambucano, considerado um dos grandes expoentes do pensamento crítico do mundo.
Venho de um pequeno país chamado Chile, que hoje resiste a um massacre institucional contra nossos povos originários, e uma negligente liderança política e sanitária a quem a história sem dúvida julgará, uma vez que as responsabilidades das pessoas envolvidas sejam descobertas.¹
A partir de 18 de outubro de 2019 (há dois anos), um povo insatisfeito com a falta de empatia e leitura do contexto por parte das autoridades, saiu às ruas para expressar seu desconforto. Milhões de pessoas em todo o Chile se reuniram para dizer ao mundo que não podemos continuar a viver em um planeta que baseia seu crescimento na lucratividade, na corrupção, na violação sistemática dos direitos humanos e na exploração dos recursos naturais de nosso continente.
Porém, o povo chileno, se caracteriza pela sua resiliência diante de situações adversas, enfrenta hoje um grande desafio de escrever a Carta Fundamental que será a lápide da Constituição de Pinochet, feita durante a ditadura, por um grupo de amigos, o cartel dos Chicago Boys, em um lugar a porta fechada e sem fair play nenhum.²
E o que isso tem a ver com o Direito Esportivo? Provavelmente nada à primeira vista. Porém, quando pensamos em uma sociedade ecomprometida³ com os conflitos típicos do contexto em que vivemos, visualizamos inúmeras iniciativas de que o esporte desde uma perspectiva crítica pode servir como ferramenta para o desenvolvimento sustentável.
Os benefícios do esporte, além da evidente melhora da saúde física e mental, podem ser percebidos nos efeitos gerados pela prática esportiva como fortalecimento do tecido social nos territórios.
Porque o esporte também é praticado fora das arenas. Também desenvolve um conjunto de competências sociais e cognitivas, permitindo o exercício da tomada de decisão em diferentes contextos, identificando oportunidades, desenvolvendo hábitos de vida saudáveis, ensinando a errar dentro das margens regulamentares estabelecidas, entre outros, inclusive é possível ensinar Direito.
Por isso, no Chile, temos a oportunidade de inserir a atividade física, o esporte e a recreação no catálogo de direitos fundamentais da nova Constituição, para que o Estado seja responsável pelo desenvolvimento integral de cada pessoa, como inúmeros tratados internacionais tratam o assunto.4
Gostaria de terminar com uma provocação que nos permite olhar o esporte numa perspectiva crítica que rompe com as margens estabelecidas e adapta-se a uma nova realidade.
A indústria do esporte, baseada em dinheiro, sucesso, luzes e desempenho, não é sustentável. Ele sofre de um problema estrutural. O dinheiro não desce.
Repensar o esporte na perspectiva dos Direitos Humanos, democratizando seu acesso e prática para qualquer pessoa em todas as fases de sua vida, representa uma oportunidade de se conectar com o que acontece além das 4 linhas, de levantar a visão e olhar ao nosso redor. É hora de colocar o direito a serviço do esporte, e não o contrário.
O jogo não acabou ainda, não temos medo, não adianta baixar os braços, olhos bem abertos para jogar sempre na posição correta, colaborar e transformar.
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Sebastian Acevedo Vasquez é co-fundador da Gondwana Futebol e Cultura.
1- https://www.ciperchile.cl/2021/10/15/a-dos-anos-del-estallido-los-escasos-avances-en-la-investigacion-al-presidente-pinera-por-eventuales-delitos-de-dd-hh/
2 – https://www.ciperchile.cl/2020/08/08/a-40-anos-del-plebiscito-de-pinochet/
3 – https://www.elagora.net/el-deporte-ecomprometido-debe-pasar-de-la-poesia-a-la-cancha/
4 – https://www.diarioconcepcion.cl/deportes/2021/10/11/la-ruta-para-que-el-deporte-sea-un-derecho-fundamental-en-la-constitucion.html