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A política do esporte (a)político

Por Alberto Goldenstein, Guilherme Charles e Luiza Castilho

Dentro de um contexto em que a mera exposição de opiniões, a depender da posição do interlocutor, gera acalorados debates acerca de determinado tema, tem-se, no ato de se posicionar, um manifesto político. Se a fala denota um posicionamento, a omissão sobre um mesmo assunto pode trazer igual repercussão, ao passo em que a sociedade contemporânea parece exigir de seus principais atores a escolha de um lado para todos os temas da vida cotidiana. Diante de tal premissa, pede-se sempre para que se tome partido. E se há partido, há política.

Não se busca aqui realizar a melhor definição de política. Seu conceito e suas aplicações ao longo das eras são mutáveis e possuem singular significado para cada viés de pesquisa que vem por analisar tal termo e o que o acompanha.

Não é novidade, em especial nesta coluna, que o esporte é e deve ser tratado como entretenimento. Mas preocupar-se apenas com a comercialização do produto e seu escopo de diversão é negar algo que está dentro de nós, a política, a qual faz parte do nosso cotidiano, de nossas vidas. A fusão dela com o esporte é natural e necessária, desde que não ultrapasse os limites da autonomia desportiva, que seja condizente com os regulamentos em vigência e que seja utilizado para o atingimento de propósitos vinculados à consagração de direitos fundamentais.

Destarte, necessário ressaltar que dentro do ambiente esportivo e das regras e normas que o disciplinam – desde o Comitê Olímpico Internacional até as Federações locais -, tem-se por premissa primordial a separação total entre esporte e posicionamento político. A precípua finalidade, ao se considerar os princípios basilares do esporte, tem por escopo desatrelar a atividade desportiva de eventuais conflitos que venham por interferir na imprevisibilidade dos resultados, no jogo limpo e na paridade de armas, ao permitir a integração de todos os povos por meio do esporte.

No entanto, a história é inequívoca ao demonstrar, diversas vezes, a apropriação de eventos e resultados esportivos como forma de enaltecer regimes e líderes políticos. Assim, como separar? Como manter o esporte, e principalmente os seus protagonistas, numa bolha alheia à realidade?

Daniel Geey, em sua obra Done Deal, revela que, ainda que os torcedores sejam peças cruciais para o sucesso do jogo, é de extrema importância tentar entender como a indústria realmente funciona.

É impossível fechar os olhos ao que ocorre ao seu redor. É inevitável, a partir de seu conhecimento de mundo e experiências vividas, não ter um entendimento próprio dos fenômenos que o cercam. Logo, se faz necessário indagar: o que é política para o esporte? Até onde vai o limite dos regulamentos esportivos no momento de restringir as manifestações por atletas, clubes e entidades de administração?

Há de se ter extremo cuidado no momento de se analisar o fenômeno ora abordado. Exemplifica-se: unânime é o entendimento de que a pauta de defesa de direitos fundamentais deve estar presente em todos os momentos, por todos os lados, em quaisquer situações. A luta contra o racismo, homofobia, igualdade de gêneros, dentre tantas outras, é a única via possível.

Não há certo ou errado. Há apenas um caminho e uma certeza: isto não é política. E não passa a ser caso, por alguma razão, eventuais agentes políticos venham a utilizar uma pauta contrária como plataforma para sua projeção. A polarização e associação da política aos partidos, instituições e nomes que hoje conhecemos, acaba por sistematizar toda e qualquer opinião em manifestações de cunho político-partidário. A apropriação contrária de discursos como estes não pode tornar política a defesa de direitos fundamentais.

Afastaria-se neste momento, então, o imaginário de que simples manifestações contrárias a certas ideologias, sendo elas majoritárias ou não, são necessariamente políticas no contexto esportivo. A Regra 50 da Carta Olímpica, os Estatutos e Códigos de Ética devem estar atentos à realidade e, ainda que, mantendo a finalidade sempre defendida, impedir qualquer censura que tolha aos integrantes da pirâmide esportiva o direito de se manifestarem em defesa de temas reconhecidamente justos, independentemente de cultura, religião ou regime político.

Este silogismo tornaria viável a apreciação desses regulamentos de maneira interpretativa, abrindo o espaço para o reconhecimento de pautas importantes, que possuem ligação com o caráter representativo do espírito olímpico.

Nesta toada, a política está presente em todos os gestos, política é movimento e posição, e não pode, jamais, estar dissociada da realidade que se vive, devendo ser respeitada e garantia, como um vetor da liberdade de expressão. De outra banda, e em total contrariedade à liberdade de manifestação política tem-se a apropriação do esporte para a manutenção de determinadas políticas, tal como já foi realizado em outros tempos, o que deve ser rechaçado, assim como manifestações políticas que nutram o desrespeito, a quebra da ética e as regras internacionais de direitos humanos e de liberdades individuais.

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