Na última rodada do Campeonato Brasileiro, quando o Flamengo assumiu a vice-liderança da competição ao golear o Athletico-PR por 5×0, o Maracanã recebeu mais de 62 mil espectadores. Entre eles, 22 moradores de rua do Rio de Janeiro, torcedores do clube carioca, que por meio de uma ação social intitulada “Nação no Maraca” puderam conhecer o lendário estádio do futebol brasileiro.
Em um movimento semelhante de acolhimento e aproximação do seu público, o Ceará promoveu uma ação de adesão social com moradores da comunidade do Canal Jardim América, vizinha à sede do time cearense. O clube já abraçou o apelido do “Time do Kanal” e agora lançou o plano de sócio-torcedor gratuito para quem mora na região.
Ações como essas, de políticas sociais, “aproximam e aumentam o sentimento de identidade do torcedor com o clube do coração. Quando pensamos em futebol, o consumidor é o torcedor e a marca é o próprio clube e o movimento não é exatamente diferenciar os produtos e serviços de semelhantes, mas, sim, fazer com que a marca esteja cada vez mais próxima do torcedor”, explica Ingrid Grandini, advogada especializada em propriedade intelectual e coordenadora de divisão da CNRD, da CBF.
A SAF, e o modelo empresarial no futebol, já é uma realidade no Brasil. E o novo momento exige reflexões. É o que a Brasil Expo 2022 propõe. Ela é a maior feira do futebol da América Latina e vai acontecer em São Paulo entre os dias 4 e 8 de setembro. A SAF e a política ESG estarão em debate.
Temas ESG (Environmental, Social e Governance) vêm pautando decisões estratégicas de grandes empresas e no esporte não pode ser diferente. Presente e futuro têm que ser sustentáveis, ou a terra não sobreviverá. Assim, políticas sociais, responsabilidade administrativa, além da questão ambiental, como energias renováveis, reciclagem de resíduos sólidos e uso consciente da água, são fatores fundamentais para qualquer tipo de gestão atualmente.
“O desporto, o futebol, sobretudo, é uma ferramenta de transformação social. É papel das instituições adotar políticas ESG para reeducar a nossa sociedade. Principalmente, nos temas de proteção ambiental, governança e transparência, para mais credibilidade. As próprias entidades esportivas têm trabalhado de forma contundente nessa questão”, avalia Eduardo Vargas, advogado especialista em direito desportivo.
Entre os aspectos sociais da política ESG está o combate ao racismo, homofobia, e sexismo. E o auditor do Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Maurício Corrêa da Veiga, destaca a “importância do STJD em relação a decisões mais contundentes contra atos ligados à intolerância praticados pela torcida, dirigentes ou jogadores”.
Com dois anos de atuação no STJD, Maurício Neves Fonseca se diz muito focado no artigo 243G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê punição para atos discriminatórios. E que, para casos de extrema gravidade, pode ter penas mais severas, previstas nos incisos 5, 7 e 11 do artigo 170, como perda de pontos, mando de campo e exclusão da competição.
“Não vejo outra alternativa, se não penalizar os clubes. Se existe torcida, é porque existe o clube. Não há como dissociar, e temos efetivamente como responsabilidade objetiva condenar os clubes e tentar de forma pedagógica encontrar caminhos para que não ocorram mais casos de preconceitos e discriminação dentro das arenas esportivas”, defende Maurício Neves Fonseca.
O advogado e jornalista Andrei Kampff entende que “o esporte não se separa do direito e o direito não se afasta da proteção de direitos humanos. A política ESG reforça esse compromisso. O mundo corporativo já levantou a bandeira e a política ESG se tornou a palavra da moda. O esporte também irá tomar esse caminho, por uma questão moral, legal e como forma de captação de recursos”. E acrescenta que “quem entender a importância da integridade, da conformidade, da governança dentro do esporte tornará seu negócio mais responsável institucionalmente e aberto ao crescimento”.
O futebol tem especificidades que destoam do restante do sistema mercadológico. Mas somando políticas ESG a práticas de gestão empresarial, é possível que a associação torne-se referência, com ainda mais valor à marca e aumento do seu patrimônio.
“Uma marca de maior valorização do mercado tende a aproximar outras marcas e motivá-las a se associarem ao clube de futebol de alguma forma – seja através de patrocínios ou licenciamentos para desenvolvimento dos mais variados produtos a serem consumidos pelos torcedores”, explica Ingrid Grandini.
Desta forma, cria-se um ciclo positivo de desenvolvimento de políticas ESG, com aproximação e identificação do torcedor, maior valorização da marca do clube, associação com outras marcas do mercado, desenvolvimento de novas ou reestruturação de políticas ESG já praticadas, e assim por diante.
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