Em três partidas comandando a equipe do Palmeiras o novo treinador Abel Ferreira foi expulso de campo pelo árbitro. Válido pelas quartas de final da Copa do Brasil, o jogo no Allianz Parque contra o Ceará fez o técnico reclamar acintosamente com a arbitragem após a marcação em campo de uma penalidade para a equipe adversária e o VAR sugerir revisão – no meu entendimento não ocorreu infração no lance, há contato de jogo, sem carga faltosa no adversário.
Abel Ferreira, após a expulsão, disse em entrevista: “Na igreja tenho que estar calado. Mas estou no futebol, não na igreja.” Não se pode ser hipócrita e dizer que em uma partida palavrões não são ditos, obviamente que são, às vezes ao vento ou durante uma discussão com o companheiro e até mesmo adversário. Porém, é necessário diferenciar o contexto nos quais ocorrem, quando é simplesmente um desabafo espontâneo, de quando a ofensa for diretamente dirigida à arbitragem e, nesse último caso, a expulsão no Brasil é praticamente certa – exemplos não faltam, lembra do Kleber ‘Gladiador’ com Raphael Claus?
A cultura brasileira pode ser nova para Abel, que irá se adaptar com o tempo, mas as expulsões em sua carreira não são novidades, na temporada 2018/2019 colecionou 3 expulsões pelo Braga e chegou a dizer em entrevista coletiva: “Injustiça é algo que me deixa revoltado. Quando eu erro, sou o primeiro a dizer que errei. Fui três vezes expulso esse ano, e muito bem expulso nas duas primeiras. Foram vergonhosas as multas que me deram, era para ser um valor muito maior.”
Conversei, de forma exclusiva para esse blog, com Duarte Gomes, ex árbitro FIFA de Portugal e atualmente comentarista e colunista, que disse: “Abel é um tipo extraordinário. Do melhor que conheço como homem e pessoa. De verdade. Mas é daqueles que em campo perde-se, vive o jogo intensamente. Mas tem bom caráter. Ele foi expulso muitas vezes sim, mas quase sempre pedia desculpa no fim e reconhecia o descontrole. É muito humilde e muito, muito boa pessoa mesmo. Tem que aprender a se controlar.” Duarte completa “Vai é ser expulso muitas vezes, como foi cá.”
Entender todo o contexto que envolve o futebol, seja na questão cultural, social, econômica, é fundamental para trabalhar com ele e colher bons frutos. Cada árbitro tem seu estilo de trabalho, sua personalidade, assim como cada treinador e se esses forem estudados antes do jogo por ambas as partes, pode-se evitar problemas durante a partida.
O treinador é um líder e ser exemplo é de total relevância, suas ações podem dizer mais que suas palavras: como exigir respeito se não o der; como pedir calma quando está dando pulos de raiva, gesticulando de forma ofensiva ou gritando; como passar controle emocional, segurança nas tomadas de decisões quando suas reações são divergentes disto?
Veja o relato da expulsão na súmula do jogo, as palavras proferidas por Abel Ferreira:
A Regra do Futebol cita alguns dos motivos pelos quais um membro da comissão técnica deve ser advertido verbalmente, com cartão amarelo ou com cartão vermelho e entre estes consta; “Entre as infrações que podem ser punidas com Expulsão-CV, embora não se limitem a essas, se incluem: Empregar linguagem ou gesto grosseiro, ofensivo ou injurioso.”
Que a regra foi cumprida não tenho dúvida e esse tipo de expulsão pode ser evitada, sempre pode.