Nesta semana peço permissão ao leitor da minha coluna para fazermos uma pausa sobre assuntos jurídicos. Durante o fim de semana passado, ao conversar com uma pessoa muito próxima a mim, senti que às vezes não noticiamos o suficiente a prática de outros esportes. Principalmente quando o status quo é masculino.
Em setembro deste ano, Ana Carrasco se tornou a primeira mulher a vencer um campeonato mundial de corrida de motos. A espanhola de 21 anos venceu o título do World Supersport 300 de forma emocionante e dramática: na última volta da última prova da temporada.
Natural de Múrcia, no sul da Espanha, Ana começou carreira profissional de piloto de motos aos 16 anos. Não recebeu nenhuma remuneração, apenas reembolso de suas despesas, durante os primeiros três anos. Em entrevistas, Ana conta que o primeiro ano foi realmente muito difícil. Ela encontrou isolamento, dado que os pilotos não estavam preparados para dividir o grid com uma mulher.
Porém, Ana é determinada e quebrou vários recordes e tabus. Em setembro de 2017, por exemplo, se tornou a primeira mulher a vencer uma corrida de motos em um campeonato mundial. A vitória em Portugal aconteceu nos segundos finais da prova, quando ela ultrapassou dois pilotos de uma só vez para liderar nos últimos 20 metros do circuito. Quanto a tabus, basta dizer que em 2014, na prova de Assen, Holanda, sob um sol escaldante antes da corrida, quem segurou o guarda-sol da Ana não foi uma grid girl, mas sim um grid boy (um rapaz musculoso e sem camisa).
Durante a temporada deste ano, Ana abriu uma vantagem de 22 pontos sobre o segundo colocado. Porém, uma mudança nos regulamentos da categoria afetou seu desempenho. Sua equipe teve que adicionar nada menos do que 40 quilos à sua moto, uma Kawasaki Ninja 400. Assim, sua vantagem de pontos foi aos poucos diminuindo, até que, na etapa final da temporada, em Magny-Cours, França, sua vantagem era de apenas 10 pontos. Para piorar, ela teve que largar da 25ª posição. Durante a prova toda ela lutou, e conseguiu chegar à 13ª posição. Porém, seu rival ao título, Mika Pérez, liderava a corrida. Se ele vencesse a prova, Ana teria que chegar na décima posição para garantir o título. Enquanto Ana manteve bravamente sua posição até o fim, Pérez não conseguiu chegar na primeira colocação. Ana se tornou campeã mundial por um ponto. A primeira mulher na história a vencer um campeonato mundial de corrida de motos.
Ana é ambiciosa. Estudante de direito, ela quer se manter no topo da categoria na temporada que vem e posteriormente migrar para a MotoGP ou Superbikes.
Parabéns à Ana! Que seu exemplo sirva de inspiração a muitas outras praticantes de esporte.