No mundo do esporte, especialmente no futebol, o acompanhamento psicológico tem ganhado cada vez mais espaço e relevância nos últimos anos. Em um ambiente marcado por alta exposição, intensa pressão por resultados, expectativas elevadas e desafios emocionais diários, a psicologia esportiva vem se consolidando como uma ferramenta indispensável para o equilíbrio mental e o aprimoramento do desempenho dos atletas.
Esse acompanhamento não apenas auxilia na gestão do estresse e da ansiedade, mas também promove a resiliência – a capacidade de enfrentar e superar adversidades –, além de fortalecer a autoconfiança e desenvolver habilidades essenciais para lidar com os altos e baixos da carreira esportiva. Dessa forma, contribui para a formação de atletas mais completos e preparados para os desafios do futebol moderno.
No entanto, a saúde mental ainda é um tema delicado e, muitas vezes, negligenciado por clubes brasileiros. Um levantamento realizado pelo ‘ge’ no ano passado revelou que seis dos 20 times que disputavam a Série A do Campeonato Brasileiro não possuíam um departamento de psicologia.
Para João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício, a ausência de psicólogos nos clubes pode ser explicada pelo preconceito e pela desinformação sobre a área.
“No Brasil, ainda há muito preconceito devido à desinformação ou à má informação sobre a psicologia do esporte. Eu diria que, no país, a própria psicologia sofre um preconceito muito grande enquanto ciência. Quando se trata da parte mental, as pessoas têm medo, se escondem, negam… Existe um preconceito enorme”, disse o especialista em entrevista ao site ‘Trivela’.
Em entrevista recente ao Lei em Campo, Cozac reforçou que o aspecto mental e emocional é a base de um atleta.
“No triângulo da preparação esportiva, temos a parte física de um lado, a parte técnica do outro e, na base dessa pirâmide, a parte mental e emocional. Tanto nas categorias de base quanto no profissional, é preciso fortalecer os atletas para que consigam encarar as pressões da carreira, a expectativa da mídia, da torcida e a rotina intensa de jogos, treinos e viagens”, destacou.
Além do impacto direto no desempenho dos jogadores, a saúde mental dos atletas também é uma questão de responsabilidade jurídica dos clubes. O advogado Elthon Costa, especialista em direito desportivo, explica que os times têm a obrigação legal de oferecer um ambiente de trabalho seguro, o que inclui o suporte psicológico.
“Dentre os direitos fundamentais do trabalhador está, indiscutivelmente, o de um ambiente de trabalho seguro e adequado, capaz de salvaguardar, de forma eficaz, sua saúde e integridade. Esse é um dever do Estado e de toda a sociedade, mas, sobretudo, do empregador, a quem compete proteger e preservar o meio ambiente de trabalho, implementando condições adequadas de saúde, higiene e segurança para assegurar ao empregado sua dignidade plena, em consonância com o ordenamento constitucional”, afirma.
Segundo ele, a legislação trabalhista e previdenciária prevê a responsabilidade do empregador na garantia de um ambiente de trabalho saudável.
“Isso inclui o dever de proteger a saúde mental dos empregados. O clube, como empregador, deve fiscalizar tanto o ambiente quanto as condições de trabalho dos atletas, sob pena de ser responsabilizado e até mesmo obrigado a indenizar o empregado. Assim, considerando que a responsabilidade civil pelo ambiente de trabalho recai sobre o empregador, algumas providências essenciais devem ser tomadas, como o desenvolvimento de estratégias de gestão de pessoas, a criação de políticas de promoção à saúde dos funcionários e a realização de programas de conscientização e treinamentos periódicos”, acrescenta Elthon.
Felizmente, alguns clubes brasileiros já adotam essa prática desde as categorias de base. Um exemplo é o Ibrachina FC, fundado em 2020 como parte de um projeto social do Instituto Ibrachina. O clube, que se tornou um dos principais nomes das categorias de base do futebol paulista, oferece acompanhamento psicológico contínuo para seus jogadores das categorias sub-15, sub-17 e sub-20.
“A saúde mental é tão importante quanto o condicionamento físico e técnico dos jogadores. Nossos atletas são acompanhados diariamente por um profissional especializado, que está sempre à disposição quando necessário. Sabemos que a pressão é enorme para esses jovens, e por isso é essencial oferecer todo esse suporte”, explica Henrique Law, presidente do Ibrachina FC.
Nos últimos meses, atletas de elite, como o atacante Richarlison, e ex-jogadores, como Ronaldo Fenômeno, destacaram publicamente a importância do trabalho dos psicólogos em suas vidas e carreiras.
Em entrevista à ESPN Brasil, Richarlison revelou como o suporte psicológico foi essencial para sua saúde mental e chegou a salvar sua vida.
“A psicóloga, querendo ou não, me salvou. Salvou minha vida porque… Eu só pensava besteira… No Google, eu só pesquisava coisas ruins, só queria ver coisa ruim sobre morte, sei lá… Hoje eu posso dizer: procure um psicólogo. Se você está precisando, procure um. É bom se abrir, conversar com alguém. A professora (psicóloga) veio me agradecer por levar esse tema para o futebol e para o mundo fora de campo também, porque é muito importante e, querendo ou não, salva vidas”, relatou o jogador do Tottenham.
Richarlison também admitiu que, no passado, ele mesmo tinha preconceito em relação ao trabalho psicológico.
“Eu tinha esse preconceito antes. Achava que era frescura, que eu estava doido. Na minha família, algumas pessoas acham que quem vai ao psicólogo é maluco. Mas, depois que descobri, achei maravilhoso. Foi a melhor descoberta da minha vida”, concluiu.
Crédito imagem: Pinterest
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