Na noite de sua traição, Jesus Cristo, pressentindo o mal que teria que suportar, subiu ao monte das oliveiras para rezar e disse: ‘Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres’.(Novo testamento, Matheus 26:39)
Apesar de mostrar seu profundo desconforto com o sofrimento que se aproximava, Jesussubmeteu-se integralmente aos desígnios de Deus.
Não posso exigir de Cristiano Ronaldo nem de ninguém tamanha resignação, mas ele poderia pelo menos se submeter aos contratos que celebrou para jogar a Euro 2020.
Sem sujeitar-se ao protocolo do torneio, CR7 afastou duas garrafas de Coca-Cola que se encontravam diante dele na entrevista coletiva, dando a entender que o bom mesmo era beber água.
Outros jogadores tem se afastado desse cálicede igual forma. Na Euro, o francês Pogba afastou da mesa de entrevistas uma garrafa de cerveja da Heineken. Neymar há pouco tempo fez algo semelhante, cobrindo a marca da Nike que estampava o uniforme da Seleção.
Esses atletas não pararam para pensar que, namedida em que afastam de sua frente os produtos dos patrocinadores, vão também afastando o interesse destas marcas e que são, no final das contas, aquelas quem pagam seus cachês, prêmios e salários.
Muitos jogadores parecem não saber que,quando aceitam atuar por suas seleções, estão com elas celebrando um verdadeiro contrato eautorizando que sua imagem seja utilizada enquanto estiverem à disposição dessas entidades.
Eu igualmente não bebo Coca-Cola e muito menos cerveja, mas sei que devo beber da fonte das obrigações por excelência que é o contrato. Reza o direito obrigacional que, quem celebra qualquer tipo de ajuste, assume certos deveres implícitos dele decorrentes.
Dentre esses encargos estão os deveres de cooperação e lealdade, que integram o princípio da boa-fé objetiva. Pelo dever de cooperação, compete às partes colaborar entre si para que juntos possam alcançar as expectativas contratuais de ambos.
Por sua vez, o dever anexo de proteção exige dos contratantes uma atuação para preservar a integridade do patrimônio da outra parte.
Dá para perceber que Cristiano Ronaldo nãocooperou nem foi leal com o patrocinador da competição, já que fez a Coca-Cola perder a bagatela de quatro bilhões de dólares em valor de mercado num único dia.
Se ele acha que o refrigerante faz mal à saúde,poderia, por exemplo, se manifestar nas redes sociais. Dentro da Euro, porém, ele é um preposto da federação de seu país, devendo seguir as regrascom as quais concordou ao aceitar competir. Aliás,ele não estará fazendo favor algum, já que está sendo muito bem remunerado para estar ali.
A propósito, se CR7 sabia que a Coca-Cola patrocinaria o torneio, ele tinha o todo o direito deboicotá-lo. Porque não o fez? Essa sim, seria a maneira correta de afastar o cálice: Não se vincular à competição e, portanto, não assumir os deveres contratuais dela decorrentes.
Esses craques deveriam dar o exemplo e mudar sua postura da água pro vinho, mas é provável que se considerem acima do bem e do mal. O pior é quea culpa é nossa, por sempre passarmos a mão na cabeça e tratá-los como se fossem verdadeirosdeuses.
É possível que pensem como John Lennon, quechegou a afirmar que os Beatles eram “mais populares que Jesus”. Do jeito que as coisas estão hoje em dia, podem até ser mesmo. E também são muito mais desobedientes do que o homem de Nazaré…
Talvez seja por causa desse endeusamento que é tão difícil fazer com que os grandes craques honrem seus compromissos, ou que sejam punidos,quando decidem jogar tudo por água abaixo.
Portanto, se a justiça dos homens não consegue resolver este problema, resta apenas apelarmos ao todo-poderoso e pedir fervorosamente:
PAI, afasta de nós tanta falta de profissionalismo…
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