A saúde mental no esporte é um tema que passou a ser bastante discutido nos últimos anos, inclusive aqui no Lei em Campo. Em meio a alta exposição – cada vez maior – à qual os atletas têm sido submetidos, o acompanhamento psicológico se tornou necessário. No entanto, o assunto ainda é um tabu no futebol brasileiro.
Um levantamento feito pelo site ‘Trivela’ mostrou que das 20 equipes que disputam a elite do futebol brasileiro (Série A), pouco mais da metade têm psicólogos que acompanham a equipe profissional, são eles: Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Coritiba, Fluminense, Fortaleza, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo e Vasco.
Para o presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício, João Ricardo Cozac, a ausência de psicólogos em clubes brasileiros pode ser explicada com o preconceito e a desinformação sobre a área.
“No Brasil ainda tem muito preconceito por conta da desinformação ou da má informação que se tem sobre a psicologia do esporte. Eu diria que, no Brasil, a própria psicologia sofre um preconceito muito grande enquanto ciência. Quando a questão é associada à parte mental, as pessoas têm muito medo, elas se escondem, elas negam, existe um preconceito muito grande”, disse, em entrevista ao ‘Trivela’.
Em uma matéria produzida pelo Lei em Campo recentemente, Cozac reforçou que a parte mental e emocional é a base de um atleta.
“No triângulo da preparação esportiva, de um lado temos a parte física, do outro a parte técnica, e a base dessa pirâmide é a parte mental e emocional. Tanto nas categorias de base como no profissional, é preciso fortalecer os atletas para encarar as pressões da carreira profissional, a expectativa da mídia, da torcida, para poder dar conta de uma rotina bastante cansativa de jogos, treinos e viagens”, destacou o especialista.
O advogado Elthon Costa, especialista em direito desportivo, destacou a responsabilidade jurídica dos clubes em oferecer um tratamento psicológico aos seus atletas.
“Dentre os direitos fundamentais de dignidade do trabalhador insere-se, indiscutivelmente, o de um ambiente de trabalho seguro e adequado, capaz de salvaguardar, de forma eficaz, sua saúde e segurança. Esse é um dever do Estado e de toda sociedade, mas sobretudo do empregador, a quem compete proteger e preservar o meio ambiente de trabalho, com a implementação de adequadas condições de saúde, higiene e segurança que possam, concretamente, assegurar ao empregado sua dignidade plena, em consonância com o desiderato constitucional”, declarou.
Segundo o advogado, a legislação trabalhista e previdenciária prevê a responsabilidade do empregador em garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável.
“Isso inclui o dever de proteger a saúde mental dos empregados. O clube, como empregador, tem a responsabilidade de fiscalizar tanto o ambiente como as condições de trabalho em que o atleta exerce o seu labor, sob pena de ser obrigado a indenizar o empregado. Assim, considerando que a responsabilidade civil pelo ambiente de trabalho é do empregador, há providências essenciais a serem tomadas, mas não se limitando a estas, como o desenvolvimento de estratégias para gestão de pessoas, a criação de políticas para promover a saúde do empregado, além de programas de conscientização e treinamentos periódicos”, acrescentou.
Em alguns clubes, o trabalho de acompanhamento psicológico começa desde cedo, ainda nas categorias de base. Esse é o caso do Ibrachina FC, por exemplo. Criado em 2020, a partir de um projeto social do instituto que leva o mesmo nome, o clube coloca profissionais da área para conversar semanalmente com os jovens atletas das categorias sub-15, sub-17 e sub-20.
Segundo a psicóloga Ibrachina FC, Carol Reis, quanto mais cedo começar o acompanhamento psicológico com os atletas melhor.
“Começar o acompanhamento psicológico o mais cedo possível no futebol é fundamental para o desenvolvimento mental, emocional e pessoal dos jogadores, ajudando-os a enfrentar os desafios do esporte de forma saudável e a alcançar seu potencial máximo. No Ibrachina tenho encontros semanais com todas as categorias, construímos juntos estratégias para lidar com os desafios do esporte de forma saudável, trabalhamos estratégias de autogerenciamento emocional, resolução de problemas, desenvolvimento de habilidades psicológicas”, diz a profissional.
No começo deste ano, o goleiro Ederson, do Manchester City e Seleção Brasileira, concedeu uma entrevista para a ‘ESPN Brasil’ em que deixou claro a importância do acompanhamento psicológico na carreira dos jogadores.
“Controles que eu não tinha antes e eu vejo que hoje consigo controlar muito bem. Ainda mais para atletas que vivem momentos de pressão. Quando ele acerta, vai no ápice da alegria. Mas, quando erra um passe, falha num gol, recebe muitas críticas e muitos não sabem lidar. É importante a maioria dos jogadores ter um acompanhamento”, disse o jogador.
“Acho super importante e super necessário no futebol (o acompanhamento psicológico). Cada um encara de uma forma. Eu, durante a competição, não deixei de fazer minhas consultas. Sempre me preparei mentalmente e me preparo para tudo, um possível erro, para vitória, para derrota, para empate, um grande jogo. Consigo absorver melhor as coisas hoje. É um fator que me ajuda muito, vejo uma diferença absurda, no meu comportamento e tudo”, acrescentou.
Crédito imagem: Sinprfpr/Divulgação
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