Por Ivana Negrão e Thiago Braga
Quando se aposentou dos gramados em 1974, Pelé deixou uma legião de admiradores órfãos. Para os torcedores da época, Pelé era imortal. Sem saber, porém, o camisa 10 partiria para desbravar um mercado até então inóspito para o futebol.
No ano seguinte, Pelé assinava com o New York Cosmos, que ficaria conhecido mundo afora, como o time das celebridades (além de Pelé, Franz Beckenbauer e Carlos Alberto Torres, entre outros, vestiram o branco e verde do time nova-iorquino).
“O Pelé foi um dos um dos precursores do projeto de futebol nos Estados Unidos. Tínhamos ali um jogador tentando desenvolver o maior esporte do mundo no maior mercado consumidor do mundo”, analisa o advogado Marcos Motta, especialista em direito esportivo e na junção de esporte com entretenimento, o “Sportstainment”.
A média de público do Cosmos saltou de 3.578 pessoas por jogo em 1974 para 34.142, 1977. Para Diogo Kotscho, vice-presidente de comunicação do Orlando City, Pelé plantou o que seria a transformação do país para um player importante no mercado e nas competições.
“Foi o primeiro indício de que poderia dar certo, e o fato de não ter tido continuidade não foi culpa dele, foi de quem estava gerindo isso. Acho que aquilo deixou a semente, que veio a voltar 20 anos depois. A imagem que existia um negócio ali que poderia dar certo ficou. Ali o americano soube o que era a força do futebol. Mas não acho que eles tenham consciência disso e se tiver não exaltam”, afirma Kotscho, para quem a aposentadoria de pelé acelerou o fim da NASL (North American Soccer League, Liga Norte-Americana de Futebol), em 1984. Ela foi retomada em 2011, mas está em hiato desde 2017.
Fato é que de lá para cá, os Estados Unidos passaram a aparecer com cada vez mais frequência. O país voltaria a disputar a Copa do Mundo após 40 anos, em 1990, apenas seis anos depois do fim da NASL.
Em 1994 os Estados Unidos entraram definitivamente no mercado global de futebol ao serem a sede do Mundial. E no futebol feminino, a seleção americana enfileirou taças mundiais e medalhas olímpicas. Em 1996, seria criada a MLS (Major League Soccer), colocando o país de vez no mapa.
“Mas foi nos últimos anos que o futebol se firmou nos Estados Unidos. Principalmente com o amadurecimento da MLS e principalmente com a expansão da internet. A expansão da internet permitiu ao jovem americano sair um pouco da bolha e ver além de suas fronteiras. Eles descobriram que os eua não eram o único país do mundo. E para se integrar a outros jovens o futebol se tornou um ótimo caminho. Não à toa o futebol é, hoje, o esporte mais praticado entre os adolescentes”, diz Fernando Fleury, CEO da agência de marketing esportivo Armatore.
Para Motta, Pelé foi o primeiro nome global que soube usar a junção das duas indústrias em benefício próprio. A soma dos dois fatores gerou ao Rei um salário anual de U$S 2,8 milhões (algo como U$S 14 milhões nos dias de hoje, já corrigidos pela inflação). Além disso, Pelé se aproveitou do fato de o Cosmos pertencer a Warner Communications e assinou um contrato inédito até então. A empresa passou a fazer uso da marca Pelé para publicidade e relações públicas, que incluía todo tipo de promoção e merchandising, o que catapultou os ganhos do maior goleador da história do futebol mundial, com 1.283 gols anotados.
Resultado disso foi ganhar as telas do cinema ao estrelar o filme “Fuga para a Vitória”, com Sylvester Stallone e Michael Caine.
“Não vou tentar disfarçar. Um grande motivo para minha mudança de pensamento foi aquela terrível visita do meu contador no final de 1974. Eu devia milhões, estava determinado a pagar minhas dívidas e eu sabia que jogar futebol era de longe a melhor coisas que eu podia fazer. Os valores que Clive Toye (vice-presidente do Cosmos) havia mencionando correspondiam a um dos contratos mais lucrativos da história de qualquer esporte”, relatou Pelé, em sua autobiografia, “Pelé: A importância do futebol”, publicada em 2013.
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