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Apostas, corrupção esportiva e o novo código de conduta dos atletas do UFC

Durante o UFC Vegas 64, no último sábado (05/11), o lutador Darrick Minner caiu para seu oponente, o chinês Shayilan Nuerdanbieke, por nocaute técnico no primeiro round.

Nas horas que antecederam a luta, as casas de apostas assistiram a uma enchente de dinheiro.em Nuerdanbieke para vencer em menos de 2,5 rounds e até para vencer por nocaute ainda no primeiro giro.

O chinês passou de favorito -220 para um favorito -420. Nuerdanbieke acabou vencendo depois que Minner aparentemente machucou seu joelho pouco mais de um minuto do início da luta.

Isso foi suspeito o suficiente para que a empresa de apostas em integridade, U.S. Integrity, abrisse uma investigação sobre o incidente e informasse os apostadores sobre a situação.

Matthew Holt, Presidente da US Integrity, assim disse à ESPN:

“Nosso objetivo, como sempre, é notificar a indústria de qualquer atividade potencialmente nefasta, anormal ou suspeita o mais rápido possível, para que eles possam agir o mais rápido possível”.

Nos EUA,  a Lei de Proteção ao Esporte Profissional e Amador de 1992, também conhecida como PASPA ou Lei Bradley, é uma lei já revogada judicialmente que tinha por objetivo definir o status legal das apostas esportivas em todos os Estados Unidos. Esta lei efetivamente proibia as apostas esportivas em todo o país, excluindo alguns estados.

Em uma decisão de maio de 2018 em Murphy v. National Collegiate Athletic Association, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que a PASPA entrava em conflito com a Décima Emenda, o que terminou por extinguir tal lei.

Enquanto parece que a notícia do joelho lesionado de Minner vazou de seu camp de treino nas horas que antecederam o combate, há a complicação adicional de que o atleta é treinado por James Krause.

Krause, lutador do UFC e técnico de atletas da promoção, dirige um serviço de apostas, completo com um podcast e uma conta no Discord para membros pagantes. No passado, ele disse que ganhava mais dinheiro apostando no UFC do que alguma vez fez lutando pela organização.

Em outubro de 2022, o UFC enviou um memorando aos seus lutadores destacando uma mudança em sua política de conduta que proíbe os atletas, suas famílias, treinadores e membros da equipe de participar de apostas esportivas envolvendo lutas do UFC.

O Diretor Comercial do UFC, Hunter Campbell, escreveu no memorando que a organização recebeu orientações dos órgãos reguladores de que deveriam proibir seus atletas de apostar em lutas. Campbell assim se manifestou à época:

“A fim de ajudar nossos atletas a compreender suas obrigações sob as leis da maioria dos estados nos quais as apostas esportivas são permitidas, e em apoio a estas medidas de integridade, UFC incorporou uma proibição de apostas na Política de Conduta de Atletas do UFC, proibindo expressamente os atletas de apostar em qualquer luta do UFC. Como o esporte cresceu em todo o país, temos estado em contato com a esmagadora maioria dos órgãos reguladores. Ficou claro para nós que uma grande porcentagem dos órgãos reguladores proíbe o que eles considerariam apostas internas com pessoas que são participantes ativos nos esportes no quais eles apostam”.

A nova atualização do UFC permanece em conformidade com as regulamentações dos estados que proíbem os atletas de apostar em seus esportes. Há uma área um pouco cinzenta quando se trata de atletas contratados como lutadores de MMA em comparação com atletas de esportes coletivos.

O código de conduta do UFC foi introduzido em 2013, servindo como uma ferramenta de compliance para evitar má-conduta, significando que os lutadores agora conscientes de que a punição virá com o mau comportamento.

O termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com a regra, cumprir instruções ou com determinados procedimentos. Neste sentido, o termo compliance pode ser entendido como conformidade com o cumprimento de normas, regras e regulamentos aplicáveis a um determinado setor econômico[1].

Se um atleta violar o código de conduta, as penalidades incluem o seguinte:

– Penalidades contratuais

– Inelegibilidade para pagamentos por desempenho

– Afastamento da luta ou promoção

Os lutadores podem manter as atuais parcerias de apostas esportivas e continuar buscando novas, de acordo com o memorando. A organização também permitirá que os lutadores com acordos de apostas esportivas continuem a dar palpites sobre resultados de lutas.

A polêmica sobre “resultados combinados” (match fixing) e corrupção esportiva não é nova no MMA. O ex-lutador do UFC e coreano Tae Hyun Bang foi condenado a 10 meses[2] pelo Tribunal Distrital Central de Seul por levar US$ 92.610  para “entregar” uma luta contra Leo Kuntz no UFC Fight Night 79 em Seul, Coréia do Sul, em novembro de 2015, de acordo com o Korea Herald. Três pessoas que deram o dinheiro a Bang também levaram penas de prisão.

Bang supostamente concordou em perder os dois primeiros rounds – e a luta – para Kuntz. Mas o lutador aparentemente mudou de idéia. Bang acabou ganhando por decisão dividida. Sua mudança de pensamento o veio devido a um aviso de oficiais do UFC sobre match fixing após as linhas de aposta na luta terem mudado drasticamente no decorrer do evento.

Em relação ao caso Minner x Nuerdanbieke , até agora não há provas claras de que Krause tenha apostado em Minner, seu atleta, para perder ou dito a outros que o fizessem. Mas, quando há uma linha de apostas movendo-se assim em uma luta em que um treinador está profundamente envolvido em apostas esportivas, a desconfiança só tende a aumentar.

Quanto à mudança drástica de política feito pelo UFC, se os combatentes do evento fossem empregados, estes itens mandatados seriam compreensíveis como uma condição de emprego. Entretanto, os atletas do UFC são contratados independentes e, como tal, deveriam estar isentos de muitas coisas que o UFC lhes impõe. Infelizmente, o UFC atropelou os lutadores devido à sua alavancagem e domínio no mercado como a maior promoção de MMA do mundo.

Embora seja provavelmente a regra apropriada a ser feita, dizer aos lutadores que eles não podem mais apostar em lutas também é apenas um dos muitos exemplos de que o UFC ultrapassou seus limites. É também por isso que um grupo de seus “contratados independentes” está atualmente levando a luta à corte[3], argumentando que o UFC tem abusado de seu poder há muito tempo.

Crédito imagem: Reprodução/Instagram

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[1] VEIGA, Maurício de Figueiredo Corrêa da; PINHEIRO, Luciano Andrade (org.). Compliance no desporto. 1ª. ed. Brasília: Nobilitar, 2022.

[2] CRUZ, Jason J. Mixed martial arts and the law: Disputes, Suits and LegaL Issues. 1ª. ed. North Carolina: McFarland & Company, Inc., Publishers, 2020. p. 187

[3] COSTA, Elthon José Gusmão da. Aspectos jurídicos do desporto MMA. 1ª. ed. São Paulo: Mizuno, 2022. p. 109

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