A Liga Francesa de Futebol, Ligue 1, vem buscando valorizar seu campeonato e, para isso, promete novidades em breve. Para isso, já criou 4 grupos de trabalho, com o objetivo de discutir pontos específicos. Esses grupos vão analisar a valorização do produto, a arbitragem, as ferramentas regulatórias e a governança.
No papel tudo parece muito bonito, mas nem sempre funciona. Aqui vou destacar dois pontos que se conversam e já foram implementados em outros lugares: a valorização do produto e as ferramentas regulatórias.
Desde a década de 1940 se discute o impacto do equilíbrio das competições em seu valor, mas o futebol ainda não encontrou formas de fomentar esse equilíbrio, algo que é muito mais presente nas ligas americanas. E é pensando em maximizar esse estudo que a Ligue 1 criou o grupo de trabalho focado nas ferramentas regulatórias.
Quando eu comecei a escrever esse texto, pensava em focar nos exemplos positivos que as ligas americanas traziam e que poderiam ser incorporados pela Ligue 1. No entanto, algumas notícias que foram divulgadas esta semana envolvendo a relação entre o atleta Ben Simmons e a franquia do Philadelphia 76ers, da NBA, mostram que talvez o caminho seja focar naquilo que não vai bem.
Desde a criação do teto salarial pela NBA, uma série de exceções à regra foram incorporadas ao acordo coletivo que rege a relação entre equipes e atletas. As regras de teto salarial, no entanto, não são rígidas como as da NFL, permitindo que muitas equipes ultrapassem o limite fixado, mas este está longe de ser o problema.
Desde o final da temporada passada, Simmons e os 76ers estão em conflito e uma troca é iminente. No entanto, nem tudo é tão simples quanto parece. Na última semana Simmons se recusou a cumprir seu contrato e afirmou que não se apresentaria aos treinos da equipe. Isso ligou um sinal de alerta não apenas nos 76ers, mas em toda a liga.
Pedidos de trocas são comuns na liga quando há desalinhamento entre o que pensam atletas e diretores ou treinadores, e fazem parte de um relacionamento profissional saudável. No entanto, os pedidos passaram nos últimos anos a ser imposições de trocas. Isso se dá porque o contrato dos atletas que se recusam a atuar não deixam de ocupar espaço no teto salarial das equipes, e um contrato máximo ocupa cerca de 35% do espaço disponível na folha. Ou seja, além de perder um atleta de grande potencial a equipe fica impedida de se reforçar, perdendo grande parte de sua força competitiva.
Percebendo isso, os agentes de jogadores têm utilizado de forma frequente a estratégia de renovar os contratos com as equipes nas quais os atletas estão e, em seguida, forçar a saída. Movimento semelhante aconteceu com James Harden no último ano.
Esse tipo de movimentação faz com que o limite salarial, que deveria servir para equilibrar as forças na liga, tenha efeito contrário. Quando um atleta força a saída de sua equipe, seu valor de mercado cai consideravelmente e, com isso, há um desbalanceamento nas negociações. Em geral o que acontece é que uma equipe que já era forte se torna ainda mais forte, e uma equipe que era fraca se torna ainda mais fraca.
E as multas aplicadas pela liga se mostram cada dia mais insignificantes como forma de coibir qualquer tipo de conduta proibida. Um exemplo claro foi a multa aplicada pela NBA ao dono do Golden State Warriors por ter comentado a situação envolvendo Simmons e Philadelphia. Joe Lacob, que no último ano gastou mais de 170 milhões de dólares só em taxas por ultrapassar o teto salarial, foi multado em 50 mil dólares por violar as regras.
A mesma realidade de multas irrisórias é vivida por atletas e equipes, o que favorece o descumprimento das regras e prejudica a liga como um todo.
Não ter regras é muitas vezes menos prejudicial do que ter regras que não são cumpridas. E a Ligue 1 precisa levar isso em consideração antes de fazer qualquer mudança.