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As lágrimas amargas de Neymar Jr.

“As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” (1972) é um filme do cineasta alemão R.W. Fassbinder, que aborda a vida de Petra, famosa estilista viúva extremamente arrogante e que se apaixona por Karin, uma moça oportunista que vê em Petra a chance de subir na vida. O Amor não correspondido faz com que a toda poderosa Petra sofra muito e a obriga a ver a vida com outros olhos.

As lágrimas derramadas por Neymar na derrota para o Bayern na final da Liga dos campeões da Europa, parecem mostrar o quanto ele desejava a taça levantada pelo goleiro alemão Neuer. Chegou até a acariciá-la no final da partida. Entretanto, esse amor não foi correspondido e ele acabou chorando amargamente aos olhos de todo o mundo.

Para consolá-lo, eu recomendaria que ele seguisse as palavras de Jesus. Não necessariamente os ensinamentos do Cristo. Bastaria pelo menos atentar para o que disse outro Jesus: Jorge Jesus, treinador português, que ao ser perguntado sobre Neymar numa entrevista, disse:

“Os prazeres que a sociedade dá a jovens de 20, 21 e 22 anos, um jogador de futebol não pode ter. Neymar é um fora de série. Ele não chegou ao topo como Cristiano Ronaldo e Messi, porque os dois olham para a carreira de forma completamente diferente do Neymar. Eles põem sempre à frente o futebol. É a paixão deles. Nada mais está à frente. O Neymar não. Ele tem outros prazeres que não o futebol.”

À distância, parece que Neymar possui uma vida pessoal bastante agitada, com direito a muitas festas e divertimentos mil. Boa parte de seu tempo fora do campo também é dedicado à exploração de sua imagem, na realização de comerciais, na participação em programas de TV e etc.

Ocorre que ele é sobretudo um atleta e atletas precisam focar na sua atividade principal. Esporte de alto rendimento, mais do que em qualquer outra profissão, exige que seus praticantes estejam permanentemente concentrados em seus objetivos, a fim de que possam alcançá-los. Não por acaso, o período em que os jogadores se encontram reunidos antes das partidas chama-se “Concentração”…

Com múltiplas atividades fora de campo, o jogador se dispersa e seu rendimento sempre fica aquém do que poderia atingir, mesmo que esteja em boas condições físicas. É isso o que Jesus quis dizer e parece ter razão. Neymar já tem 28 anos e com o talento que possui, já deveria estar no panteão dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos.

Jesus trouxe à tona um tema bastante delicado, que vem a ser o comportamento que os jogadores adotam fora de campo, possuindo este tema relevantes implicações jurídicas. Uma delas é o exercício do direito à liberdade, mais propriamente a garantia à vida privada e à intimidade, que são prerrogativas universalmente reconhecidos.

Neste sentido, cabe a indagação: poderia um atleta fazer o que bem entenda em sua vida pessoal, ainda que sua conduta afete o seu rendimento dentro de campo, trazendo prejuízos para o seu empregador?

Esta questão lida igualmente com o limite espacial e temporal do contrato de trabalho de um jogador de futebol. A pergunta poderia ser então refeita nos seguintes termos: teria um clube o direito de cobrar um comportamento do atleta fora do local de trabalho e nas horas em que o jogador não esteja prestando seus serviços?

Embora seja impossível estabelecer com precisão uma linha divisória que separe a liberdade individual do jogador, do poder disciplinar do empregador, é certo que paria sobre todos os contratos o princípio da  boa-fé objetiva. Este princípio estabelece padrões de comportamento exigíveis de quem quer que concretize um negócio jurídico, ainda que não estejam estipulados por escrito.

Dentre esses padrões está o dever de cooperação – dever este que se mantém mesmo na vida particular –, o qual demanda que cada contratante faça o máximo para permitir com que a outra parte consiga o melhor rendimento com o contrato celebrado.

Portanto, essa cooperação precisa ser feita dentro e fora do campo, pois, como vimos, não basta apenas treinar e jogar. Aliás, se mudar seu comportamento, Neymar estará ajudando não apenas o seu clube, mas a si mesmo.

Petra também mudou e se transformou numa pessoa melhor. Contudo, foi preciso sofrer e chorar muito para aprender. Infelizmente a maioria só amadurece depois de passar por dores, perdas ou decepções.

Que as lágrimas amargas tenham servido de aprendizado, para que Neymar não as tenha de derramar novamente no futuro.

Principalmente em 2022.

Quando talvez será sua última chance de verter doces lágrimas se for campeão do mundo.

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