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Astros do esporte não vacinados perdem patrocínios e ficam de fora de competições

Nas últimas semanas, o sérvio Novak Djokovic tomou contas dos noticiários esportivos de forma negativa. Número um do ranking da ATP, o tenista se preparava para disputar o Australian Open, primeiro Grand Slam da temporada, mas acabou sendo expulso do país por não ter se vacinado contra a Covid-19. Diante da grande repercussão do caso e a ausência do atleta no torneio, a relação comercial com seus patrocinadores acabou afetada, já que os mesmos deixarão de exibir seus nomes para o mundo.

Pensando em um mundo cada vez mais preocupado com a imagem, especialistas alertam para a possibilidade do tenista perder alguns patrocínios.

“Depende do que está previsto em contrato. Normalmente, contratos de patrocínios possuem cláusulas que vinculam certas condutas do atleta como fator que possa ensejar uma rescisão, de acordo com o estabelecido pelas políticas da empresa. Mas pode ser o caso do patrocinador rescindir para proteger sua imagem e pagar a rescisão”, avalia Fernando Monfardini, advogado especialista em compliance.

O advogado Maurício Corrêa da Veiga, especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo, reforça o papel de exemplo que atletas de ponta tem para inúmeras pessoas.

“O caminho de um atleta de topo é árduo e repleto de restrições (inclusive convicções pessoais). Um desportista completo deixa um invulgar exemplo de nobreza de caráter, de correção e de valentia, além de ser exemplo para inúmeras pessoas, inclusive crianças. A não observância de regras da competição por parte do atleta pode gerar a perda de patrocínios e até mesmo a imposição de multas”, afirma.

Somente em 2021, Djokovic arrecadou cerca de US$ 30 milhões (R$ 165,8 milhões aproximadamente) com seus acordos de patrocínio, segundo dados divulgados pela ‘Forbes’. O tenista foi o 46º atleta mais bem pago do mundo no ano passado e têm relações comerciais com: Lacoste, Hublot, Peugeot, Asic, Head, NetJets, Lamero, Ultimate Software Group e Raiffeisen Bank International.

A Lacoste, principal patrocinadora do tenista (US$ 9 milhões na temporada), divulgou um comunicado dizendo que chamaria Djokovic para conversar e “revisar os eventos que acompanharam sua presença na Austrália”. A marca foi uma das mais pressionadas pelos fãs para se posicionar sobre as atitudes do sérvio, que além de não se vacinar, desrespeitou o isolamento social na Sérvia e participou de eventos sociais mesmo testando positivo para a Covid-19, em dezembro.

Fora do Roland Garros?

A situação de Djokovic ainda pode piorar. Isso porque o tenista não poderá disputar em Roland Garros, em maio, caso não apresente o comprovante de vacinação contra Covid-19. Na semana passada, o parlamento francês aprovou uma lei que exige o certificado para a circulação em locais públicos, inclusive em estádios e ginásios esportivos.

Em comunicado oficial, o Ministério do Esporte do país disse que não haverá exceções.

“A regra é simples. O passe de vacina será imposto, assim que a lei for promulgada, nos estabelecimentos que já estavam sujeitos ao passe de saúde. Isso se aplica a todos que são espectadores ou esportistas profissionais. Isso vale até novo aviso. Agora, ainda que haja uma preocupação, Roland Garros é em maio. A situação pode mudar até lá e nós esperamos que seja mais favorável. Então, vamos ver. Mas claramente não haverá exceção”, diz o comunicado.

“Ninguém é obrigado a se vacinar, até mesmo porque podem haver exceções respaldadas em recomendações médicas. Porém, na ausência destas, a recusa à vacinação em razão de crendices ou ideologias provocará consequências restritivas, inclusive a restrição de liberdade individual em prol da saúde coletiva. Com base em uma visão egoísta, o número um do tênis mundial também corre o risco de não participar de Roland Garros caso haja as mesmas restrições impostas pelo organizador do Australian Open”, ressalta Maurício Corrêa da Veiga.

“Existe uma separação entre as regras do Estado e as esportivas. No entanto, a impossibilidade de entrar no país impede de poder ir para a competição. A França não poderia interferir no regulamento da competição, mas tem competência para definir quem entra ou não no país”, acrescenta Monfardini.

Atletas não vacinados cada vez mais “encurralados”

Djokovic não é o único atleta a se envolver em problemas com seus patrocinadores e entidades desportivas por conta de sua postura negacionista durante a pandemia.

Aaron Rodgers, quarterback do Green Bay Packers, teve seu contrato com a empresa do ramo de saúde Prevea Health cancelado após nove anos depois que declarou publicamente que não se imunizou. O astro da NFL alegou, durante um programa de televisão, ser alérgico a um dos componentes dos imunizantes da Pfizer e da Moderna, além de relacionar as vacinas com a possibilidade de infertilidade.

Um dos casos mais emblemáticos é o de Kyrie Irving, armador do Brooklyn Nets. O jogador de basquete perdeu o início da temporada da NBA após ser afastado pela franquia por não ter se vacinado, uma vez que não poderia atuar nas cidades de São Francisco e Nova Iorque por conta de leis locais. O norte-americano é patrocinado pela Nike, que apesar de exigir a vacinação de todos seus funcionários em escritórios nos Estados Unidos, não comentou o caso.

Outro astro do esporte, Kelly Slater é mais um atleta que não pôde competir em alguns lugares. Em dezembro, o surfista 11 vezes campeão mundial ficou de fora da etapa de Haleiwa, no Havaí, onde a imunização é obrigatória. Seu único patrocinador, a Breitling, também não se manifestou sobre o caso.

“Na percepção do atleta, Djokovic está como um herói do negacionismo e extremismo. Não é a primeira vez que ele tem atitudes desse nível. Para a carreira e memória dele como atleta ficará sempre um asterisco. Um gênio dentro da quadra, mas um exemplo negativo fora”, finaliza Monfardini.

Crédito imagem: REUTERS/Loren Elliott

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