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Atletas silenciam no combate à homofobia. Esporte tem força transformadora

O Brasil tem mais um título para se envergonhar: é o país que mais mata pessoas de grupos de minorias sexuais no mundo!

Embora estejamos caminhando, o percurso ainda é longo.

O apoio à diversidade foi lembrado maciçamente em todo o mundo na última semana quando se comemorou o Dia Internacional do Orgulho LGTBI. Vários movimentos sociais, influenciadores, artistas e atletas se manifestaram de diversas maneiras sobre a importância do respeito e da necessidade de inclusão.

Mas personagens importantes do esporte no Brasil ainda andam calados.

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É fundamental entender que esporte também é um catalisador de transformações sociais no país. Ele ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática durante os anos da ditadura.

Devido à força que o esporte tem como instrumento de transformações, não podem existir fronteiras entre ele e causas importantes para a sociedade.

No mundo, muitos são os exemplos de atletas que entenderam que sua força vai muito além de uma pista ou quadra ou campo, e que eles podem ser agentes importantes na construção de uma sociedade melhor, menos excludente e mais humana.

No Brasil, uma decisão recente trará consequências para o esporte.

Com a decisão do STF de usar a Lei do Racismo para punir crimes contra a homofobia, a Justiça esportiva tende a mudar, punindo também atitudes homofóbicas no esporte nacional. Já escrevi aqui que seria um grande avanço, mas é preciso mais.

Mais importante do que punir é conscientizar. E os personagens do esporte têm papel fundamental nesse momento. O silêncio compactua com o absurdo. É preciso olhar para Megan Rapinoe, da seleção norte-americana de futebol. Não só para o que ela faz com os pés, mas também para o que ela diz. Ela é um desses atletas que transcendem os limites do esporte.

A Ivana Negrão conta essa história, depois de conversar com especialistas sobre o assunto.

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O ativismo a favor da causa LGBTI está em alta, mas o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas do grupo de minorias sexuais no mundo

O apoio à diversidade é cada vez mais lembrado e discutido em ambientes diversos. Ainda neste mês, o Supremo Tribunal Federal, por 8 votos a favor e 3 contra, aprovou o uso da Lei do Racismo para punir crimes contra a homofobia. No texto aprovado, a determinação é válida até que leis específicas sobre o tema sejam criadas pelo Congresso Nacional.

Apesar de cada vez mais publicidade e ações a favor da causa, um estudo do Grupo Gay da Bahia aponta que, apenas em 2018, 420 pessoas morreram no Brasil de forma violenta por serem LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas trans e intersex). O nosso país ainda carrega o negativo título daquele que mais mata pessoas do grupo de minorias sexuais no mundo. É preciso ir além.

Megan Rapinoe, da seleção norte-americana de futebol, tem sido o grande símbolo contra a homofobia do momento. Na última sexta-feira, Dia Internacional do Orgulho LGBTI, após marcar dois gols contra a França e classificar os Estados Unidos para as semifinais da Copa do Mundo, a meia soltou um “Go gays” e acrescentou: “Você não pode ganhar um campeonato sem gays no seu time. Nunca foi feito antes, nunca. Isso é ciência!”. 

Lésbica assumida, Megan também faz oposição declarada ao presidente Donald Trump e, por isso, chegou a perder a faixa de capitã. Ela ainda se recusa a cantar o hino de seu país antes dos jogos, como protesto à violência policial contra negros nos Estados Unidos. Colin Kaepernick, jogador de futebol americano, foi quem iniciou essa série de protestos em 2016, ajoelhando-se e recusando-se a cantar o hino antes das partidas da NFL. Segundo Vinicius Calixto, advogado especialista em direito esportivo, “Kaepernick é um daqueles atletas que romperam as fronteiras do esporte”. 

Marta, a brasileira seis vezes eleita melhor do mundo, se manifestou sobre a igualdade de gêneros durante a Copa do Mundo de Futebol Feminino, porém, não de forma tão ostensiva quanto as atletas americanas. No Brasil “há uma ausência de consciência manifestada por parte dos atletas. Estamos atrasados nessa questão”, afirma Vinicius. “Hoje não há, dentre os grandes protagonistas atuais do nosso esporte, especialmente no futebol, quem tenha assumido esse papel de sujeito crítico e ativo capaz de se levantar e atravessar a ilusória fronteira que separa o esporte das lutas sociais”.

Os clubes brasileiros, no entanto, começaram a agir nos últimos anos. Na última sexta-feira, dez agremiações da primeira divisão manifestaram apoio à diversidade sexual. Outras dez se mantiveram em silêncio. “Se a gente for olhar numa grande tela, há um avanço, sim, dos clubes. Antes, eles nem se manifestavam, mas a gente tem que continuar cobrando para que medidas sejam tomadas”, analisa Calixto.

O Internacional de Porto Alegre foi um dos clubes que demonstraram apoio ao Dia do Orgulho LGBTI. A instituição já faz anúncios a favor da causa em jornais, posts em redes sociais e em seu site desde 2017. E na sexta-feira, deu um passo além. Com um Beira Rio colorido, anunciou a criação da Diretoria de Inclusão Social. “Nada mais justo e mais correto do que ter ações mais efetivas, sair do mundo virtual para o mundo real. O Internacional é um clube popular. Desde que foi criado, em 1909, sempre aceitou todo tipo de torcedor”, informou Norberto Jacques Guimarães, vice-presidente de Relacionamento Social, pasta que abriga a nova diretoria.

O objetivo agora é criar um plano de ação para conscientização e estabelecer relações com instituições, como o Ministério Público, que já têm projetos nesse sentido. Além disso, “as cinco torcidas organizadas do clube já entraram em contato com a nova diretoria para trabalhar em conjunto a fim de promover ajustes e acompanhar essa evolução da sociedade”. Um dos pontos a serem discutidos é a atualização dos cânticos entoados no estádio. Uma ida da nova diretoria a Salvador também está nos planos. O Internacional quer acompanhar os trabalhos do Núcleo de Ações Afirmativas do Esporte Clube Bahia, que tem sido pioneiro nesse aspecto. “Queremos conhecer o trabalho do Bahia mais de perto e adaptar as ações para a nossa região”, informa Norberto. “O futebol mudou, precisa agilizar e acompanhar essa mudança cultural”, acrescenta ele, que espera que essas ações estimulem outros clubes e que “se crie um movimento geral”.

Vinicius Calixto complementa defendendo que é “importante que quadras esportivas e campos de futebol não sejam ambientes ausentes de proteção, garantias fundamentais e direitos humanos. Não dá mais para ser um lugar onde as pessoas vão para descarregar suas angústias, fúrias e preconceitos que têm que ser velados durante a semana. Hoje já não admitimos mais”.  

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