Pela primeira vez a dívida dos clubes da elite do futebol nacional com instituições financeiras rompeu a barreira do bilhão. De acordo com estudo da Pluri Consultoria, o valor total chegou a R$ 1,1 bilhão, um crescimento de 38% em relação ao ano anterior.
Palmeiras, com R$ 172 milhões, Atlético-MG, com R$ 152 milhões e São Paulo, com R$ 143 milhões em empréstimos junto a bancos ou instituições financeiras ocupam o pódio entre os maiores endividados. Todo o montante do Palmeiras está nas mãos de uma só instituição, a Crefisa, e é referente aos valores que o clube usou para contratar jogadores.
Segundo o estudo, baseado nas demonstrações financeiras publicadas pelas agremiações, a taxa média praticada pelas instituições financeiras na hora de liberar dinheiro para os clubes foi de 14,5% valor superior ao dobro da taxa Selic acumulada de 2019, que ficou em 5,95%. O valor mais alto foi pago pelo Fluminense, que paga 21,2% pelos empréstimos junto ao BMG, Bradesco e Lecca Financeira.
“O endividamento bancário subiu além da conta porque os clubes estão buscando de qualquer maneira outra alternativa de crédito. O grande problema do nosso sistema é a falta de investimento em si. A falta de crédito é decorrência disso”, analisa Fernando Ferreira, sócio da Pluri.
Para piorar as coisas, a dívida dos clubes com bancos representa somente 8,8% das dívidas totais das agremiações brasileiras. O grosso está em dívidas trabalhistas e tributárias.
“Clubes têm histórico de problemas financeiros, o que afasta os grandes bancos. A saída é fazer uma articulação setorial, trabalhar para reduzir o preconceito que as instituições têm com os clubes de futebol”, explica Fernando.
Assim, nomes desconhecidos do grande público, como banco Semar, Fundo Pólo, Tricury e banco Rendimento, aparecem como sendo a única saída para que as agremiações nacionais consigam dinheiro no mercado. A contrapartida, nesses casos, é pagar juros maiores e ter menos prazo para o pagamento.
Considerando o momento atual, de pandemia, uma empresa que tem faturamento parecido ao de um clube, entre R$ 150 e R$ 300 milhões/ano e condição razoável, paga 7% de juros ao ano. Um clube paga algo em torno de 12%. Em uma factoring a taxa gira em torno de 17% ao ano.
“A vantagem de lidar com instituições conhecidas é a de construir um relacionamento. E a partir do relacionamento se entende a dinâmica do cliente, nesse caso o clube, e isso permite construir operações e estruturas saudáveis, especialmente de prazos longos. Além disso, bons relacionamentos funcionam nos momentos mais difíceis, quando é necessária uma prorrogação de pagamentos ou reescalonamento de dívidas”, explica o economista César Grafietti.
Há bancos que operam bem o mercado de futebol, como o Rendimento, Tricury, BMG, Paulista. Eles correm mais risco, aceitam as garantias mais frouxas que os clubes oferecem, e cobram por isso.
Banco com longa relação com o Atlético-MG, o BMG, cujo dono Ricardo Guimarães presidiu o Galo, é credor de nove clubes. O Atlético-MG é um dos poucos clubes que têm um patrimônio para dar de garantia, o shopping Diamond Mall. O Galo deve R$ 76,4 milhões para o BMG.
O FIDC, que tem R$ 34,9 milhões a receber do São Paulo, é um tipo de financiamento, que é feito dando recebíveis em garantia. Costuma ser mais barato que um empréstimo bancário. O Fundo Pólo, por exemplo, é uma instituição do Rio de Janeiro que antecipa aos clubes parte dos valores dos direitos de transmissão.
“Nem todas as dívidas são ruins. Há aquelas que servem ao investimento em formação de patrimônio, ou as que financiam aquisições de atletas. O problema é quando a dívida serve a cobrir buracos eternos de má gestão ou tem perfil de vencimento que sufoca o fluxo de caixa do clube”, finaliza Grafietti.
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