Uma das primeiras Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) no Brasil, o Botafogo está passando por momentos de turbulência. Conforme contou o ‘UOL Esporte’, a administração de John Textor está em atraso na entrega de diversas obrigações financeiras que constam no acordo assinado com acionistas em março deste ano. Apesar do exemplo negativo no Glorioso, especialistas não enxergam riscos para a SAF no País.
“Precisamos de um pouco de calma na análise. Se há algum problema não é com a SAF, mas com a SAF do Botafogo. E é fundamental que seja cobrada da mesma forma que as associações são, porque no futebol a transparência é uma das chaves de sucesso”, afirma o economista Cesar Grafietti.
“Agora, é preciso também entender as condições de início da SAF, saber se a empresa tinha as estruturas montadas e operando de forma correta quando iniciou as atividades, ou se vem se estruturando no tempo. Mas, novamente, uma boa gestão de comunicação ajudaria a entender a situação, com o clube falando como instituição de maneira organizada, e não via redes sociais. Sem ter o cenário completo fica difícil avaliar, mas o que parece é que ainda há muito a estruturar, em todos os níveis. Talvez esteja faltando assessoria para lidar com a realidade do futebol brasileiro”, avalia.
O advogado Rafael Pandolfo, especialista em direito tributário, reforça que “a transparência é fundamental não só para os acionistas como para os credores do Botafogo”.
“É pressuposto para o regular funcionamento das SAFs. Por isso é muito importante que o clube tenha mecanismos eficazes de assegurar seu cumprimento. Mas o problema, caso persista, pode ser pontual”, acrescenta.
Uma das cláusulas do contrato determina que a SAF tem a obrigação de fornecer relatórios de orçamentos com os resultados trimestrais a todos os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal, por escrito, em até 15 dias após o final de cada trimestre. O documento também deveria incluir metas e resultados da empresa, bem como a folha de pagamento do futebol profissional, o que ainda não aconteceu até então.
Ainda segundo o portal, outro ponto que não está sendo cumprido é a atualização e entrega dos balancetes da SAF até o 15º dia de cada mês. Isso vai de encontro ao que diz o próprio contrato e os atos constitutivos registrados, que preveem a realização periódica dessas obrigações financeiras.
O grande problema da falta de apresentação dessas demonstrações financeiras é que o Conselho Fiscal da SAF acabada ficando incapaz de analisar os números e, consequentemente, o endividamento.
A situação trouxe desdobramentos nos bastidores do clube há alguns dias. Em agosto, Fernando Pereira, um dos membros do Conselho Fiscal, renunciou ao cargo cobrando, internamente, mais transparência.
No começo de setembro foi a vez de Jorge Braga, então CEO do Botafogo e um dos dirigentes a participar do processo de reestruturação financeira do clube, a deixar o cargo. O empresário ainda ajuizou uma ação (que corre em segredo de justiça em uma vara empresarial do Rio de Janeiro) contra a SAF.
“Saio muito realizado e motivado pelo trabalho feito, desejando sucesso para o investidor John Textor, e também Thairo e Danilo. Para os desafios que estão por vir, carregarei comigo meus princípios e muito do que aprendi vivendo o Botafogo: nada e nem ninguém nunca será maior que o clube. Todo mundo quer ganhar, mas não a qualquer preço. Trabalho, coerência, ética, pragmatismo, honestidade, transparência e profissionalismo precisam ser pilares. Sempre”, escreveu Braga em suas redes sociais.
Com exclusividade ao Lei em Campo, a defesa de Jorge Braga, representada pelo advogado Rodrigo Cotta, contou detalhes de como anda o caso.
“O Tribunal de Justiça concedeu uma liminar favorável ao Jorge porque restou comprovado que a SAF não cumpriu obrigações básicas, como pagamento do que estava acordado com o CEO. Escolher qual obrigação cumprir e não honrar contratos é contra o projeto de profissionalização e coloca o advento da lei da SAF em risco”, disse.
Na primeira oportunidade, a coluna do jornalista Diego Garcia, no ‘UOL Esporte’, enviou para a SAF do Botafogo todas as cláusulas descumpridas até o presente momento e questionou sobre os atrasos nas demonstrações financeiras e orçamentos. A resposta da SAF Botafogo foi “os termos do acordo de acionistas são confidenciais e cabe apenas aos acionistas a condução desse tema”.
A coluna também procurou por vários dias o presidente Durcesio Mello e outros membros da cúpula de administração do Botafogo para questionamentos, mas não houve respostas até o momento.
Nesta quinta-feira (22), o Lei em Campo tentou entrar em contato novamente com a SAF Botafogo. A matéria será atualizada em caso de resposta.
Crédito imagem: Botafogo
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