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Atue pelo esporte! O que podemos aprender com Isabel Swan?

Ocupe espaço, e atue pelo esporte! Foi o recado dado pela Isabel Swan, medalhista olímpica na vela em 2008, ao assumir como representante do Brasil no Conselho que cuida do desenvolvimento esportivo nas Américas. Pra nós, do Direito Esportivo, a fala da atleta diz muito. Por quê? Vamos lá.

Mesmo que o caminhar dos anos tenha nos permitido reconhecer que o praticante esportivo há muito deixou de ser “do” clube para estar “no” clube, ainda parece haver algo (de muito errado) no nosso imaginário construído em torno dos atletas, e que naturaliza um sentimento difícil de explicar. Queremos a atuação. Queremos vê-los ultrapassar os limites do corpo. Queremos entretenimento. Queremos responsabilidade pela importância nacional que muitos carregam. Dentre todas essas coisas, esquecemos justamente essa, assumida pela Isabel. Não queremos que eles falem.

Parece desimportante, mas essa herança de expectativas e comportamentos que nós carregamos em torno desses profissionais repercute diretamente nas condições em que o trabalho no esporte é desempenhado. Não só isso. Repercute diretamente nas consequências que o alto rendimento traz pro corpo (e pra mente, claro) de quem o pratica.

Digo isso porque me trouxeram profunda felicidade as palavras ditas (na verdade, escritas) pela Isabel. Alguém que viveu do esporte profissional, e hoje representa seus iguais mundo afora. O que a atleta disse é verdade, e por isso vale a pena reproduzir outra parte, que vem logo mais à frente: “o atleta é o ator que será diretamente atingido por uma boa ou má gestão do esporte, e tem um trunfo: sua representatividade e influência”.

No caminhar do esporte, foram eles a enfrentarem a resistência ao profissionalismo e à regulamentação de direitos; a discriminação social pela não aceitação da inclusão de camadas sociais mais pobres, ou mesmo de mulheres e negros; a altíssima exigência corporal e o também altíssimo índice de lesões.

Talvez, justamente por causa do esporte, a carreira curta e a concentração na competição não permitiram que parte desses supercorpos também dedicasse tempo à informação e ao engajamento em ações de mudança desse entorno.

Quando nos damos conta de que tudo isso precisa ser considerado na compreensão do mundo do trabalho no esporte, e o que afeta os atletas nele inseridos, percebemos que ainda são pequenas (e precisam aumentar) as reais possibilidades que esses, na condição de componentes dessa categoria, têm de interferir em uma mudança positiva na forma como as coisas são conduzidas.

A busca pela excelência performática leva a restrições corporais intensas, à convivência com a dor, ao sacrifício e, principalmente, à disciplina do atleta que trabalha. Situações que vêm do interminável ciclo ininterrupto de treinamento, concentração, viagens e competições. Exigências físicas e psicológicas que não raro repercutem não apenas na ocorrência de lesões, mas no abandono do esporte por causas ligadas à depressão e ao estresse.

É claro que o comprometimento com um dia a dia atarefado faz parte do alcance do alto rendimento. Mas pode ser que nessa mistura existam ingredientes já a essa altura dispensáveis, resquícios de um mercado que ainda se apega à ideia de que o atleta profissional seja visto como alguém (ou algo) a ser moldado, e não necessariamente ouvido.

Por isso, pra nos alertar sobre isso, nada melhor do que o fortalecimento dos atletas profissionais como coletividade, e da substituição do olhar individual (de cada um) pela valorização da noção de todos como pluralidade. Nada melhor do que a voz que diga que cada um é responsável pelo bem-estar de si e do outro.

É aí que o recado volta pra nós do Direito. Tudo isso só é possível onde regras que protegem e valorizam o indivíduo assumem posição de centralidade. Regras que se preocupem, necessariamente, com o cuidado com o corpo de quem trabalha, e com a oportunização de que eles sejam voz ativa na construção do próprio dia a dia. Significa, ainda, distribuir responsabilidades. E refletir sobre o papel de cada um. Na edição dos regulamentos de competições, no gerenciamento da atividade e, por que não, sobre a forma como consumimos o espetáculo, e o que exigimos dos seus participantes.

Semana que vem a gente fala mais sobre o que ainda dificulta a participação de atletas na gestão do esporte, e quem sabe das possibilidades que a gente tem para melhorar esse panorama. Até lá.

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