Faltando menos de quatro meses para a cerimônia de abertura, os Jogos Olímpicos de Tóquio vivem mais do que nunca um momento de incerteza. A suspensão de seletivas e classificatórios, o aumento do número de casos de Covid-19 no Japão, a rejeição da população e a desistência de participação da Coreia do Norte ameaçam a realização do megaevento.
Mesmo com todos os problemas e as desconfianças, tanto o Comitê Organizador quanto o Comitê Olímpico Internacional (COI) garantem a realização do maior evento de esporte do mundo. Na semana passada, o presidente do COI, Thomas Bach, afirmou que a “Olimpíada de Verão de Tóquio é sinal de luz no fim do túnel da pandemia”.
A biomédica e especialista em biotecnologia, Lara Santi, não acredita na possibilidade de o COI cancelar os Jogos Olímpicos faltando poucos meses para a data de abertura e ressalta que isso causaria inúmeras consequências: “Um possível cancelamento do evento causaria uma crise imensa no esporte, prejudicando diferentes setores nos próximos anos, em especial, os atletas”.
Para Marcel Belfiore, advogado especialista em direito desportivo, “não há como se negar que a realização dos Jogos Olímpicos já está severamente impactada, independentemente do recente cancelamento de diversas seletivas para os Jogos. Isto porque boa parte dos milhares de atletas que competirão em Tóquio tiveram suas preparações prejudicadas, seja porque não podem treinar adequadamente, seja porque não estão competindo com regularidade, algo tão importante quanto o treinamento.
Muitas pessoas acreditavam que com o começo da campanha de imunização da Covid-19 no início deste ano, rapidamente a vida “normal” seria retomada e consequentemente a doença seria dominada, mas não é bem isso que está acontecendo. Enquanto em alguns países a vacinação é bem-sucedida, em outros a situação é diferente. O Japão, sede dos Jogos Olímpicos da atual edição, vive um momento preocupante em relação a pandemia, com poucas vacinas aplicadas e o aumento do número de casos do novo coronavírus e a presença de variantes da doença.
No último final de semana, autoridades sanitárias declararam que cerca de 70% dos pacientes com Covid-19 em um hospital de Tóquio carregavam a variante apelidada por cientistas de “Eek”, conhecida por reduzir a proteção oferecida pela vacina. A revelação voltou a preocupar a população, comunidade cientista e organizadores do evento, que temem uma nova onda de infecções há poucos dias do evento.
“As variantes parecem ser mais infecciosas e podem ser resistentes a vacinas, que ainda não estão amplamente disponíveis no Japão. A situação é pior em Osaka, onde as infecções atingiram recordes novos na semana passada, levando o governo regional a adotar medidas direcionadas de lockdown durante um mês a partir desta segunda-feira (5)”, declarou Koji Wada, professor da Universidade Internacional de Saúde e Bem-estar de Tóquio em entrevista à ‘Reuters’.
O crescimento de casos e a alta ocupação dos leitos hospitalares causados pela nova variante fizeram com que o revezamento da tocha olímpica, iniciado em 24 de março, fosse cancelado na região de Osaka. Para tentar evitar possíveis surtos de Covid-19 durante os Jogos Olímpicos e o agravamento da pandemia no mundo, o Comitê Organizador de Tóquio vetou a presença de torcedores, voluntários estrangeiros, e familiares dos atletas.
A suspensão de seletivas nas mais diferentes modalidades também preocupam os organizadores, uma vez que o calendário, já apertado, sofre cada vez mais novas alterações. Nesta terça-feira (6), um evento teste de polo aquático para os Jogos Olímpicos foi cancelado porque os árbitros da competição não foram autorizados a entrar no Japão devido as restrições ligadas à pandemia.
“Num contexto de cancelamento de várias competições e diversas restrições de deslocamento e contato social, não há dúvidas de que grande parte dos atletas não competirá em Tóquio em sua melhor forma. Justamente em razão desse contexto, não é possível esperar também homogeneidade, coerência e justiça na seleção dos atletas que irão às Olimpíadas. Os critérios de antes da pandemia talvez não se apliquem mais, e será preciso entendimento de todos os lados para que o espírito olímpico prevaleça. Apesar do esforço das federações internacionais e dos comitês nacionais em garantir que ninguém seja prejudicado nas definições, certamente atletas que poderiam competir em 2020 ficarão de fora em 2021”, afirma Marcel Belfiore, advogado especialista em direito desportivo.
“O mais importante é que os atletas que obtiveram índice ou se qualificaram para os Jogos antes da pandemia tenham o seu direito preservado, ainda que, nas circunstâncias atuais, não tivessem atingido a habilitação. Aos que não conseguiram índices antes da pandemia, uma nova chance será dada e tentarão aproveitar da melhor forma, mesmo com as limitações”, completa Marcel Belfiore.
A América do Sul, que abriga o atual epicentro da Covid-19 no mundo, o Brasil, é o continente mais afetado com a paralisação dos classificatórios que garantem vaga nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
“Não tenho conhecimento de atletas brasileiros que correm o risco de perderem as seletivas por conta da pandemia. Sei que existe uma base brasileira que está treinando em Portugal para evitar problemas de deslocamento por conta das medidas restritivas impostas em viagens internacionais. O adiamento dos Jogos Olímpicos serviu para o Japão estudar o problema (da pandemia) e se preparar para enfrenta-lo. Algumas seletivas foram adiadas, mas existem planos B, que inclui a transferência do local das competições se for necessário, como aconteceu em alguns países. Os pré-olímpicos estão acontecendo, e geralmente estão sendo disputados em formato de ‘bolha’. Os atletas são isolados em um microuniverso, onde são testados constantemente, garantindo um isolamento do vírus. A NBA, que adotou esse sistema na última temporada, comprovou que essa medida é eficaz e segura”, afirma Lara.
Além do protocolo de ‘bolha’, a biomédica acredita que também possa haver um programa de vacinação especial aos atletas que forem à Tóquio disputar os Jogos Olímpicos.
O Comitê Organizador encontra resistência também na população japonesa. Devido ao atual cenário, muitos são contrários à realização do evento. Na pesquisa mais recente, realizada pelo jornal ‘The Japan Times’, que ouviu cerca de 3 mil pessoas durante quase um mês, 72% das pessoas reforçaram a opinião de que os Jogos deveriam ser cancelados ou adiados, alegando a pandemia como o principal fator.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio estão programados para acontecer de 23 de julho a 8 de agosto, enquanto os Jogos Paraolímpicos serão realizados de 24 de agosto a 5 de setembro.
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