Por Fabio Araujo
A Forbes divulgou, nesta semana, a sua já famosa lista com os valores de equipes esportivas. A respeitada publicação americana divulga, há quase 20 anos, ranking de valores de times do mundo inteiro. Porém, o ranking está longe de ser considerado exato. A lista publicada com os valores dos times não passa de um rol de referência feito com base em considerações muitas vezes falhas ou irreais. A lista anual é publicada por um único motivo: os fãs adoram ver o quanto supostamente vale o seu time do coração e comparar a posição no ranking com a avaliação dos times rivais.
Apesar do método utilizado pela Forbes para determinar o valor das franquias ser baseado em alguns critérios financeiros objetivos, raras são as equipes que têm como metodologia administrativa a transparência das suas movimentações financeiras, parceiros e bens. Informações confiáveis são difíceis de encontrar. Além de levar em consideração elementos pouco precisos, a Forbes deixa de apreciar outros fatores que irão influenciar na avaliação do time.
Em última instância, assim como ocorre no mercado de ações, o valor de um time ou franquia é exatamente aquele que o investidor quer pagar. Porém, o mercado esportivo difere muito de “Wall Street”. O preço pago por um time é quase sempre muito maior do que sua avaliação financeira[1]. No entanto, é inegável que está presente nas equipes esportivas uma importância social relevante que é inexiste na maioria das grandes empresas de outros ramos. Essa conexão é importante, pois investidores em equipes esportivas levam em consideração muito mais do que o simples balanço das oportunidades de receitas, obrigações contratuais e riscos na hora de avaliar o quanto estão dispostos a pagar pelo time.
No final de março do ano passado, Flavio da Silva, sócio majoritário da Orlando Sports Holding, empresa proprietária do Orlando City SC, Orlando Pride (futebol feminino) e do Orlando City Stadium vendeu 8,63%p da empresa para o investidor Albert Friedberg por US$ 42M. O montante pago elevou o valor estimado da franquia do Orlando City e suas empresas irmãs de US$ 240 milhões para US$ 490.53 milhões. Hoje, a Forbes avalia a franquia em US$ 270 milhões.
A pergunta a ser feita é a seguinte: o preço pago por Friedberg foi absurdo ou a avaliação de US$ 240 milhões ignorou fatores que são determinantes para aferir o real valor de mercado do Orlando City? Respondo prontamente: o preço pago pela parte minoritária do Orlando City não excedeu o que se espera de um time de uma liga estruturada e em crescente popularidade. O Orlando City, em quatro anos de existência, ainda não conseguiu chegar aos playoffs da MLS, mas isso pouco importa. O time é uma das poucas franquias rentáveis da liga americana de futebol e, apesar de sua curta existência, é considerada pela Forbes a oitava franquia mais valiosa da liga. A administração competente do time, o crescente sucesso da MLS nos EUA, o novíssimo estádio no centro de Orlando (ao custo de US$ 155 milhões) e a fanática torcida fazem com que o valor pago por parte do City tenha sido muito mais do que justo.[2].
O excedente pago pelos investidores equivale ao preço de tornar-se parte de um grupo exclusivo de proprietários de equipes esportivas. Os números são relevantes, porém, fazer parte do restrito clube do mundo esportivo, é muito mais importante para a maiorias dos compradores. O investidor, como no caso do Orlando City, muitas vezes não participará das decisões importantes do time por conta da baixa porcentagem em relação ao número total de ações. O que importa é fazer parte do exclusivo clube de proprietários de um time.
Não é todo dia que vemos o anúncio de venda de times considerados relevantes e que façam parte de ligas populares. Times das cinco grandes americanas (NFL, NBA, MLB, NHL e MLS) ou de uma das cinco grandes ligas de futebol mundial (EPL, Bundesliga, Serie A, Ligue 1 and La Liga) raramente são postos à venda. O sinal de qualquer rumor sobre a venda de um dos integrantes dessas ligas causa enormes especulações no mundo inteiro.
Franquias esportivas relevantes têm atingidos valores astronômicos na última década. A era do “billion-dollar franchises” iniciou entre 2003 e 2005 quando John Glazer, dono do Tamba Bay Buccaneers, pagou US$1.47B por 97,3% das ações do Manchester United na Bolsa de Londres, time que, à época, faturava US$300M ao ano e lucrava cerca de US$90M. Glazer ofereceu um ágio de 20% em cash pelas ações dos Red Devils. Outro exemplo recente de compra e venda de franquia por preço acima da avaliação de mercado certifica a afirmação. Quando Steve Ballmer comprou o Los Angeles Clippers em 2014, a Forbes avaliava o time em US$575 milhões. O preço pago pela franquia de Los Angeles? US$2 bilhões. Se o Clippers vale US$ 2B, quanto vale o NY Knicks ou LA Lakers? Após a venda do Clippers, o valor de muitas franquias subiu imensamente e, segundo a Forbes, Knicks e Lakers valem, respectivamente, US$ 4B e US$3.7B. É difícil imaginar por quanto seria vendido dois dos mais populares times dos EUA, no entanto, se o grupo MSG ou Jeanie Buss (Jarry Buss Family Trusts) resolvessem vender suas franquias, é certo que o montante a ser pago seria muito superior ao que a Forbes diz valer os times de basquete da NBA.
A questão que levanto agora é a seguinte: ao torcedor importa quem detém a maioria das ações ou controla o time? É relevante para o torcedor que o dono da equipe tenha ligação íntima com o clube ou o que importa são os valores a serem injetados e os troféus que o investidor pode trazer? Qual a importância da identificação dos valores dos donos do clube com a cultura do time e sua torcida? Podemos dizer que existe uma ligação maior dos torcedores do Real Madrid e Barcelona com seus times do que sentem os torcedores do Chelsea ou Manchester City?
Segue aqui a lista dos 50 mais valiosos times/franquias em 2019.
Concordam com a lista? Comentem e vamos iniciar a discussão!
[1] São considerações financeiras importantes na hora de avaliar a franquia/time: oportunidades de receitas (patrocínios, direito de mídia, venda de ingressos, receitas em dias de eventos com comidas e bebidas, venda de produtos licenciados e receitas com aluguel de estádios e arenas) e obrigações (dívidas, folha de pagamentos e outras obrigações operacionais, manutenção e obrigações relativas ao estádio/arena, obrigações com a liga – divisão de receitas, luxury taxes – impostos etc).
[2] O Orlando City, em 2018, manteve média de pouco menos de 24 mil espectadores. Representa a sexta maior média de público da MLS. Os números podem ser acessados em: https://soccerstadiumdigest.com/2018-mls-attendance/
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Fabio Araujo é vice-cônsul do Consulado Geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, mestre em Gestão Esportiva pela Columbia University (EUA), mestre em Direito Esportivo Internacional pelo Instituto Superior de Derecho y Economía (ESP).