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Be patient

Há algum tempo, ouvi dois filósofos conversarem sobre o conceito de felicidade. A opinião de um deles me chamou a atenção. Para ele, a felicidade não era um atributo do indivíduo, senão um atributo da vida, que buscamos por aí. Por isso, conceituá-la individualmente era tarefa quase impossível. Explicava: somos viventes coletivos, e onde nossas trajetórias mais se parecem com teias que se enlaçam e entrelaçam umas com as outras, não é possível falar da felicidade para um ou para outro, senão para nós e para todos. Assim, o que temos, na verdade, não são pessoas felizes, mas momentos de felicidade. Além disso, continuava: para quem quisesse perceber, esses momentos dariam alguns indicativos de quando estariam presentes. Por exemplo: saberíamos que vivemos um momento feliz quando o fim da situação vivida nos faz lamentar o seu término. Outro indicativo seria o desejo de repetição. A vontade de fazer aquilo de novo. De novo. E de novo. Por fim, dizia, haveríamos de vivenciar a felicidade quando dela brotasse o desejo de compartilhar aquelas horas, minutos e segundos com os outros.

Dessa conversa pouco palpável, consegui resumir, quem sabe, que seriam sintomas da felicidade: o querer continuar, o querer repetir, e o querer dividir. Coisas que, para mim, me pareceram que qualquer rua, uma bola, e alguns pares de pés descalços saberiam traduzir entre duas balizas.

Pensando comigo, nada mais justo do que reconhecer que o futebol talvez seja uma dessas materializações de satisfação privilegiada. Afinal, como também já disseram antes, da festa coletiva que acontece sem motivo, sem relógio e sem juiz, nasce a alegria de jogar só pelo prazer de jogar.

Com o tempo, é verdade, transformamos tudo em espetáculo. Em negócios. Em regras. Lá, com o foco no indivíduo, as coisas mudaram um pouco. Talvez por isso, vez ou outra tenha quem não entenda a essência do assunto, e aparece quem queira punir o jogador que renuncia à força e à velocidade pra viver um pouco de alegria.

Nesse caso, o que dizer do atrevido que, como diria Galeano, sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade? O que dizer pro sujeito que procura, em algum lugar, esse pedacinho de felicidade?

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