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Billie Jean King: uma vida por igualdade

“Aos 12 anos, eu tive uma epifania enquanto estava no Los Angeles Tennis Club. Todos estavam jogando com tênis brancos, roupas brancas, bolinhas brancas e eram todos brancos. Eu me perguntei: onde estão as outras pessoas? Dali em diante, eu me comprometi a lutar por igualdade e inclusão para todos pelo resto da minha vida”
(Billie Jean King ao receber o Prêmio de Personalidade Esportiva do Ano de 2018)

Nas últimas colunas, por diferentes motivos, escrevi sobre atletas que romperam as fronteiras do esporte. E uma atleta que nunca enxergou as ilusórias fronteiras que separam o esporte das lutas sociais – como mencionei na coluna passada – é Billie Jean King.

Neste mês, as atletas da seleção de futebol feminino dos Estados Unidos anunciaram a abertura de um processo judicial contra a federação de futebol daquele país em decorrência da diferença salarial em comparação com a seleção masculina. As atletas acusam a federação de institucionalizar a discriminação de gênero.

Se voltarmos no tempo quase 50 anos, veremos Billie Jean King liderando essa mesma luta. A tenista norte-americana despontava como a melhor tenista do mundo em uma época em que o profissionalismo finalmente havia chegado ao tênis e os atletas podiam gozar de consideráveis premiações.

No entanto, embora acumulasse títulos, King percebia que os torneios masculinos pagavam até 12 vezes mais que os mesmos torneios femininos. Depois da vitória no US Open de 1972, ela então decidiu que não disputaria a competição no ano seguinte, a menos que a premiação fosse igualitária.

Billie Jean King iniciou uma verdadeira cruzada no mundo do tênis a fim de persuadir os responsáveis pela organização do esporte sobre a necessidade de equivalência de premiações. Diante do insucesso das negociações com a Associação de Tênis dos Estados Unidos (USLTA), ela convenceu outras importantes atletas a se juntarem e formarem um torneio paralelo – o Circuito Virginia Slims.

Naquela altura, a luta de Billie Jean já tinha tomado grandes proporções, reunindo mulheres tenistas de diferentes países. O caminho estava pavimentado para a criação da Associação de Tênis Feminino (WTA), organização fundada por Billie Jean e responsável desde 1974 pelo tênis profissional feminino ao redor do mundo.

Nesse período, Billie Jean já havia se tornado um símbolo da luta por igualdade entre homens e mulheres no esporte, e um episódio ocorrido em 1974 contribuiu ainda mais para o fortalecimento dessa luta.

Ex-tenista de sucesso nos anos 1940, Bobby Riggs, que se autodeclarava um porco chauvinista e vociferava pela superioridade masculina no esporte, desafiou King para uma partida de tênis, argumentando que mesmo com 55 anos de idade seria capaz de vencer a melhor tenista em atividade.

A partida atraiu a audiência estimada de 90 milhões de pessoas em todo o mundo e terminou com a vitória de Billie Jean por 3 sets a 0. O episódio é considerado um marco no esporte feminino, e a história que cerca esse jogo foi contada no filme “A Guerra dos Sexos”, lançado em 2017, que tem como protagonistas a atriz Emma Stone e o ator Steve Carell.

Billie Jean King construiu uma carreira extremamente vitoriosa no tênis. Foram 129 títulos de simples e 39 Grand Slams, mas foi a sua decisiva atuação fora das quadras que a alçou à condição de tenista mais importante do tênis feminino. Hoje todos os principais torneios de tênis do circuito pagam premiações iguais a homens e mulheres.

Embora seja amplamente reconhecida pela sua atuação no começo da década de 1970 que culminou com a fundação da WTA e com a vitória na partida conhecida como Batalha dos Sexos, Billie Jean sempre esteve envolvida na defesa de direitos humanos e de minorias.

Ela foi a primeira atleta profissional feminina de destaque a assumir a sua homossexualidade, ainda em 1981. Na época, King enfrentou a pressão de sua família, de seus advogados e de sua assessoria de imprensa para não tornar pública a sua orientação sexual.

Ainda na década de 1970, o depoimento de Billie Jean foi determinante para que Renée Richards, tenista trans que havia passado por uma cirurgia de redesignação sexual, fosse aceita no tênis feminino. Em entrevista, Renée afirmou: “Minha advogada entregou uma declaração de Billie Jean King que dizia que ela havia me conhecido, que eu era uma mulher, que eu tinha o direito de jogar, e que não podia ser negada. E foi isso. Nós ganhamos”.

Em 2018, quando a ex-tenista australiana Margareth Court proferiu fortes declarações homofóbicas e transfóbicas, Billie Jean conclamou a organização do Australian Open e as autoridades australianas a mudarem o nome da principal arena da competição, batizada com o nome da atleta australiana.

Quando Serena Williams, também em 2018, acusou o árbitro da final do US Open de abuso de poder e sexismo, Billie Jean esteve ao lado de Serena. Na ocasião, afirmou: “O que aconteceu ontem em quadra acontece com muita frequência. Acontece no esporte, no escritório e no serviço público. No fim, a mulher é penalizada por lutar por si mesma”.

Essa é Billie Jean King. Revolucionária em sua época e permanente ativista.

Membra do Hall da Fama do Tênis desde 1987, Billie Jean recebeu em 2009, das mãos do então presidente Barack Obama, a Medalha da Liberdade, a mais alta honraria que um civil pode receber do governo dos Estados Unidos. Ela foi a primeira mulher atleta a receber essa condecoração. Um ano antes havia sido nomeada Mentora Global para a Igualdade de Gênero da Unesco.

Billie Jean continua em plena atividade como advogada e ativista pelos direitos humanos, atuando especialmente no campo dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQ. Em 2014 ela fundou a Billie Jean King Leadership Initiative, uma organização sem fins lucrativos que promove a igualdade no ambiente de trabalho.

Em palestras e entrevistas, Billie Jean costuma afirmar que foi Althea Gibson, tenista negra que enfrentou barreiras inimagináveis e venceu os principais campeonatos na década de 1950, a responsável por formar a sua visão do que é ser uma tenista vencedora.

Neste mês de março, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, esta coluna destaca a vida e o legado tão importante de Billie Jean King. Que a voz de Billie Jean e de tantas outras mulheres que lutam por igualdade no esporte ecoem cada vez mais forte!

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Foto: CNBC.com

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