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Brasil encabeça lista de países com maior quantidade de jogos suspeitos de manipulação em 2022. Como mudar cenário?

A Sportradar – empresa líder global em tecnologia esportiva parceira da CBF, da UEFA e FIFA – divulgou nesta quarta-feira (22) um número preocupante referente ao Brasil. De acordo com o relatório anual de integridade da empresa, o “país do futebol” encabeça a lista com mais jogos suspeitos de manipulação de resultados na temporada 2022.

O resultado é divulgado em meios às investigações do Ministério Público de Goiás (MPGO) que analisam um suposto esquema de manipulação de resultados na última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado.

Os números acendem um alerta e provocam uma necessária reflexão: que caminho Brasil precisa seguir para mudar esse cenário?

Udo Seckelmann, advogado e um dos principais especialistas da indústria de gambling, afirma que a prevenção da manipulação de resultados no Brasil requer uma abordagem que envolva todos os atores relacionados ao esporte.

“Em primeiro lugar, é essencial a contratação de empresas que ofereçam serviços de integridade esportiva por meio de estudos e coletas de dados, pois estas serão responsáveis por monitorar e investigar casos suspeitos, contribuindo para a identificação e punição dos responsáveis. A educação dos atletas, treinadores e árbitros sobre a importância da ética esportiva e os perigos da manipulação de resultados também deve ser tratada como prioridade, assim como a cooperação entre as organizações esportivas, autoridades governamentais e entidades internacionais para compartilhar informações e recursos. Por último, o apoio à transparência e ao compromisso com a integridade das entidades desportivas é fundamental para criar uma cultura de jogo limpo e reduzir a vulnerabilidade dos atletas à manipulação”, cita.

O advogado Rafael Marcondes, especialista em direito desportivo, entende que o primeiro passo para mitigar esse problema que coloca em risco o esporte brasileiro é a imediata regulamentação da indústria das apostas esportivas.

“Que fique claro, as casas de apostas são os principais prejudicados com as manipulações de resultados, e, mais do que isso, ao lado dos clubes, os principais interessados na regulamentação do setor. Somente com regras claras, pessoal capacitado e uma fiscalização rigorosa é que vamos conseguir frear essa onda de escândalos, na linha do que aconteceu com o doping anos atrás”, afirma.

“A regulamentação urge, o Governo Federal está ciente, mas ainda esbarra em entraves fiscais. Na ânsia de aumentar a sua arrecadação sobre a atividade, alguns setores políticos, ao manifestarem sua pretensão de sobretaxar a indústria de apostas, pode gerar um efeito reverso. Ao invés de aumentar a arrecadação governamental, tendem a fomentar o mercado paralelo, a evasão de divisas e, por consequência, a deterioração do esporte no Brasil. Somente com uma carga fiscal adequada, os operadores virão a se instalar no país – evitando operar a partir do exterior – e com isso, vão se submeter às regras e ao controle do Estado brasileiro, ente competente pela preservação da integridade esportiva, em conjunto com as entidades de organização do esporte”, acrescenta Marcondes.

O relatório, divulgado com exclusividade pelo ‘ge’, aponta que em 2022 foram registradas 1.212 partidas suspeitas de envolvimento com apostas esportivas em todas as modalidades, elevando as estatísticas em 34% em relação à temporada de 2021.

A empresa classifica como suspeitas as partidas que tenham fortes evidências de viciação de resultados ou que possuam indícios contundentes de manipulação de resultados.

O levantamento detalha que o Brasil teve 152 partidas suspeitas, o que representa 47% dos episódios que envolveram 10 países. O futebol foi o esporte que mais contou com possíveis manipulações, sendo 71,5% dos casos.

Segundo a Sportradar, os jogos suspeitos geralmente são de divisões inferiores, sendo 52% das partidas suspeitas de futebol da terceira divisão para baixo, como ligas regionais.

Confira o ranking da Sportradar

  1. Brasil – 152
  2. Rússia – 92
  3. República Tcheca – 56
  4. Cazaquistão – 43
  5. China – 41
  6. Grécia – 40
  7. Argentina – 39
  8. Filipinas – 37
  9. Polônia – 36
  10. Tailândia – 35

Por fim, o relatório da Sportradar aponta que, apesar do crescimento no comparativo com 2021, 99,5% dos eventos esportivos estão “livres de viciação de resultados”. Nenhum esporte teve taxa superior a 1% de ocorrências questionáveis.

Ao todo, foram detectados jogos polêmicos em 12 modalidades esportivas e em 92 países ao redor do mundo.

Atualmente, a Sportradar acompanha cerca de 850 mil partidas em 70 esportes nos mais diferentes países.

Crédito imagem: Freepik

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