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Cabral, o futebol brasileiro descobriu Portugal, mas o fado pode ser o canto da sereia!

A cada qual

A cada qual, como a estatura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prémio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.¹

O futebol brasileiro descobriu ao som do fado a terra de Camões, Eça de Queiroz, Pessoa e Cristiano Ronaldo. Há alguns anos o principal destino dos jogadores brasileiros no exterior é Portugal. Em 2018, segundo estudo da Fifa², foram realizadas 205 transferências entre os países. O zagueiro brasileiro Éder Militão, por exemplo, foi transferido do São Paulo ao Porto e, após grandes atuações pelo clube português, acaba de ser transferido para o Real Madrid por R$ 216 milhões. Por isso o mercado português atrai cada vez mais os brasileiros, e não só os jogadores.

O modelo de estrutura dos clubes portugueses atrai também a atenção de investidores e gestores brasileiros, que ganharam espaço com as dificuldades da economia local. Após a temporada 13/14, existem dois modelos de administração, sendo SAD (sociedade anônima desportiva), sociedade empresária de capital, ou SDUQ (sociedade esportiva unipessoal por cotas), que separa o clube social do futebol. Há a participação de vários brasileiros em diversos clubes portugueses, especialmente desde a compra do Estoril pelo grupo Traffic, em meados de 2010.

Uma das principais explicações para esse fenômeno é a grande capacidade de valorização dos jogadores pelos clubes portugueses. O estudo da Fifa ora referido aponta que no último ano o países acumulou mais de US$ 803 milhões em transferências para o exterior.

Ainda que haja certa dificuldade financeira no mercado português em comparação com outros mercados europeus, a segurança jurídica dos investimentos é muito maior se comparada à que se encontra no mercado brasileiro, em especial pela natureza jurídica dos clubes, como apontamos anteriormente.

Mas nesse mar de rosas, o sonho pode dar lugar a um pesadelo, em especial para jovens jogadores. Ontem dois “empresários” brasileiros foram presos, suspeitos de levar jovens jogadores de futebol e os deixar em condições indignas. Estão sendo acusados de tráfico de pessoas, segundo a polícia do país, e são suspeitos de ter cometido crimes de ajuda à imigração ilegal e de falsificação de documentos.

A suspeita é que os empresários prometiam aos jogadores um visto de residência com um contrato profissional desportivo, mas acabavam abandonando os jovens jogadores que não tivessem bom desempenho desportivo. A polícia local vem intensificando a fiscalização das irregularidades no futebol, e tem notado um aumento nessa prática.

Nessa linha, chamamos a atenção para a reflexão sobre esse caso, que infelizmente é comum. Vale a pena correr os riscos do sonho europeu? Os jovens jogadores brasileiros e seus familiares precisam avaliar bem as promessas de vida fácil na Europa, pois o fado pode se transformar no canto da sereia, que, apesar de belo, leva ao naufrágio.

Não será melhor Não fazer nada? Deixar tudo ir de escantilhão pela vida abaixo
Para um naufrágio sem água?
(A vida social é complexa para a minha fraqueza de nervos)
Estou farto de semi-deuses! Onde é que há gente no mundo?³

……….
¹ Poema “A cada qual”, de Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa).
² Global Transfer Market FIFA TMS.
³ Poema “Linha recta”, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa).

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