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Caso na Suécia ressuscita absurdo da verificação de sexo no esporte

Não acontecia só lá no passado. Aconteceu recentemente. As mulheres ainda são agredidas em direitos fundamentais em ambientes esportivos. Foi assim com a seleção de futebol feminino da Suécia.

A jogadora Nilla Fischer, uma das principais da história do futebol feminino da Suécia, revelou em sua autobiografia recém lançada um segredo assustador. De acordo com a jogadora, as atletas da seleção da Suécia tiveram que raspar e mostrar as partes íntimas para um médico homem para poderem participar da Copa do Mundo de 2011.

O procedimento pré-torneio tinha como objetivo comprovar que todas as jogadoras inscritas eram definitivamente do sexo feminino. A exigência da depilação teria como finalidade impedir que os pelos pubianos pudessem camuflar um pênis.

Em nome de manter ‘equilíbrio competitivo” e a igualdade entre competidores, mais uma vez o esporte esqueceu regras universais de direitos humanos. O esporte não só se afastou de sua essência integradora, mas cometeu crimes mais uma vez.

Pela gravidade do ato, esporte baniu esse tipo de teste nos anos 1960, depois de pressão de atletas e de coletivos de direitos humanos.

Histórico de agressão

Os testes de “verificação de sexo” fazem parte de capítulos tristes da história do esporte já há bastante tempo.

Na década 1930, o desempenho esportivo e a aparência física de algumas atletas passaram a chamar a atenção dos organizadores dos eventos, já que rompiam com o estereótipo da mulher frágil e incapaz de obter resultados expressivos. O discurso era de que “homens pudessem estar competindo na categoria feminina”.

Foi a partir dessa ideia que se instituiu a sistemática dos primeiros testes de “verificação de sexo” na década de 1960. No Campeonato Europeu de Atletismo em 1966 e nos Jogos Pan-americanos em 1967, todas as atletas foram submetidas a inspeções visuais em procedimentos que ficaram conhecidos como “paredões de nudismo”.

Tem um vídeo aqui que deve ser visto.

Nos Jogos da Commonweatlh disputados na Jamaica em 1966, a situação ficou ainda mais grave e invasiva. As atletas foram submetidas a exames ginecológicos manuais.

A situação absurda gerou protesto forte da comunidade esportiva, de coletivos de defesa das mulheres e Comitê Olímpico Internacional acabou por extinguir os testes visuais ainda na década de 1960. Mas a vigilância continuou e ele passou a adotar o teste de cromatina conhecido como Teste de Barr, o qual envolvia uma análise celular para identificar se a pessoa tinha formação cromossômica XX ou XY.

No entanto, atletas com síndromes que atingiam a formação cromossômica (síndromes como de Klinefelter, Turner ou insensibilidade androgênica) desafiavam as bases do Teste de Barr. Organizações de direitos humanos também se posicionaram e denunciavam o caráter discriminatório desses testes.

Então, os Testes de Barr foram substituídos pelo teste genético conhecido como SRY (sex-determining region), que focava a análise em uma região específica do cromossomo Y. Este último teste perdurou até 1999, quando o COI cedeu às pressões e extinguiu de forma oficial a sua política de testes dessa natureza.

Esporte e direitos humanos

Cada vez mais o esporte tem se posicionado de maneira firme contra a violação de direitos humanos, abraçando causas necessários como o combate ao preconceito, como racismo, homofobia e misoginia.

Entender e levantar a voz contra o absurdo do que aconteceu logo ali atrás é necessário, mesmo que com alguns anos de atraso. É a partir da coragem de atletas como Nilla, como Vini Júnior, Renné Richards e tantos outros que grandes mudanças acontecem.

Ao esporte não resta outro caminho a não ser o de respeitar sua natureza. Ele abraça, não afasta. Ele respeita, não agride. A verificação de sexo é uma violação, um crime a direitos humanos que o esporte não pode – jamais – compactuar, como já fez no passado.

Crédito imagem: Federação Sueca

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