Repercutiu pouco uma notícia vinda de Porto Alegre e que interessa a todos no Brasil. Ex-dirigentes do Internacional voltaram a ser condenados pela Justiça do Rio Grande do Sul na quinta-feira (21) que passou. A decisão foi proferida pela 2ª Vara Estadual de Processo e Julgamento de Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, em Porto Alegre, e refere-se a crimes cometidos pela dupla entre 2015 e 2016. A notícia é mais um alerta para todos os dirigentes no Brasil: integridade não é mais apenas uma questão moral, é sobrevivência.
Em abril de 2019, tive uma conversa com um dirigente de um grande clube brasileiro sobre a importância de implementar projetos de compliance no futebol. Disse a ele que o que hoje poderia ser visto como uma questão moral, em breve se tornaria uma obrigação legal e, mais adiante, uma questão de sobrevivência. Depois da primeira condenação dos ex-dirigentes do colorado, em março, ele me ligou e disse: “lembrei de você”.
Essa foi a terceira condenação na justiça comum dos ex-dirigentes O caso talvez seja o maior outdoor sobre a importância de uma atuação conjunta entre os clubes e o Estado para garantir a integridade no esporte.
O Processo Interno e a Justiça Comum
O Internacional deu início a um processo exemplar: coletou provas, conduziu investigações internas, julgou os envolvidos e baniu os dirigentes do clube. Em seguida, encaminhou os documentos ao Ministério Público, que iniciou uma nova investigação, culminando na sentença condenatória de 4 de março, a primeira.
Esse duplo movimento – sanção no âmbito privado e punição criminal na Justiça Comum – demonstra que é possível responsabilizar dirigentes de forma abrangente. O esporte tem mostrado que o investimento em integridade deixou de ser apenas uma questão ética: tornou-se uma necessidade estratégica para a sobrevivência das instituições.
A verdade é que a vida de gestores irresponsáveis e criminosos está ficando cada vez mais difícil. Isso porque, além do avanço das práticas de autorregulação no esporte, o Estado decidiu agir, com apoio dos próprios clubes.
A Democracia Interna como Pilar de Proteção
A condenação dos ex-dirigentes do Internacional também é uma vitória da democracia interna do clube e do modelo associativo. Movimentos internos de mobilização de associados, investigações robustas e punições efetivas mostraram que, sim, existem caminhos legais para investigar, julgar e condenar gestores que prejudicam as instituições esportivas.
Essa mudança é reforçada pela nova Lei Geral do Esporte, aprovada em 2023, que tipifica o crime de corrupção privada no Brasil. O avanço legislativo é fundamental, mas vale destacar que as ações do Internacional demonstram que a proteção das instituições pode – e deve – começar de dentro.
Também é verdade que essa conquista só foi possível porque o esporte tem se protegido com regras e políticas de integridade desenvolvidas internamente. A autonomia do esporte, um de seus pilares fundamentais, permite que clubes criem normas próprias de funcionamento e participação, forçando seus membros a seguir padrões éticos e de governança.
Autorregulação: Um Caminho Necessário
Exemplos de autorregulação já estão em prática no cenário esportivo global. O fair play financeiro e o Licenciamento de Clubes da FIFA são regulamentações que buscam garantir integridade, transparência e equilíbrio competitivo. No Brasil, a CBF já implementou o Licenciamento de Clubes e promete adotar, em breve, um sistema de fair play financeiro (quando. CBF?).
Outro instrumento promissor é o CNRD (Câmara Nacional de Resolução de Disputas), que também contribui para uma gestão mais profissional e transparente. Essa evolução regulatória não apenas transforma a administração esportiva, mas impacta o próprio Direito Desportivo, consolidando um ambiente de maior segurança jurídica.
Os Desafios da Gestão Moderna
O caso do Internacional é um alerta: os clubes precisam modernizar suas gestões. Conselhos atuantes e autônomos, comitês de ética, estatutos atualizados, transparência e ouvidorias independentes são ferramentas essenciais para proteger as instituições contra abusos.
A condenação criminal dos dirigentes do Internacional reforça a urgência da profissionalização da gestão esportiva e da implementação de mecanismos de compliance. Aqueles que resistirem a essas mudanças aprenderão, como os ex-dirigentes do clube gaúcho, da forma mais dura.
O Internacional mostrou que é possível transformar crises em oportunidades para fortalecer a governança e a integridade institucional. O esporte brasileiro precisa seguir esse exemplo – e quem não enxergar essa nova realidade, já ficou para trás.
Crédito imagem: GZH
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