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Caso Robinho e o valor da imagem nos jogos eletrônicos

O caso Robinho evidencia algo muito importante no esporte: o produto principal explorado pelo mercado é a imagem.

Diversos torcedores do Santos e fãs do futebol em geral clamaram pela não contratação do jogador pelo Santos por conta da condenação em primeira instância na Itália pelo crime de estupro.

No entanto a suspensão do contrato não se tratou de antecipação dos efeitos da condenação ainda não transitada em julgado.

No eSport Legal dessa semana abordaremos aspectos importantes dessa polêmica e casos semelhantes que já aconteceram no esporte eletrônico.

Mercado Esportivo: Imagem acima de tudo

É verdade que no esporte “puro” a busca pelo melhor rendimento é a prioridade, porém no esporte tratado como negócio, o rendimento é só o meio para um fim.

O mercado esportivo gira em torno da exploração da imagem de tudo que gravita o espetáculo esportivo, especialmente da competição, dos clubes e dos atletas. Nesse contexto, o bom desempenho e a vitória têm a única função de valorizar a imagem a ser explorada.

De forma bem simplista, o fluxo de dinheiro no mercado esportivo só existe por conta do fã/espectador, que tem interesse no espetáculo e em comprar os produtos dele. O interesse do fã pelo esporte, por sua vez, gera, pelas marcas, a intenção de se beneficiar com a associação a algum dos stakeholders, patrocinando a competição, os clubes e atletas ou comprando espaços publicitários em transmissões ou em outros conteúdos de mídia.

A associação da imagem pode ser positiva, mas também negativa

Se por alguma razão o patrocinador entender que sua marca pode ser prejudicada por alguma associação feita no mundo esportivo, é natural que ele vai procurar pressionar o patrocinado para que ele tome providências a fim de que o prejuízo não se concretize.

Voltando ao caso do Robinho, o contrato entre ele e o Santos não teve de ser suspenso porque ele supostamente cometeu um crime. O contrato foi suspenso, pois a sua imagem passou a ser um problema para os patrocinadores.

 

Caso Alanderson “4LaN” Meireles

No esporte eletrônico temos casos muito parecidos com o caso do Robinho, dentre eles se destaca o caso do jogador profissional de League of Legends Alanderson “4LaN” Meireles.

No final de 2019, uma influenciadora chamada Giovana Tezoni relatou ter sido assediada pelo jogador em uma festa (veja o fio https://twitter.com/gitezoni/status/1184630607176966144?s=20) e ter registrado boletim de ocorrência sobre o fato.

Não foi a primeira vez que o jogador esteve envolvido em casos de assédio, alguns meses antes outra influenciadora, Gabriella Antunes, havia relatado ter se sentido constrangida por ele (veja o fio https://twitter.com/Gabruxona/status/1129641523761565697).

Os vídeos bastante emocionais da suposta vítima narrando a sua versão dos fatos aliados ao histórico de comportamento do atleta foi suficiente para que a polêmica tomasse proporções gigantescas, que resultou na dispensa do atleta pela Team One, time onde jogava e desde então não conseguiu ser contratado por nenhum outro clube.

O caso, cujas investigações foram suspensas por conta da pandemia de Covid-19, ainda nem foi denunciado pelo ministério público.

Da mesma forma que Robinho, Alanderson não teve seu contrato com o clube desfeito por ter supostamente assediado, ele foi desfeito porque a Team One entendeu que sua imagem traria prejuízo aos patrocinadores e ao clube.

Caso Michel “foox” Felype

É possível observar, entretanto, que não é necessário que um atleta cometa um suposto crime para que sua imagem se torne insustentável para o clube.

O desligamento do jogador profissional da modalidade Valorant, Michel “foox” Felype, ocorrido no último domingo (18/10/2020) demonstra isso com clareza.

Após perder uma partida no campeonato qualificatório do First Strike para um time feminino, o jogador fez comentários como “eu tô perdendo pra mulher, se f****” (veja o vídeo https://twitter.com/pwesleyn12/status/1317983196240351234).

As manifestações machistas tiveram repercussão muito rápida e, na mesma noite, a equipe Black Dragons, cuja CEO, Nicolle “Cherrygumms” Merhy, é uma das principais lideranças feministas do cenário de eSports, publicou a seguinte nota:

Em seguida a Riot Games, detentora do Valorant, também e manifestou comunicando a suspensão do jogador da competição por ter infringido a regra 5.3.4 do regulamento do Valorant First Strike e o Código da Comunidade de Valorant:

“5.3.4 Discriminação e Difamação

Membros das equipes não podem ofender a dignidade ou integridade de um país, pessoa ou um grupo de pessoas por meio de palavras ou atos de desprezo ou ações de raça, cor de pele, etnia, nação, origem social, gênero, língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, status financeiro, idade ou qualquer status de orientação sexual.”

O patrocinado também pode ser prejudicado pela imagem do patrocinador

E foi justamente o que aconteceu quando a LEC – League of Legends European Championship anunciou a Neom, uma cidade da Arábia Saudita que foi planejada e construída para ser uma zona econômica transnacional, como patrocinadora.

Ocorre que Mohammad bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita e “dono” da Neom é apontado como violador de diversos direitos humanos pela Amnistia Internacional e a Human Rights Watch.

O anúncio do patrocínio rapidamente gerou um descontentamento entre os fãs do eSport europeu, os jogadores profissionais e até entre os funcionários da Riot Games, detentora do jogo League of Legends e da competição patrocinada.

Chegaram a ser feitas ameaças de boicote pelos jogadores que disseram que não jogariam caso o patrocínio fosse concretizado, no mesmo sentido a equipe de narradores disse que se negaria a participar da competição.

A Riot Games rapidamente anunciou que havia cancelado o patrocínio e pediu desculpas à comunidade.

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