Não sei por que, quando estamos diante de um jogo qualquer, temos essa mania de torcer pro time mais fraco. Foi assim na Copa das Confederações, naquele Espanha e Taiti, em que o Maracanã inteiro embalava um “vai virar” cada vez que saía um dos dez tentos a zero marcados pelo time europeu.
No Mundial, não haveria de ser diferente. Por muitos anos, a Copa do Mundo foi jogada pela Europa, com alguns poucos representantes da América do Sul, e ninguém mais do resto do mundo. Na verdade, a Europa era o mundo. Se ditavam a economia, as artes e a moda, por que não o futebol?
Em 2018 a última edição trouxe uma infinidade de representantes dos cinco continentes. Alguns com alguma experiência, outros com nenhuma. Neste último balaio, a equipe do Panamá. Com sua primeira participação, a expectativa: o gol. Claro. O momento mais sublime do futebol haveria de acontecer pra eles. Pela primeira vez, o Panamá tinha a chance de fazer um gol em uma Copa do Mundo.
Iniciado o jogo, de fato, os balaços na rede começaram a sair. Pra Inglaterra. Um, dois, três. O curioso? Mais do que aquele que vencia, o time perdedor era quem parecia ser o dono dos minutos vividos no tapete verde. Perdia, é verdade, mas se aquela era a festa mais importante do futebol, por que não aproveitar?
O primeiro tempo ainda se arrastava, e mais um tento europeu! Cinco, seis. Furacão Kane se sagrava artilheiro e seria o personagem da partida. Seria, até que, bola levantada na área… GOL! GOL DO PANAMÁ!
Dali pra frente, pobres ingleses, os seis gols não valeriam por um. As arquibancadas iam à loucura. O rádio e a televisão também. Secretamente, quem sabe seus próprios compatriotas. Os onze bretões em campo jogavam contra a rapa.
Incrédulos, os panamenhos trocavam passes com calma. Riscavam a grama com capricho. Um desavisado poderia achar que ganhavam com folga, e por isso debochavam do tempo. Tinham carinho com cada segundo com a bola, pena de deixar ela ir. Aproveitavam. Se divertiam.
Quando o juiz apitou o fim da partida, o Panamá parecia ser a primeira equipe a ganhar sem ganhar. A desclassificação para a fase seguinte não importava. Eram os mais felizes do estádio. O locutor panamenho se embargava: marcou meu país! Se abraçavam, choravam, e a torcida chorava com eles. Comemorávamos com eles.
Não sei por que temos essa mania de torcer pro time mais fraco.
Pode ser que, como uma vez alguém brincou, façamos isso porque queremos ver a vitória da várzea. A derrota do campeão, em seu próprio chão. O circo dentro do pão¹.
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¹ Quero a vitória, de Paulo Leminski.