Apesar das várias restrições trazidas pela Covid-19, há quem diga que “o momento de ser corajoso é quando os mercados estão voláteis”. É assim que parece estar pensando o grupo de investidores que, aparentemente, pretende comprar o Newcastle United Football Club.
Atualmente na Premier League, a primeira divisão do futebol inglês, Newcastle foi comprado pelo bilionário Mike Ashley em 2007 por 134 milhões de libras esterlinas. Desde então o clube parece muito distante dos seus tempos de glória, quando disputava títulos da Premier League e constantemente era protagonista da Champions League (ou sua antecessora) nos anos 90 e começo do século XXI.
Mas quem poderia adquirir o clube pela bagatela de 300 milhões de libras? Principalmente durante esse período tão incerto? É claro, um fundo do Oriente Médio.
Segundo reportagem da BBC, um grupo de investidores financiados pelo fundo de investimento público da Arábia Saudita, está cada vez mais próximo de chegar a um acordo para a compra do Newcastle United.
Toda vez que escutamos histórias assim, lembramos dos sucessos recentes de clubes como Manchester City e (de certa forma) PSG, ambos financiados por fundos semelhantes. Também lembramos das normas de fair play financeiro trazidas pela UEFA e, é claro, as recentes sanções derivadas dessa correlação. Vejam o caso do Manchester City na nossa coluna de 20 de fevereiro de 2020.
Enquanto os torcedores do Newcastle comemoram o prospecto da transação (muitos mais pela saída do controverso dono do clube), críticos consideram a transação como mais um exemplo de utilização do esporte como plataforma de controle de imagem internacional de países com má-reputação por violações de direitos humanos. O chamado “whitewash” (camuflar fatos ou histórico incriminador) é potencialmente uma das estratégias mais utilizadas no mundo corporativo do esporte atualmente.
Dentro de campo, as críticas também não ficam longe disso. Arsene Wenger, ex-manager do Arsenal, já dizia que a injeção de capital por esses fundos no mundo do futebol é “doping financeiro”.
De qualquer forma, as regras atuais da UEFA e da English Football League (EFL, formada em 1888 e tida como a primeira liga de futebol do mundo), já têm mecanismos para monitorar e barrar qualquer tipo de motivo obscuro por trás de intenções de compra de clubes de futebol. A UEFA, por meio das regras de financial fair play. A EFL, por meio do Owners’ & Directors’ Test (ODT): todos os gestores de clube (donos e diretores) têm de passar no ODT. Esse “teste” foi iniciado pela FA em 2004 para combater corrupção e melhorar a transparência sobre a real propriedade dos clubes, bem como para proteger a reputação e imagem do esporte. O ODT se aplica a todos os clubes da Premier League e, pelo menos, às duas divisões inferiores.
Nossa opinião é de que basta a aplicação apropriada dessas regras para que o esporte não seja utilizado como plataforma para qualquer outro propósito a não ser o que é de sua natureza: a promoção pacífica de entretenimento. É claro, com muita, mas muita paixão envolvida.