O Cruzeiro anunciou com bastante entusiasmo parceria com a Ernest Young para implementação do projeto de implantação do clube-empresa.
Mas será mesmo que virar clube-empresa resolverá todos os problemas do clube?
Há uma narrativa quase que única de que virar empresa trará a salvação para endividamento dos clubes de futebol. Esta narrativa aponta que o clube empresa acabaria com a má administração e atrairia investidores.
Entretanto, tornar-se clube-empresa não é garantia de sucesso. Isso porque não importa se o clube de futebol é uma associação, uma empresa ou uma fundação. O que importa é profissionalizar a gestão e, sobretudo, realizá-la de forma honesta e em respeito às finanças, ou seja, gastando menos do que se arrecada,
A experiência em outros países mostrou que o clube-empresa não resolve nada.
No início dos anos 90, uma lei espanhola converteu os clubes de lá em empresas.
Trinta anos depois os clubes continuam endividados, o campeonato espanhol é pouco competitivo e justamente os clubes que não se tornaram empresa (Barcelona e Real Madrid) estão entre os mais ricos do mundo.
O projeto de lei que tramita no Congresso Nacional, na prática, tende a ser mais uma forma de se refinanciar as dívidas dos clubes com o Governo do que um meio de se criar melhores práticas de gestão.
Um exemplo prático de que o clube-empresa por si só não resolve os problemas é o Figueirense que, em 2019, sofreu W.O quando seus atletas não entraram em campo por falta de pagamento.
O torcedor do Cruzeiro não deve se iludir. Transformar-se em empresa pode ser uma alternativa para situação atual do clube, mas, de longe, não é garantia de solução. Permanecer como está também não é certeza de que dará errado.
O Cruzeiro possui atualmente 164 ações trabalhistas em curso em Minas Gerais. Sendo empresa, associação ou fundação, eventuais débitos vindos dessas demandas precisam ser equalizados. E mais do que isso, outras demandas devem ser evitadas.
Ainda que o clube-empresa possa atrair investidores, não há como assegurar que serão bons gestores.
Vale lembrar que em 2017, o Milan foi adquirido por um grupo chinês que não pagou as dívidas do clube. O que outrora era um dos maiores clubes do mundo, hoje não tem obtido resultados significativos.
Por fim, há de se destacar que empresas podem sofrer falência. No caso do Cruzeiro, é imprescindível uma análise da real situação do clube para se ter certeza da sua capacidade pagadora, pois, existiria o risco do clube virar uma empresa e ter sua falência decretada na sequência.
Seria trágico!
A atual Diretoria é composta por profissionais gabaritados, a consultoria contratada é das melhores do mundo. Ou seja, tem-se buscado o melhor para o restabelecimento do clube econômica e desportivamente.
De toda sorte, é importante destacar que se tornar clube empresa não solucionará nada e nada vai mudar se as melhores práticas de gestão não forem aplicadas.