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Clubes que criaram a Superliga Europeia poderão ser excluídos pela Fifa? Especialistas respondem

A criação da Superliga Europeia promete inúmeras discussões nos próximos dias. Uma delas é saber se a Fifa e Uefa vão cumprir as ameaças e excluir os clubes e jogadores que participarem da nova competição. No último domingo (18), a confederação do futebol europeu voltou a dizer que “as equipes envolvidas seriam proibidas de participar de qualquer outra competição”.

“Conforme anunciado anteriormente pela Fifa (…), os clubes envolvidos seriam proibidos de participar em qualquer outra competição a nível nacional, europeu ou mundial, e aos seus jogadores poderia ser negada a possibilidade de representar as suas seleções nacionais”, disse a Uefa em comunicado.

Mas isso de fato pode acontecer? Para saber essa resposta, o Lei em Campo ouviu especialistas sobre o assunto.

“De forma alguma. Essa disputa certamente chegará a uma discussão da validade das normas da FIFA que vedam a participação em outras competições, algo que vai de encontro à legislação antitrust. Essas normas da FIFA são ilegais e visam a manutenção do monopólio de uma atividade econômica, algo que não é compatível com a estrutura jurídica e econômica da sociedade atual”, avalia Vinicius Loureiro, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Tiago Gomes, advogado especialista em direito comercial, explica que os artigos 51, 53 e 54 do regulamento da Uefa preveem a exclusão de atletas e clubes que participarem de competições não autorizadas pela entidade.

“Portanto, em tese, seria possível falar em exclusão de clubes e atletas que participem da Superliga, de competições oficiais organizadas pela FIFA, suas confederações e federações.  Parece-me que se este tema vier a ser analisado pelas autoridades concorrenciais europeias – que teriam, em tese, jurisdição para avaliar o caso, uma vez que ao menos seis clubes envolvidos na criação da Superliga são de países membros da União Europeia – há uma grande chance de tal exclusão de clubes e atletas vir a ser considerada em violação à legislação concorrencial europeia, de maneira muito semelhante com a decisão proferida pela própria Comissão Europeia no caso envolvendo a Federação Internacional de Patinação de Velocidade, a ISU”, completa Tiago.

Vinicius Loureiro também cita como exemplo a decisão de 2018 do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJCE) que deu ganho de causa a dois patinadores que pleiteavam a participação em competições não oficiais. “Já há casos semelhantes na natação e no atletismo, em que atletas conseguiram judicialmente o direito de disputar competições fora das estruturas federativas internacionais sem que sofram quaisquer punições pelas federações. A mesma lógica deve ser aplicada aos clubes, derrubando todas as cláusulas que visem a manutenção do monopólio ou limitem a participação de clubes em outras competições”, afirma o advogado.

“Na conjuntura atual, a briga é por dinheiro, poder e mercado. No momento em que relevantes, elitistas e endinheirados clubes do cenário europeu se reúnem numa espécie de oligopólio, anunciando que pretendem ser concorrentes do monopólio futebolístico mundial, lançando liga própria, semifechada, é natural que FIFA e UEFA ameacem utilizar as ferramentas associativas que têm à disposição para coibir o movimento na tentativa de preservar seu controle sobre o produto futebol. Ou seja, associativamente, a FIFA/UEFA podem, a princípio, excluir os clubes que venham a organizar um produto concorrente, decisão esta que, se tomada, será objeto de longa discussão judicial”, disse Victor Targino, advogado e consultador especialista em direito desportivo.

“Por outro lado, não podemos esquecer que é direito dos clubes escolher o sistema do qual queiram participar, sob o risco de ter de optar por um ou outro. As questões decorrentes são: (i) os atletas podem ser prejudicados pela opção tomada por seu empregador? (ii) A Superliga terá sustentabilidade (leia-se, base de fãs, audiência, receita e interesse midiático e dos próprios atletas) para sobreviver de maneira independente e regular à margem do sistema FIFA ou os clubes atores do futebol mundial, gradualmente, serão substituídos por aqueles que se mantiverem fiéis à federação internacional?”, questiona Targino.

Em janeiro, quando surgiram as primeiras especulações sobre a nova competição, tanto a Fifa quanto a Uefa já haviam anunciado medidas duras contra os clubes e jogadores que participassem da Superliga Europeia.

O anúncio da criação da Superliga Europeia foi feito na noite deste domingo e compartilhado nas redes sociais dos 12 clubes fundadores: Manchester United, Liverpool, Manchester City, Arsenal, Chelsea, Tottenham, Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid, Inter de Milão, Milan e Juventus.

A Uefa não descarta entrar na Justiça contra os clubes dissidentes. “O futebol é baseado em competições abertas e mérito esportivo; não pode ser de outra maneira”.

Durante uma reunião do Comitê Executivo da Uefa nessa segunda, o presidente da entidade, Aleksander Ceferin, voltou a criticar a criação da Superliga Europeia e citou as possíveis punições aos envolvidos.

“Os jogadores que participarem de uma liga fechada serão proibidos de jogar na Copa do Mundo e na Euro. Eles não poderão jogar por suas seleções. Essa ideia é uma cusparada na cara de quem ama futebol. Não deixaremos que tirem o futebol de nós”, disse Ceferin.

De acordo com o jornalista italiano Tancredi Palmeri, a Uefa está estudando a possibilidade de banir os clubes fundadores de suas competições. Uma consulta jurídica está sendo feita para que Real Madrid, Chelsea e Manchester City sejam excluídos da atual edição da Champions League, o que faria com que o PSG se consagrasse campeão.

Enquanto isso, os 12 clubes também se movimentam juridicamente. Segundo o jornal ‘The Associated Press’, eles já iniciaram ações na Justiça para evitar de serem impedidos de levar a competição adiante.

Targino ainda lembra que existiram casos semelhantes no esporte: “se olharmos para trás, é possível identificar movimentos de ruptura similares em outros esportes (Euroliga de Basquete, em 2000; disputa entre Novo Basquete Brasil e CBB, em 2008; cisão entre CART e Indy Racing League nos EUA, em 1996; Fórmula 1 na década de 1970, entre construtores e FIA) e no próprio futebol nacional (Clube dos 13, Copa União e a infindável disputa sobre o Brasileiro de 1987)”.

“Apenas o tempo (e, provavelmente, os Tribunais) dirão quem sairá vencedor de mais esse capítulo de disputa de poder e interesses no esporte”, finaliza Targino.

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