Imagine a possibilidade de viver o esporte e a própria vida de acordo com as indicações de um treinador excepcional? Imagine se esse treinador for o icônico Papa Francisco?
Pois, no próximo dia 7 de setembro de 2020 será apresentado em Roma, um manual que reunirá algumas considerações extraídas dos discursos feitos pelo Papa nos últimos anos a atletas de várias disciplinas: “Mettersi in gioco. Pensieri sullo sport”. Em português, “Colocar-se em jogo. Pensamentos sobre o esporte”.
Prefaciado pelo jogador de futebol Francesco Totti, pela campeã de maratona e responsável pela equipa de refugiados do Comitê Olímpico Internacional, a queniana Tegla Loroupe e pelo campeão do ciclismo paraolímpico e ex-automobilista Alex Zanardi, o livro chega às livrarias italianas com a promessa de servir como base conceitual para um treinamento esportivo e espiritual.
Não é de hoje que a Igreja Católica valoriza o esporte como um campo em que se desenvolvem as virtudes da “sobriedade, humildade, coragem e paciência”. Em 2018, o Vaticano publicou o “documento sobre a perspectiva cristã do desporto e da pessoa” denominado “Dar o melhor de si” (Dare il meglio di sé, http://www.laityfamilylife.va/content/dam/laityfamilylife/Pdf/061418%20POR%20-%20Dare%20il%20meglio%20di%20s%C3%A9.pdf ), uma reflexão que alerta para questões como a corrupção, o uso de substâncias proibidas, as apostas ilegais e o desrespeito aos limites físicos dos atletas.
“Não podem justificar-se eticamente os desportos que, inevitavelmente, causam sérios danos ao corpo humano. Nos casos em que se tenha tido conhecimento dos efeitos nocivos de um desporto para o corpo, incluindo danos cerebrais, é importante que as pessoas de todos os setores da sociedade tomem decisões que coloquem a dignidade da pessoa e o seu bem-estar em primeiro lugar”, assinala o documento “Dar o melhor de si”, onde os problemas gerados pela dopagem física e mecânica e pela corrupção que enganam “deliberadamente” os demais participantes e os espectadores são destacados como sendo ofensivos à integridade esportiva.
Atual, o texto de 2018 fala dos esportes eletrônicos, pedindo um “diálogo ativo” para evitar os riscos do “individualismo”, no qual não cabem, “propósitos sociais nem educativos”.
Segundo o Vaticano, a prática esportiva permite “experimentar a alegria, o encontro com pessoas diferentes” e a construção de um “sentido de comunidade”, o crescimento nas virtudes e na autotranscedência que podem ensinar-nos também algo sobre a dignidade da pessoa humana e sobre o valor, que, definitivamente, não significa preço.
Aguardado com curiosidade, o livro “Colocar-se em Jogo” – escrito no estilo simples e direto, que é típico do Magistério do Papa Francisco – reúne trechos dos discursos mais significativos feitos a atletas de diversos níveis, desde grandes campeões até crianças e atletas iniciantes, falando sempre a linguagem de todos os povos.
Em tempos de valorização do propósito em contraposição a meros objetivos e metas, a ideia por trás de iniciativas como o “Dar o melhor de si” e “Colocar-se em Jogo” não parece ser criar um esporte cristão – o que nem seria possível sob a perspectiva olímpica, já que a Carta Olímpica proíbe influências religiosas – mas difundir uma visão mais cristã, inteira, íntegra do esporte.