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Combate ao racismo no esporte. Há limite?

O racismo foi um dos temas mais discutidos em 2020. No esporte, nunca esteve em tanta evidência. Diversos casos foram presenciados, tanto no Brasil quanto fora dele, forçando federações a criarem programas de combate a essa prática criminosa. Recentemente, um caso chamou a atenção. O experiente Edison Cavani recebeu três jogos de suspensão por usar um termo considerado racista ao agradecer um torcedor em suas redes sociais, violando as regras da federação inglesa. Nesse caso, a variedade linguística de seu país pode ter sido um agravante. Dessa forma, uma pergunta se faz necessária: Há limite para se combater o racismo no esporte?

“É uma questão delicada. As línguas anglo-saxônicas não têm variantes de gênero e diminutivos como temos nas línguas latinas. Por outro lado, a federação ter uma norma que pune a utilização de termos racistas é uma conquista importante. Não conheço o que diz o regulamento, mas me parece que a fala do jogador foi amigável e não pretendeu ofender ninguém, pelo contrário”, avalia a advogada Mônica Sapucaia Machado, especialista em compliance de gênero.

“O combate ao racismo é imperativo em todos os campos, seja no esporte ou no cotidiano das pessoas. No esporte, em especial, as atitudes de enfrentamento à discriminação racial comportam notório significado, por ser característica do esporte a interação de todos os grupos de pessoas, de distintas classes e cores”, completa Valerio Mazzuoli, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

Na última quarta-feira, 31 de dezembro, o atacante Edinson Cavani recebeu três jogos de suspensão pela Football Association (FA) por conta de um comentário. Após a vitória do Manchester United sobre o Southampton, no final de novembro, o uruguaio usou a expressão “Obrigado, negrito”, para agradecer um post de um torcedor.

A repercussão não foi boa, a mensagem foi apagada, e uma investigação foi aberta com sua conclusão apenas na semana passada. Além da suspensão, Cavani também foi multado em 100 mil libras (R$ 710 mil na cotação atual), punição máxima para casos dessa natureza segundo o regulamento. A FA considerou a postura do uruguaio inapropriada e classificou o termo utilizado como “abusivo e/ou impróprio”.

“A última coisa que eu queria era ofender alguém. Me oponho completamente ao racismo e apaguei a mensagem assim que me explicaram que poderia ser interpretado de outra maneira. Eu gostaria de me desculpar sinceramente por isso”, se desculpou o jogador após o ocorrido.

A punição aplicada pela FA à Cavani não foi bem vista pela Academia de Letras do Uruguai, que a classificou como “ignorante” e uma “grave injustiça”. De acordo com a associação linguística, o termo “negrito” se refere a um tratamento afetuoso na variedade linguista do Uruguai e Espanha, apesar de ter um teor negativo em outros contextos.

“Nossa luta antirracista é para que o vocabulário exclua as palavras que subjuguem, humilhem, inferiorizem por questões raciais, a intenção do jogador não era essa, mas a palavra pode ter esse sentido. Então talvez a punição seja exagerada, mas é um processo educacional, de desmonte do racismo estrutural”, afirma Mônica Sapucaia.

A situação não é inédita. Em novembro de 2019, Bernardo Silva, do Manchester City, também foi julgado e suspenso por um jogo, além de ter que pagar uma multa de 50 mil libras (R$ 355 mil) após fazer uma interação racista com o lateral Benjamin Mendy, companheiro de equipe. O atacante Luís Suárez, hoje no Atlético de Madrid, também foi punido por utilizar o termo “negrito” para se referir ao ex-lateral Patrice Evra.

Nos últimos meses, diversas ligas criaram mecanismos para receber denúncias de atitudes racistas, prometendo punições rigorosos para quem praticar o crime. Na Inglaterra, um torcedor foi banido dos estádios por cinco anos após proferir ofensas ao atacante Sterling, do Manchester City, e outros respondem a processos judiciais após enviar mensagens com teores discriminatórios nas redes sociais dos jogadores.

“Já é tempo de o ambiente desportivo dar exemplo de combate à discriminação racial, mudando conceitos que ainda se fazem presentes na estrutura de sua formação. É inconcebível esporte com racismo, pois o esporte foi criado para unir os povos e não para segregá-los”, completou Mazzuoli.

Ainda há muito a ser feito, mas a iniciativa de jogadores e punições rigorosas de federações e confederações pode ser um caminho importante para reduzir cada vez mais o racismo.

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