Com o afastamento provisório de Rogério Caboclo, os bastidores sobre a sucessão na presidência da Confederação Brasileira de Futebol começaram a ferver. Dentro desse processo eleitoral, a Conmebol terá um papel decisivo. Político, claro, mas também de legalidade.
Desde 2016, o estatuto da entidade sulamericana determina que todos os candidatos a cargos executivos das federações nacionais devem passar por uma checagem de idoneidade interna, mas também por uma avaliação da Subcomissão de Controle da Comissão de Governança e Transparência da Conmebol.
O poderoso Daniel Angelici não passou no teste.
O então presidente do Boca Juniors teve sua candidatura a vice-presidência da Associação Argentina de Futebol vetada em função de uma “ficha suja”. A AFA passava em 2017 por uma grave crise interna, inclusive com interferência do presidente argentino à época, Maurício Macri.
Angelici foi vetado por conta de seus problemas relativos ao futebol, mas também por outros fora dele. Entre as acusações, tráfego de influência sobre juízes. Dono de bingos, ele teria atuado para influenciar a comissão de jogos no país, e exercido influência junto a Macri.
No futebol, Angelici teve áudios revelados em que mostra interferência em decisões do tribunal disciplinar a favor do Boca Juniors. Em um deles, pede ao ex-presidente da AFA que dê orientações aos árbitros sobre não prejudicar o seu time.
Com as denúncias, o Subcomissão de Controle vetou que Angelici assumisse a vice-presidência da AFA. O caso se tornou referência para a entidade mostrar importância da reforma do estatuto e independência desse processo.
Depois de recurso ao Tribunal Arbitral do Esporte (última instância da cadeia jurídica do esporte), Angelici assumiu a vice-presidência da entidade, com a proibição de não ter funções internacionais no futebol, especialmente na Conmebol. Ele ficou no cargo até 2020.
Essa subcomissão de controle da Conmebol é um departamento que deve atuar de forma independente do Conselho Executivo, a cúpula da entidade. As suas decisões precisam ser aplicadas. Os nomes dos componentes são indicados pelas associações membros e devem ser eleitos pelo Congresso da entidade sulamericana. Hoje, fazem parte o colombiano José Montealegre, o equatoriano Galo Yerovi e o brasileiro Sérgio Antônio Ribas.
Rogério Caboclo está afastado por trinta dias em função de uma denúncia de assédio sexual e moral de uma secretária da entidade. O caso já está sendo investigado pelo Comitê de Ética da entidade e pelo Ministério Público do Trabalho do Rio de janeiro, como trouxe o Gabriel Coccetrone em primeira mão no UOL/Lei em Campo. Mas, além disso, outro áudio em que ele fala sobre uma interferência do ex-presidente Marco Polo Del Nero (banido do futebol) na entidade também é alvo de análise da FIFA.
Claro que a situação de Rogério Caboclo será analisada por esse departamento da entidade sulamericana. Mas não só o nome dele, como o de todos que se habilitarem para a eleição do ano que vem.
O estatuto da CBF determina que em casos de vacância (afastamento de Caboclo), o presidente que ocupar a cadeira provisoriamente (Coronel Nunes) tem que convocar um pleito no qual só os vices podem participar. Mesmo nesse caso, a Subcomissão de Controle da Conmebol precisa avaliar os nomes, já que o escolhido fará parte do Conselho da entidade.
As eleições para o próximo mandato na CBF já acontecem em abril do ano que vem. Não havendo afastamento definitivo de Caboclo, ele pode concorrer à reeleição.
Trabalhar com transparência e com comissões independentes tem que ser compromisso de todas as instituições preocupadas de fato com integridade e ética. Mas o elemento político do esporte é sempre um freio dentro desse processo necessário que precisa ser aprimorado.
Nesse momento, em que eleição e moralidade se encontram, a questão política também tem peso gigante . Alejandro Dominguez, presidente da entidade sulamericana, tem perdido força política. Ter o Brasil como aliado se tornou estratégico. Caboclo trouxe a Copa América para o Brasil, num movimento muito importante para Dominguez.
A verdade é que além das questões legais, as movimentações do tabuleiro político serão decisivas para se entender os rumos que o futebol brasileiro irá tomar. A eleição de 2022 já começou.
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo