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Condenação de agressores de Vini Jr. representa avanço e mudança de paradigma, afirmam especialistas

Nesta segunda-feira (10), a Justiça da Espanha condenou a oito meses de prisão três torcedores do Valência acusados de proferirem insultos racistas contra Vinicius Junior, do Real Madrid, durante partida do Campeonato Espanhol, em maio do ano passado, no estádio Mestalla. Além disso, o trio fica proibido de frequentar estádios durante dois anos e precisará arcar com as custas do processo.

Os torcedores foram condenados por crime contra a integridade moral do brasileiro, agravado por motivações racistas.

Sentença é histórica e representa mudança de paradigma na Espanha

A decisão desta semana é considerada histórica, dada que se trata da primeira condenação por racismo num jogo de futebol na Espanha. Segundo especialistas, a sentença é um avanço significativo.

“Mais uma conquista decisiva no avanço da proteção de direitos humanos no esporte. Essa, na esfera estatal. Ou seja, Vinicius Jr teve papel decisivo em avanços recentes no combate ao preconceito no futebol em dois sistemas independentes. Um do Estado, com essa decisão inédita; outro, dentro do sistema do futebol, com a determinação da FIFA às federações internacionais que punam com rigor violações a direitos humanos. O futebol avançou”, avalia Andrei Kampff, advogado especialista em direito desportivo.

Marcelo Carvalho, fundador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, afirma que a condenação representa uma mudança de paradigma na Espanha em relação ao racismo.

“Devemos comemorar muito essa sentença. Porque é uma mudança de paradigma, do sistema que a gente via na Espanha, das diversas denúncias que tínhamos notícias, não só contra o Vinícius Júnior, como com outros atletas, que a gente não tinha punição. A punição parece pequena, mas ela é bem importante, porque ela toca em dois pontos: na questão da justiça esportiva, que é a proibição dos torcedores de frequentarem os estádios, mas também vai além do campo, que é a determinação de oito meses de prisão para esses torcedores. Então essa quebra de paradigma é um importante recado para que outros torcedores racistas repensem as suas atitudes, porque agora já existe a possibilidade de punição. Quando a Espanha lá atrás disse que os cânticos contra o Vini Jr por parte da torcida do Atlético de Madri, era parte do torcer, e deu o recado que podia, que estava liberado as ofensas. Agora o recado é diferente, e por isso é uma grande, a gente tem uma grande expectativa que isso aconteça nos demais casos, não pode ficar nesse único caso”, analisa.

“Eu sou algoz de racistas”

Em suas redes sociais, Vini Jr comemorou a condenação dos três torcedores e ressaltou que é o “algoz de racistas”.

“Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas jogar futebol.

Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos.

Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica. Vem mais por aí”

FIFA e CBF valorizam condenação

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, valorizou a decisão da justiça espanhola de condenar os três torcedores do Valência pelas ofensas racistas contra o atacante brasileiro. Em nota, o comandante da entidade máxima do futebol destacou a importância de uma condenação desse tipo no combate ao racismo no meio do futebol.

“Estou satisfeito por ver o gesto e a sentença firmes por parte das autoridades espanholas com relação às ofensas racistas direcionadas a Vinicius Júnior em partida da La Liga espanhola em maio de 2023. Este é um passo positivo.

Conforme reiterei claramente no recente Congresso da FIFA em Bangkok, não podemos mais aceitar o que tem ocorrido em estádios e nos gramados. Nossa mensagem às pessoas em todas as partes do mundo que ainda se comportam de forma racista quando se relacionam com o futebol é clara: nós não queremos vocês. Essas pessoas têm que ser excluídas, elas não fazem parte da nossa comunidade nem são parte do futebol.

Essa decisão demonstra um dos cinco pilares de ação da FIFA: acusações criminais. Nós, unidos como futebol global, vamos lutar pelo reconhecimento do racismo como crime em cada país do mundo e, como vimos hoje na Espanha, onde já tenha existido um caso do tipo, vamos lutar pelo processo criminal com a severidade que o tema merece”, disse Infantino.

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF e membro dos Conselhos da FIFA e da Conmebol, enxergou a condenação como um sinal de evolução, mas que a punição ainda foi branda.

“A decisão é um começo, um caminho, e mostra a importância da pressão da sociedade para que as autoridades realmente se envolvam nesta luta contra o racismo. Foi uma punição que eu interpreto ainda como branda, mas os passos estão sendo dados, de degrau em degrau”, disse o dirigente.

“O racismo não vai desaparecer da noite para o dia. Uma decisão deste porte nos deixa com mais força para continuar na luta. Os racistas precisam, pelo menos, ter medo, a partir de agora, de cometer um crime terrível como esse. A CBF foi a primeira entidade nacional a incluir penas desportistas por racismo e não vamos parar. Só quem sofreu com o racismo sabe o tamanho da dor”, acrescentou.

Relembre o caso

O caso que levou à condenação ocorreu no dia 21 de maio de 2023. Os insultos contra Vini Jr começaram por volta dos 15 minutos do segundo tempo, quando o brasileiro sofreu uma falta e foi chamado de “mono” (macaco, em espanhol) por torcedores do Valência. Os xingamentos continuaram, o que fez o locutor do estádio Mestalla pedir o fim dos gritos.

No entanto, a situação explodiu aos 48 minutos do segundo tempo, quando o goleiro Mamardashvili partiu para cima de Vinicius Junior — ambos receberam cartão amarelo inicialmente —, e outros atletas foram envolvidos.

No meio da confusão, o atacante Hugo Duro deu um mata-leão no brasileiro, segurando-o pelo pescoço. Ao se desvencilhar, Vini Jr. acertou o rosto do adversário. Acalmados os ânimos, o VAR chamou Burgos Bengoetxea, que reviu o lance e decidiu expulsar o brasileiro.

Após levar o cartão vermelho, Vini Jr. saiu de campo aplaudindo e fazendo gesto com o número 2, em referência ao risco de rebaixamento do Valencia. Integrantes da comissão técnica e jogadores do time da casa foram tirar satisfação. O brasileiro precisou ser escoltado por colegas de Real Madrid.

Crédito imagem: Getty Images

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