A primeira fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior 2024 chega ao fim nesta quinta-feira (10). Dos 128 times participantes, apenas 64 seguem em busca do título da competição de base mais tradicional do futebol brasileiro. O torneio é visto por muitos como uma “fábrica de talentos”, mas a realidade não é bem essa. São poucos os jovens que disputam a Copinha que conseguem subir ao profissional e, mais do que isso, se manter na atividade.
Vamos aos números. De acordo com um artigo produzido pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte, a probabilidade de uma criança se tornar um profissional do futebol é de apenas 1,5%.
Outro dado importante é referente à questão salarial. Segundo informações da Universidade do Futebol, com base em dados da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mais da metade (55%) dos jogadores profissionais no Brasil recebiam, em 2021, aproximadamente um salário mínimo. Naquele ano, o valor era de R$ 1,1 mil.
Os números acima reforçam a tese que pouquíssimos são os jogadores ricos. A realidade do futebol não é a de Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, Mbappé, entre outros. Claro que a Copinha pode ser um caminho para um sonho improvável, mas possível. Contudo, depois de passar pela barreira do profissionalismo, um segundo grande desafio se apresenta: fazer com que o futebol seja um trampolim social.
Muitos jogadores deixam de investir nos estudos para se dedicar totalmente ao futebol. Um dos grandes problemas é o impacto disso no futuro, com atletas encerrando uma carreira curta, pouco rentável e sem uma boa formação para seguir a vida em outra área.
A advogada desportiva Ana Mizutori diz que a legislação esportiva vigente no Brasil possui dispositivos nesse sentido.
“A Lei Geral do Esporte (LGE) passou a dispor de forma expressa a ampliação do direcionamento dos atletas em formação esportiva. Assim como a Lei Pelé, que já condicionava a formação desportiva com a frequência escolar, a LGE fomenta a educação dos atletas, sendo essa uma medida fundamental para a maioria dos atletas em formação que não se profissionalizam, que se espera terem base de ensino, além de construção como um ser humano autocentrado, alinhado à determinação, à disciplina e aos demais benefícios do esporte”, afirma.
Alguns clubes com Certificado de Clube Formador (CCF) da CBF têm feito esse trabalho, mas uma grande parte não. E pior, não se tem controle sobre isso.
Um dos clubes participantes da Copinha que trata com grande importância a questão social junto dos jovens atletas é o Ibrachina FC. Fundado em 2020 a partir de um projeto social, a associação é um dos destaques nas categorias de base do futebol paulista nos últimos anos.
Carol Reis, psicóloga do Ibrachina FC, destaca que, assim como a questão social, o lado psicológico também deve ser trabalho com os jovens.
“A comissão técnica trabalha a parte técnica e tática, desenhando os objetivos para a equipe. Neste momento um exército inicia a preparação física e mental, os atletas contam com os cuidados do fisiologista, preparador físico e o analista de desempenho compreendem como o corpo do atleta está respondendo aos treinos, sua força, velocidade, a nutricionista analisa as necessidades corporais, prepara uma dieta balanceada, deixando o atleta com o seu corpo pronto”, afirma.
“A carga emocional nesta competição é muito grande, o atleta precisa mostrar o seu melhor individualmente, seu time precisa performar muito bem para seguir, é aí que entra o psicólogo para auxiliar os atletas nesta percepção e na preparação mental do grupo, o serviço social tem papel fundamental no cuidado do atleta e sua família, olhando para o atleta além do seu desempenho, auxiliando no cuidado do atleta em sua vida social quando necessário. Por de trás dos atletas que disputam a Copinha, tem muitas pessoas que os preparam para brilhar”, acrescenta.
O sonho de ser jogador profissional deve ser sempre oferecido a toda criança, juntamente da educação, saúde e segurança.
Crédito imagem: Ibrachina FC/Divulgação
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