Recentemente, Belo Horizonte foi palco de um evento de grande porte, a corrida do Campeonato Brasileiro de Stock Car.
O cenário, composto pela orla da Laguna Pampulha e o entorno do icônico Mineirão, foi cuidadosamente escolhido para garantir a grandiosidade do evento.
No entanto, para que essa corrida acontecesse, aproximadamente 65 árvores foram cortadas, muitas delas localizadas próximas ao campus da Universidade Federal. Essa decisão provocou uma onda de manifestações públicas, ações políticas e demandas na justiça.
Ainda assim, a corrida ocorreu, as árvores foram removidas, e a organização do evento justificou o ato prometendo a compensação ambiental por meio do plantio de novas árvores.
E aqui surge uma questão que merece ser debatida com seriedade e sem enviesamento político. As árvores que foram cortadas, algumas com décadas de vida, já prestavam serviços ambientais essenciais, contribuindo para a regulação do clima, a purificação do ar e o bem-estar da população local.
Prometer a reposição dessas árvores com novas mudas é uma solução de longo prazo, que não mitiga imediatamente o impacto ambiental causado. As novas árvores, que levarão anos ou até mesmo décadas para crescerem e desempenharem o mesmo papel das que foram removidas, não compensam de maneira imediata a perda ambiental sofrida.
Portanto, afirmar que o planeta não ficou sem essas 65 árvores é um engano. Ficou sim, e o efeito dessa perda não é apenas local, mas global.
O contexto atual de Belo Horizonte acentua ainda mais essa problemática. A cidade enfrenta uma seca prolongada, com quase 200 dias sem chuva significativa.
Esse cenário não é apenas um fenômeno meteorológico; é também um sintoma de descontrole ambiental.
Eventos como a Stock Car são importantes e trazem um retorno econômico imediato, mas não são contabilizados os impactos a longo prazo que a falta de vegetação pode causar, como o agravamento das condições climáticas, aumento das temperaturas urbanas e até mesmo problemas de saúde pública relacionados à qualidade do ar.
Do ponto de vista empresarial e desportivo, a corrida foi um sucesso inegável. A cidade viu um aumento considerável no turismo, com hotéis lotados, bares e restaurantes movimentados, gerando empregos e uma injeção de aproximadamente 250 milhões de reais na economia local.
No entanto, é necessário ponderar: esses ganhos econômicos são realmente um benefício líquido para a cidade, ou há custos ocultos que, eventualmente, serão debitados na conta ambiental e de saúde pública?
Esse é o equilíbrio que devemos buscar: como garantir o desenvolvimento econômico e a realização de eventos que tragam visibilidade e recursos para a cidade, sem comprometer o meio ambiente e a qualidade de vida de seus habitantes?
Em um mundo onde as mudanças climáticas são uma realidade inegável, decisões como a de cortar árvores para a realização de um evento esportivo precisam ser repensadas e questionadas.
Não se trata de ser contra o progresso ou os eventos esportivos, mas sim de defender um progresso sustentável, onde o crescimento econômico não venha às custas da degradação ambiental.
É necessário um debate mais profundo sobre as escolhas que estamos fazendo em nome do progresso e do desenvolvimento.
Será que estamos realmente considerando todos os fatores em jogo? Ou será que estamos cegamente perseguindo resultados econômicos imediatos, sem medir as consequências a longo prazo?
A resposta a essas perguntas é fundamental para construirmos uma cidade, e um mundo, onde o sucesso não precise ser sinônimo de destruição.
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