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CPI da manipulação de resultados: desconhecimento e falta de foco podem comprometer o trabalho

Por Fred Justo

A Comissão Parlamentar de Inquérito, instaurada na Câmara dos Deputados, em Brasília, só deve terminar em Setembro. Mas, pelo que foi discutido até agora o indicativo é de que pouco resultado prático deve acontecer.

Quem acompanha a CPI desde o início nota um desconhecimento do assunto por boa parte dos parlamentares. “Punir, prender e banir” são os verbos mais conjugados durante às sessões. Obviamente, quem atenta contra a integridade do futebol precisa pagar por isso, mas o problema em si não se resolve só punindo.

Nas duas primeiras sessões da CPI pouquíssimo se falou de prevenção e de educação, pilares fundamentais tanto quanto a punição. É preciso conscientizar dirigentes, árbitros e atletas (principalmente os da base) sobre os riscos e as consequências gravosas da manipulação. Salvo uma única rara excessão, até agora nenhum parlamentar levantou essa bandeira.

Na sessão de ontem os deputados ouviram os relatos dos integrantes do Ministério Público de Goiás sobre a exitosa operação Penalidade Máxima. Era o momento de buscar conhecimento, trocar informações e obter know-how, mas os deputados se perderam nas perguntas. Nota-se que o debate não tem como foco investigar esse mal que, há anos, ronda nosso futebol mas só agora parece ter sido descoberto.

O parlamento precisa se (re)unir para buscar soluções mitigadoras, e pensar em mecanismos que preservem a integridade desse bem tão valioso ao nosso país.

Existem inúmeras sugestões, como por exemplo incentivar e cobrar que clubes e federações promovam campanhas educacionais e criem departamentos de integridade. É preciso acolher e proteger os atletas, são os mais vulneráveis nesse problema.

Pra terminar, destaco um tema controverso e polêmico que não pode passar batido. Falo da influência do setor das casas de apostas na narrativa dos debates da CPI da manipulação, mas antes faço um parêntese: sou a favor da regulamentação do setor e da tributação, também tenho dúvidas se a taxação prevista pelo governo será eficaz, talvez precise de uma calibração, mas isso é discussão pra outro post.

De volta ao tema polêmico, as casas de apostas tem interesses legítimos? Sim! Mas os deputados não podem pensar primeiramente nelas, é preciso debater o problema da manipulação sobre vários aspectos bem mais prioritários. As casas de apostas acabam sendo vítimas, mas antes vem o torcedor, consumidor e o esporte em si.

Estamos lidando com sonhos de milhares de crianças, muitas delas pobres, negras, discriminadas e invisíveis à sociedade. Devemos lutar primeiramente pra manter esses sonhos vivos, preservando e cuidando do futebol. Depois discutimos o resto.

Crédito imagem: Câmara dos Deputados

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Fred Justo é jornalista (ex-TV Globo) e consultor de integridade no Esporte. Desde 2017 investiga e denuncia jornalisticamente casos de manipulação no futebol brasileiro.

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