O símbolo da maior conquista do clube penhorado pela Justiça. Além da vergonha pela penhora da taça do Mundial de Clubes, no último dia 8 os corintianos foram confrontados também com uma realidade que ajuda a explicar o fracasso do clube em encontrar alguém disposto a comprar os naming rights da arena corintiana. A notícia de que o clube teria a sua maior conquista dentro de campo penhorada por problemas fora de campo pegou a todos de surpresa – dirigentes, imprensa e, principalmente, torcedores. Um processo do Instituto Santanense de Ensino Superior contra o Sport Club Corinthians Paulista cobra do clube uma dívida de R$ 2,48 milhões. Os advogados do Instituto pediram a taça como garantia. Muito mais do que o valor (é uma réplica), os advogados do Instituto quiseram buscar como garantia uma marca do clube.
O clube de futebol com uma das maiores torcidas do mundo atravessa problemas financeiros que passaram a afetar também a imagem da instituição. O montante da dívida é apenas um dos pontos que preocupam o clube, que vem, nos últimos anos, apresentando gestões pouco profissionais.
Fica evidente que a gestão toda acaba comprometida quando não se encontra comprometimento da alta administração do clube. Ou seja, o exemplo de boas práticas, de responsabilidade, de cuidado com o patrimônio e imagem do clube, precisa estar evidente também na figura do maior gestor.
Como na coluna da semana anterior, compliance é um programa de conformidade que beneficia a empresa/clube não só para estar em acordo com as normas e legislações, mas também para melhorar a receita do clube, a imagem da instituição, passando mais credibilidade ao mercado e, com isso, atraindo mais investidores.
A alta administração precisa estar comprometida com isso. Assumir projeto de integridade é assumir compromisso público de transparência e conformidade com regras, normas e gestão financeira.
Muitos ainda veem o programa de compliance como gasto, mas estão sentindo na pele o custo de não tê-lo. No mundo, cada vez mais, a due diligence está sendo acionada. Estamos falando de um processo de investigação que as empresas fazem para averiguar a reputação e a imagem de seus parceiros, além de analisá-los financeiramente.
As multinacionais precisam, para evitar riscos financeiros e de reputação, investigar com quem estão se relacionando ou em que produtos estão estampando as suas marcas. Simplificando, eu só quero me relacionar com quem eu sei que trabalha direito.
Agora fica mais fácil de entender a dificuldade do Corinthians de vender os naming rights do seu estádio. A imensa maioria das grandes empresas trabalha com ferramentas de compliance, que só recomendam parcerias com empresas que não apresentem problemas sérios de gestão – como o Corinthians tem apresentado. A ordem é vincular marca a clubes/empresas que agreguem valor ao seu produto.
Além do Corinthians, outros grandes clubes com ativos valiosos como marca e torcida também estão com problemas sérios que prejudicam o clube financeiramente e institucionalmente. O Vasco, por exemplo, além de problemas financeiros, apresenta problemas políticos gravíssimos. Que empresa quer entrar no meio das confusões do clube vascaíno?
A verdade é que a grande maioria dos clubes brasileiros ainda precisa evoluir no quesito integridade e transparência. Exemplos de clubes bem-intencionados estão surgindo. O Coritiba Foot Ball Club, por exemplo, com o programa Conduta Coxa Branca, o Bahia, o Grêmio, Internacional, Flamengo, Palmeiras…, com códigos de ética e discurso de transparência, dão um tom de esperança a essa paixão nacional.