Na última segunda-feira (14) o atacante Cristiano Ronaldo foi pivô de uma polêmica antes mesmo de entrar em campo. Em entrevista coletiva antes da partida entre Portugal e Hungria, pela Eurocopa, o jogador tirou de sua frente duas garrafas de Coca-Cola, marca patrocinadora da competição, pegou uma garrafa de água e fez gestos dando a entender que o certo é beber água e não refrigerante.
Diante da força de seu nome, a atitude do craque português trouxe consequências. A empresa americana apresentou uma desvalorização de US$ 4 bilhões (R$ 21 bilhões na cotação atual) em valor de mercado após a ação ser repercutida. A atitude do craque poderia, segundo a relação comercial prevista em contrato entre a empresa e a Uefa para a Eurocopa, ser alvo de punição por desrespeito às regras pré-estabelecidas.
É isso que explica Marcel Belfiore: “O pacote de regulamentos da Liga de Nações da Uefa – que inclui um regulamento específico para tratar questões comerciais – parte do pressuposto de que a entidade é a detentora exclusiva de todos os direitos comerciais e de mídia da competição. Neste contexto, ela estabelece uma série de exigências para que as associações participantes do torneio e seus respectivos membros (jogadores, técnicos e diretores) observem, visando a integridade de seus acordos comerciais”.
“No caso em questão, que envolve a conduta de um jogador que pode ter causado prejuízo a um patrocinador da competição, poderia a UEFA considerar impor alguma sanção à Associação Portuguesa que, por sua vez, poderia considerar impor alguma sanção ao craque português., responsabilizando-o pela infração. Mas tudo isso dependerá, evidentemente, de uma análise comercial dos impactos que eventual punição poderá trazer à imagem da competição e do patrocinador, que poderiam ir além dos impactos já causados pelo ato do jogador”, analisa o advogado especialista em direito desportivo.
“Não tenho dúvidas de que o contrato de patrocínio celebrado entre a Coca-Cola e a Uefa contenha uma série de regras que talvez tenham sido descumpridas pelo Cristiano Ronaldo. O ponto é que a solução para o descumprimento contratual, via de regra, envolve uma multa que pode ou não ser compensatória.
No entanto, Tiago Gomes afirma que muitas vezes não compensa para uma marca, mesmo estando certa, entrar em conflito com uma personalidade de tal tamanho.
“Vamos admitir que essa multa não seja compensatória: vale a pena para a empresa buscar um embate com um ícone global como o Cristiano Ronaldo por conta disso? Primeiro porque, ao menos em tese, a Coca-Cola não pode falar em prejuízo. A desvalorização de suas ações é um prejuízo para os seus acionistas, não para a companhia, mas é praticamente impossível demonstrar uma relação de causa e efeito. Pior do que isso, interessa para a Coca-Cola ter essa discussão? Se, por simplesmente afastar as garrafas do refrigerante e pedir que as pessoas bebam água, que não é um concorrente da Coca-Cola, ele causou tanto impacto no valor de mercado das ações da companhia, imagine o dano que ele pode causar se efetivamente se dedicar a combater o produto, algo que ele pode fazer livremente fora do ambiente da competição”, questiona o especialista.
Para ser ter uma noção na prática, o mercado abriu ontem com as ações da Coca-Cola custando por volta de US$ 56,10 (R$ 285) e 30 minutos depois, término da entrevista coletiva de Cristiano Ronaldo e do técnico Fernando Santos, houve uma desvalorização de 1,6%, alcançando um valor mínimo de US$ 55,22 (R$ 280).
A queda das ações fez com que a Coca-Cola ‘perdesse’ US$ 4 bilhões de valor total de mercado, caindo de US$ 242 bilhões para US$ 238 bilhões.
Em entrevista no ano passado, Cristiano Ronaldo já havia criticado o consumo de refrigerantes ao comentar sobre a alimentação de seu filho mais velho, Cristiano Ronaldo Júnior, de 10 anos.
“Sou duro com ele, às vezes, porque ele bebe Coca-Cola e Fanta. Eu fico irritado com ele quando ele come batata frita e tudo o mais, e ele sabe que eu não gosto. Até meus filhos menores, quando eles comem chocolate, sempre olham para mim”, disse o craque português.
Até o momento a Coca-Cola não se manifestou sobre o caso.
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