Por Leide Jane Macedo
Muitas organizações veem os dados como um problema, algo que traz custos. Entretanto, organizações inovadoras e líderes atentos enxergam da maneira correta: que os dados são um ativo estratégico.
Um ativo estratégico está entre as coisas mais importantes que uma empresa possui. Quando os dados são vistos dessa maneira, abrem portas para novos insights, recursos e tecnologias emergentes.
Muitas organizações que já perceberam a necessidade de mudança estão trabalhando para modernizar a infraestrutura de dados. De início, exploram plataformas de armazenamento e implementam processos preliminares de governança e conformidade.
O uso dos dados como ativo estratégico deve possuir uma definição de processo com início, meio e “fim”. Cada etapa é independente e os benefícios podem ser incrementados ao longo do empreendimento. Durante o processo, o crescente valor dos dados pode elevar toda a organização e colocar em ação os recursos que justificam o esforço, vejamos:
A construção da melhor forma de uso:
A base para o uso de dados como um ativo estratégico é a construção da maturidade consciente para mudanças nos processos, tecnologias e pessoas que os empregam. As organizações inovadoras geralmente possuem tecnologias e aplicativos modernos sob medida. Isso acaba levando a uma força de trabalho técnica que passa mais tempo operando a tecnologia do que em atividades envolvendo inovação para os dados.
Para dar início, as empresas que lideram essa atividade, identificam prioridades dentro dos processos de tecnologia. Outras também exploram novas plataformas que oferecem produtos e serviços na área de dados – e sim, os titulares alvo desejam esses produtos/serviços. Para tanto, devem ser definidos processos claros para governança, conformidade e segurança de dados, existindo assim, a necessidade de respeitar todas as determinações e melhores práticas para proteção dos dados e direitos a eles conexos.
Essas atitudes podem estimular a prontidão de dados e uma abordagem moderna para lidar com esses ativos em toda a cadeia de valor.
Quanto mais acessíveis e mais usados, os dados aumentam de valor. A produção de dados representa uma mudança em direção ao uso dos dados com grande potencial.
A habilitação do acesso depende de um sistema unificado e harmonizado de plataformas e suas unificações que fornecem uma visão consistente dos dados para todas as partes interessadas. Igualmente importante é abordar as pessoas. Devem ser atribuídos proprietários (titulares) de dados, capacitação de governança de dados e treinamentos diversos. Assim, as organizações avançam em direção à escala corporativa de modo consciente, podendo utilizar diversas estratégias.
Monetização dos dados:
A monetização dos dados na organização pode ocorrer de várias maneiras. A mais lucrativa pode surgir na forma de pacotes e combinações. Se usados como ativo estratégico, os dados tem patrimônio porque o custo de armazenamento e gerenciamento é superado pelo valor obtido por meio de aplicativos e tecnologias em todo o negócio.
Ao longo desta fase, a fluência dos dados aumenta para melhorar a compreensão do valor e dos riscos potenciais. Esses esforços alinham plataformas, pessoas e processos para escala, ajudando a posicionar a organização para começar a aplicar um ecossistema de recursos e ferramentas emergentes, como inteligência artificial e análises avançadas.
Dados como ativo estratégico:
Os sistemas e processos são orientados para acesso rápido e confiável a dados selecionados porque os colaboradores são instruídos para a tomada de decisões.
Dados de alta qualidade permitem o uso de inteligência artificial para automatizar ainda mais os processos, criar novos produtos, serviços e aumentar a confiança na marca.
Cada organização está em um lugar diferente frente à maturidade dos dados. Algumas já estão conquistando novos terrenos com o uso de inteligência artificial, outras ainda estão trabalhando no caminho que devem seguir.
Dados estratégicos utilizados no mundo do futebol:
A título de exemplo de uso de dados estratégicos, a FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado) vem utilizando novas tecnologias de dados. A Federação vem trabalhando na criação de seu próprio conjunto de métricas que permitirá uma interpretação mais aprofundada do que acontece no campo de futebol, vejamos:
- Controle de posse: Quanta posse de bola cada vez tem, com a inovação adicional de registrar quanto tempo a bola está em disputa sem que nenhum dos times a controle.
- Tempo de Recuperação da Bola: Quanto tempo leva para uma equipe recuperar a posse da bola.
- Quebras de Linha: Quando a bola é jogada atrás da defesa.
- Altura da Linha Defensiva e Comprimento da Equipe: A distância entre o gol e o defensor mais profundo.
- Trocas Forçadas: Quando a posse de bola é perdida devido à pressão dos adversários.
- Entradas de terço final: Onde no campo uma equipe entra no terço de ataque.
- Pressão na Bola: Quão bem uma equipe está fechando o jogador na bola.
- Formato do time: As posições que os jogadores de um time adotam dentro e fora da posse de bola.
- Gols esperados: a probabilidade de um chute resultar em um gol.
- Recepções Atrás do Meio-campo e Linhas Defensivas: A posição de um jogador quando recebe a bola em relação aos jogadores adversários.
- Fases do jogo: quanto uma equipe se concentra em tipos de jogo, como alta pressão ou construção.
Alguns deles, como os gols esperados, são versões da própria FIFA de métricas existentes. Outros, como Recepções Atrás do Meio-campo e Linhas Defensivas, mostram como as métricas estão sendo desenvolvidas para mais seções do jogo para aumentar a quantidade de dados disponíveis.
Esta é a primeira Copa do Mundo em que os dados não são apenas para analistas profissionais, mas abertos a qualquer pessoa interessada em entender o jogo mais profundamente.
Os dados se tornaram uma grande parte do futebol, mas até agora o progresso tem sido liderado principalmente pelos clubes de futebol. Equipes como Liverpool e Manchester City reuniram departamentos munidos de cientistas de dados especializados. Esses cientistas trabalham para ajudar suas equipes a terem um melhor desempenho em campo. As mudanças que a FIFA está fazendo são diferentes e, obviamente, inovadoras. Os dados são projetados para capacitar jogadores/equipes e construir uma relação com todos os titulares, dentre eles, fãs, parceiros e transmissores, ajudando-os a acessar os dados mais avançados disponíveis.
A análise de desempenho tornou-se parte da rotina de treinamento do jogador de futebol moderno, assim como exercícios de sprint e exercícios de passe. Muitos jogadores agora o reconhecem como uma ferramenta que podem usar para melhorar seus próprios níveis de desempenho e ser o melhor que podem ser. Os jogadores também se tornaram mais conscientes do valor de seus dados de desempenho e querem ter o direito de acessá-los e se beneficiar deles.
O FIFA Player App está sendo usado pela primeira vez na Copa do Mundo de 2022. Criado com informações dos jogadores, o aplicativo permite que todos os jogadores no torneio acessem seus próprios dados de desempenho para cada partida que disputam.
O Player App permite que os jogadores enviem suas estatísticas de jogo para a mídia social, o que significa que eles podem compartilhar os dados com seus fãs e transmissores.
Para tanto, é importante destacar o dever de respeito aos direitos dos titulares dos dados, devendo-se valer de estratégias conscientes para o melhor uso dos dados, respeitando legislações territoriais e boas-práticas em busca de utilizar os dados como um ativo agregador de valor para empresa.
A FIFA possui um Portal de Proteção de Dados (https://www.fifa.com/data-protection-portal) que demonstra aos usuários como os seus dados estão sendo utilizados. Porém, o presente artigo não visa analisar a conformidade utilizada e nem eventuais falhas. Ademais, é certo que a análise estratégica do uso dos dados deve se valer da real gestão de conformidade preventiva.
Importante destacar a necessidade de cumprir as legislações e regulamentos voltados para o tema _ Privacidade, Proteção de Dados e suas formas de tratamento, dentre elas, podemos citar a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais nº 13.709/18 e o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR) no âmbito da União Europeia.
Assim, sem esgotar o tema, no mundo do futebol os dados são utilizados de diversas formas objetivando a gestão das informações dos fãs do futebol, equipes, membros, colaboradores, parceiros e demais terceiros em toda a jornada. Porém, a utilização dos dados deve se valer de estratégias.
Desse modo, podemos ainda indicar que o uso estratégico dos dados na Era Digital gera, inevitavelmente, uma grande utilização do Marketing Digital, onde se busca vincular diferentes formas de interação com os usuários e terceiros, sempre em busca de envolvimento com os “donos dos dados” valendo-se do seu melhor interesse na busca de equilíbrio com o fomento da atividade empresarial.
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Leide Jane Macedo
Data Protection Officer | Advogada na área de Direito e Tecnologia e Empresarial |Especialista em Segurança da Informação e Proteção de Negócios Digitais
