“Nunca deixe de sonhar.” A frase, grafada em letras garrafais na entrada do Centro de Treinamento do Independiente del Valle, mostra a crença em um projeto de trabalho de longo prazo marcado por anos sem títulos, mas que foi recompensado com o título da Copa Sul-Americana. Fundado no fim dos anos 50, o clube nasceu inspirado no maior Independiente de Avellaneda, sete vezes campeão da Libertadores. Até os anos 2000, porém, o Del Valle era uma equipe modesta, que subia e descia de divisão no Equador com frequência. Em 2006, um grupo de empresários comprou o clube e começou a mudar sua história.
Desde troca de nome até mudança nas cores do uniforme, tudo foi alterado. O novo nome traz a ideia do que é o clube: Club de Alto Rendimiento Especializado Independiente del Valle. Assim, as categorias de base e a formação de novos jogadores passou a ser especialidade do Del Valle. Dos 25 jogadores que participaram da campanha vitoriosa na Sul-Americana, 11 foram forjados nas canteras do Del Valle. O clube conta com uma grande rede de escolas de futebol, com 30 unidades espalhadas pelo Equador.
Para se ter uma ideia, 30% do orçamento anual do Del Valle é destinado para as divisões inferiores e apenas 3% é reservado para a compra de novos atletas.
“É muito bom que a gente tenha exemplos como esse. É um trabalho já de dez anos focando muito em categoria de base, que é uma coisa que parece tão óbvia. O futebol é uma cadeia de negócio que jogador é a matéria-prima do negócio. É incrível que tenha clube que ainda não entendeu que cuidar da matéria-prima tanto do ponto de vista financeiro, como do ponto de vista esportivo, deveria ser prioridade zero. Pelo fato de ser equatoriano torna a coisa ainda mais impressionante e acentua as nossas deficiências”, enaltece o consultor de marketing Fernando Ferreira.
Em 2016 já tinha feito história ao ser vice-campeão da Libertadores, perdendo a final para o Atlético Nacional, da Colômbia, mas antes disso eliminou River Plate e Boca Juniors, se tornando a primeira equipe a eliminar os dois gigantes argentinos em uma mesma edição do torneio.
“Eles estão bastante à frente dos clubes brasileiros. No Brasil tem clube investindo muito muito pouco em categoria de base, achando que categoria de base é custo e não investimento. No Brasil a categoria de base é um tapa buraco, gerar um jogador aqui outro ali. Não é o foco, mas deveria ser. Você prover o seu time de matéria-prima de jogadores qualificados, criados conforme a sua estratégia, a sua filosofia de jogo”, completa Fernando Ferreira.
O caminho para a mudança foi pavimentado por Pablo Repetto, que comandou o time de 2012 até 2016. Foi quando Miguel Ángel Ramírez assumiu. Com a experiência de ter sido técnico na Espanha e depois contratado pela Aspire Academy para trabalhar no desenvolvimento dos jogadores do Catar, visando a disputa da Copa do Mundo de 2022.
“É muito importante para o esporte que clubes bem administrados, que tenham boa gestão, que apliquem práticas empresariais na sua administração sejam campeões. Muitas vezes clubes que não seguem essas práticas são campeões e isso acaba afetando até a questão conceitual se vale ou não apenas realmente ter uma administração profissional. O Flamengo amargou muitos anos sem títulos, enquanto por exemplo Cruzeiro, Corinthians e Atlético-MG foram campeões, mas exageraram nos seus gastos e hoje estão numa situação financeira muito mais delicada”, ressaltou o consultor de marketing Amir Sommogi.
Não é só dentro de campo que o Del Valle se destaca. Em 2016, ano em que o clube foi vice-campeão da Libertadores, toda a renda dos jogos do Del Valle jogando em casa foi doada para ajudar as vítimas do terremoto que devastou o Equador. No total, mais de U$S 350 mil foram doados e ajudaram mais de 1500 famílias.
“A gestão profissional preza pelo equilíbrio. O que temos que pensar no esporte são gestões que se preocupem com a sustentabilidade do clube e a sua continuidade. Não adianta ser campeão em uma gestão e deixar dívidas e depois entrar em colapso. Tem que pensar no processo”, finalizou o advogado especialista em Compliance Fernando Monferdine.
Com a conquista da Sul-Americana, o Del Valle vai enfrentar o campeão da Libertadores na final da Recopa e espera ter garantido a vaga no Mundial de Clubes de 2021, na China, o primeiro com o novo formato da Fifa, com 24 times.
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