O atacante Vinicius Júnior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira, fez um emocionante desabafo nesta segunda-feira (25). Em conversa com a imprensa, na véspera do amistoso do Brasil com a Espanha, o jogador chorou ao falar dos diversos insultos que vem sofrendo no país europeu ao longo dos últimos meses.
“Cada vez estou mais triste, tenho menos vontade de jogar, mas vou seguir lutando”, desabafou o jogador.
Vini Jr. disse que está frustrado com a falta de punições na Espanha contra os torcedores racistas e que, se fosse apenas por si, teria desistido de seguir lutando pela causa da igualdade racial.
“É algo muito triste tudo o que eu venho passando aqui, a cada jogo, a cada denúncia minha. É muito triste isso. Não só eu, mas como todos os negros no mundo sofre. O racismo verbal é minoria perto de tudo que os negros sofrem no mundo. Meu pai sempre teve dificuldades para trabalhar. Numa escolha entre ele e um branco, sempre vão escolher um branco. Mas é desgastante, porque você está meio que sozinho. Eu já fiz tanta denúncia, mas ninguém é punido, nenhum clube é punido. Eu venho lutando por todas as pessoas que vão vir, porque se fosse apenas por mim e minha família, acho que já teria desistido. A cada dia que vou para casa, eu fico mais triste, mas eu fui escolhido pra defender uma causa tão importante”, declarou.
Especialistas ouvidos pelo Lei em Campo afirmam que é justamente a falta de punições exemplares que alimentam novos casos de racismo.
“O combate ao preconceito precisa ser coletivo. Estado, movimento esportivo e sociedade, juntos, exercendo mecanismos de coerção, como as punições as estabelecidas para atitudes discriminatórias. O direito tem um papel fundamental para mudar uma cultura do preconceito, apresentando caminhos legais para punições. Eles estão na Declaração Universal de Direitos Humanos, em tratados internacionais e nos próprios regulamentos esportivos. É preciso tornar o direito eficaz”, diz Andrei Kampff, advogado especializado em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.
“A repetição de insultos racistas direcionados ao Vinícius Junior, jogo após jogo, fez com que a LaLiga criasse uma comissão específica para cuidar unicamente de casos de racismo contra o brasileiro. Isso mostra, ao menos, que alguma importância tem sido dada a esses lamentáveis fatos. Mas seria suficiente? Se os fatos seguem se repetindo, é porque isso não basta. E ao meu ver, isso ocorre porque as punições aos indivíduos são raras e brandas”, analisa Marcel Belfiore, advogado especialista em direito desportivo.
O advogado entende que todos os esforços têm que ser concentrados na identificação e punição exemplar dos indivíduos que cometem esses atos.
“Na minha opinião, punir os clubes não resolve o problema, talvez o agrave. Todos os esforços têm que ser concentrados na identificação e punição exemplar dos indivíduos que cometem esses atos, ainda que sejam centenas deles. Todos devem estar envolvidos na identificação dos torcedores racistas, principalmente os clubes, mas ao final, de nada adianta se apenas poucos deles são punidos e com penas que simplesmente os deixem fora dos estádios por alguns meses. Atos de racismo devem ser punidos com prisão, mas para isso não basta um esforço da LaLiga, é preciso que as leis do país se tornem mais rígidas”, acrescenta.
Vini Jr. sofre insultos racistas desde 2021 na Espanha, somando mais de uma dezena de denúncias feitas pela LaLiga, organizadora do Campeonato Espanhol, não resultando em nenhuma punição esportiva. As autoridades espanholas já tomaram algumas medidas, como prisão de suspeitos e até afastamento do VAR (árbitro de vídeo).
Após inúmeras críticas, a LaLiga diz ter investido mais em tecnologia e canais de comunicação com torcedores e clubes, para aumentar o seu papel de fiscalizadora em atos racistas nos estádios. A liga também lançou em 2023 uma ferramenta de denúncia.
Ainda na coletiva de imprensa desta segunda-feira, Vini Jr. também cobrou mudanças na mídia esportiva espanhola sobre a ostensiva cobertura em relação a suas atitudes dentro de campo, classificada por parte das publicações do país europeu como provocativas.
“Acho que eles (espanhóis) têm que falar menos de tudo que eu faço de errado dentro de campo, claro que eu tenho que evoluir, melhorar. Mas eu tenho apenas 23 anos e é um processo natural. Eu saí muito novo do Brasil e sigo estudando. Por que os repórteres daqui, da Espanha, não podem estudar, ver realmente o que está acontecendo? Cada vez eu estou mais triste, cada vez eu tenho menos vontade de jogar. Mas eu vou seguir lutando”, declarou.
Brasil e Espanha se enfrentam em amistoso nesta terça-feira (26), no Santiago Bernabéu, às 17h30 (horário de Brasília). A partida será a segunda da Seleção sob o comando do técnico Dorival Júnior.
Crédito imagem: Rafael Ribeiro/CBF
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