“Despertando o melhor de nós” é o slogan criado pelo grupo Globo para a cobertura dos jogos olímpicos de Tóquio. Tenho sérias dúvidas se essa é a melhor expressão para qualificar a competição em apreço.
Com a explosão da pandemia na cidade, a Prefeitura de Tóquio decretou estado de emergência, o qual deverá transcorrer pelo menos até 22 de agosto, ou seja, perdurará durante toda a competição e mais além...
Não por acaso, a população japonesa é majoritariamente contra os jogos. Despertando para a realidade, a Toyota decidiu retirar o seu patrocínio. Cientistas alertam para a geração de uma variante de efeitos e proporções impossíveis de imaginar. Afinal, teremos concentrados milhares de atletas de todos os cantos do globo, numa oportunidade única do vírus se modificar e se fortalecer...
Entretanto, contrariando a mínima lógica e o bom senso, resolveram realizar a competição a qualquer custo. A razão não é nada olímpica, mas eminentemente financeira.
Em caso de cancelamento, as perdas estimadas chegariam a 16 bilhões de dólares. Princípios constitucionais e tratados internacionais que exigem a proteção máxima da vida e da integridade física foram olimpicamente ignorados. O dinheiro, como sempre, falou mais alto. Já dissera o Papa Francisco que o dinheiro mata. E no caso concreto,literalmente.
É assim que vemos como são as pessoas. Só conhecemos verdadeiramente os homens nos momentos delicados, quando precisam fazer escolhas entre bens materiais e valores universais. Entre coisas e pessoas.
Mas não apenas o dinheiro é um perigo à vida, como também o silêncio. Já salientara o prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata, que em japonês “nenhuma palavra diz mais que o silêncio”.
O silêncio de nossa mídia igualmente diz muito. Diversamente do estardalhaço que foi feito na Copa América, a imprensa brasileira ficou muda diante dos perigos muito maiores decorrentes da realização dos jogos olímpicos.
É possível que um dos fatores para tal condutaseja o fato de que isto esteja ocorrendo bem distante de nossas fronteiras e de que esse assunto não nos importa, bem ao estilo do adágio popular de que “Pimenta nos olhos dos outros é refresco, o que poderia ser adaptado para “Covid nos pulmões dos outros é ar fresco”.
A vida do povo japonês não é menos importante do que a nossa e ainda que vejamos a situaçãoolhando apenas para o próprio umbigo, é burrice imaginar que o que pode vir a acontecer no Japão, não repercutirá no Brasil. O vírus, como tudo no mundo, também se globalizou.
A realidade nua e cria é esta, que poucos aceitam ou querem enxergar.
A de que os jogos olímpicos despertaram, em muitos, o que há de pior em nós:
O egoísmo e a indiferença.
Crédito imagem: Getty Images
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