Mesmo com mais uma temporada de grande domínio dos clubes brasileiros nas duas principais competições continentais – Libertadores e Sul-Americana –, os últimos dois anos foram de grandes perdas financeiras para as equipes do país. Segundo um estudo realizado pela Sports Value e Big Data Sports, a pandemia de Covid-19, em 2020, impulsionou o movimento de redução do faturamento em dólar dos times nacionais.
“A questão cambial (desvalorização do real ante ao dólar) foi o grande peso para a queda abrupta de arrecadação dos clubes durante a pandemia. Hoje, a MLS, Liga Turca e Russa já nos ultrapassaram. Perdemos extremamente a competitividade na comparação com todos os mercados mundiais. Para se ter uma ideia, em termos de marketing, por exemplo, faturamos menos que ligas menores como a portuguesa e dinamarquesa, o que é um absurdo”, afirma Amir Somoggi, consultor de marketing e fundador da Sports Value.
Para se ter uma ideia da redução, em dezembro de 2019, os clubes TOP 20 do futebol brasileiro atingiram o maior patamar de receita com US$ 1,5 bilhão, cerca de R$ 6,1 bilhões. Essas 20 equipes mais ricas representam mais de 80% da receita gerada por todos os outros times do país.
Com o surgimento da pandemia, houve consequências financeiras imediatas, principalmente com as perdas de receita com televisão, venda de ingressos e patrocínios. Diante da grande incerteza e preocupação com a situação econômica do país, a moeda real acabou se desvalorizando em relação ao dólar, sendo esse um dos principais responsáveis por derrubar os números de 2020.
A receita de 2020 ficou nos patamares de 2015, período em que a inflação esteve em alta. Esses 20 clubes fecharam o ano de 2020 com US$ 990 milhões em faturamento, uma queda de 34%. Foram US$ 331 milhões em direitos de televisão; US$ 310 milhões em transferências; US$ 104 milhões em patrocínios; US$ 78 milhões em sócios; US$ 36 milhões em clubes amadores e apenas US$ 20 milhões em bilheteria.
O estudo destaca que o futebol brasileiro é um dos líderes em faturamento nas ligas latino-americanas, podendo ser considerado, do ponto de vista econômico, a liga mais importante logo após as cinco principais – alemã, italiana, inglesa, espanhola e francesa – da Europa. Segundo o levantamento, agora isso vai mudar, com a liga sendo ultrapassada pela MLS (Estados Unidos) e a Premier League russa.
Em termos de faturamento, o Brasil ainda está bem à frente de seus vizinhos México, Argentina, Colômbia, Uruguai, Chile e Peru. O estudo destaca que essa disparidade econômica ficou evidente com o domínio dos clubes brasileiros nas duas principais competições do continente, com Flamengo e Palmeiras na final da Libertadores e Athletico e Red Bull Bragantino na decisão da Sul-Americana.
O levantamento demonstrou os fatores de sucesso de cada uma dessas equipes, nas quais há fortes gestões que acompanham o resultado desportivo.
Confira a análise feita:
Flamengo
– Modelo de gestão com foco nas práticas empresariais;
– Pagamento de dívidas com dinheiro novo, reestruturação financeira com rígido controle orçamentário, recuperando a credibilidade;
– Maximização das receitas de marketing, jornada, transferências de jogadores e patrocínios.
Palmeiras
– Importância da chegada do Allianz Parque, que fez explodir as receitas do clube a partir de 2015;
– Gestão Paulo Nobre injeta dinheiro com juros baixos para pagamento de dívidas e aprimoramento do futebol;
– Chegada da Crefisa amplia estrondosamente a receita com patrocínios. A empresa paga praticamente quatro vezes mais que os patrocinadores dos rivais.
Athletico
– Foco no investimento em ativos. Atualmente, clube possui mais de US$ 264 milhões em ativos;
– Controle financeiro rígido, mesmo sem conquistar títulos;
– Mantendo um modelo de gestão sólido, o clube consegue ter fluxo de caixa positivo.
Red Bull Bragantino
– O modelo similar ao adotado no RB Leipzig, da Alemanha, acelerou o processo de desenvolvimento do modelo, que caminhava lentamente até 2018;
– Marca fez fortes investimentos e o clube já é avaliado em US$ 72 milhões pela Sports Value.
Por fim, o estudo ressalta que Flamengo, Palmeiras, Athletico e Red Bull Bragantino são bons exemplos da gestão do futebol brasileiro, em especial, com a presença de existência de estruturas de gestão fortes.
Segundo Amir Somoggi, as gestões desses quatro clubes tiveram um papel preponderante.
“Essas equipes não chegaram às finais continentais por acaso. Elas representam bons modelos desse mercado (brasileiro) rico e estão ligados claramente aos seus desempenhos empresariais, ou seja, a boa gestão entrou em campo e colocou essas equipes nas decisões”, finaliza.
Leia o estudo completo elaborado pela Sports Value e Big Data Sports.
Crédito imagem: Sports Value
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