A nomeação de diretores estatutários não remunerados é um hábito comum no Brasil devido ao histórico sistema – clube de futebol associativo.
O que são clubes associativos?
Em resumo, são constituídos sob a forma de associação civil sem fins lucrativos, isto significa, não exercem atividade empresarial, contudo, estas organizações ao passar dos anos se voltaram exclusivamente ao resultado financeiro. Neste modelo existem algumas normativas que regem a “vida” da instituição, sendo algumas delas:
- Estatuto social;
- Código de ética;
- Código de conduta;
- Outras.
Diretores Estatutários
Para muitos especialistas os problemas em relação as escolhas/indicações dos diretores estatuários não remunerados/abnegados começam na “ponta da lança” (presidência, gestores, conselho deliberativo, fiscal, outros).
Em alguns casos, é muito habitual que esses cargos sejam definidos através das amizades, acordos políticos, troca de favores, ou seja, pessoas de confiança e interesse dos gestores. Geralmente esses diretores não detêm a devida qualificação para exercer as funções determinadas, no entanto, é claro que existem exceções.
É bom deixar evidente, que cada clube possuiu uma organização estrutural, com cargos definidos, regulamentações, nomenclaturas, levando em conta a sua história, local, DNA, planejamento estratégico/esportivo, além da obrigação estatutária de realizar assembleias gerais, extraordinárias, outros.
Baseando-se no cenário acima apresentado e as suas possibilidades, penso que a estrutura organizacional de gestão na maioria dos clubes associativos ainda é muito ruim devido ao engessamento administrativo e político, inibindo dessa forma o crescimento do futebol brasileiro como um todo.
Neste texto faço a proposição de abrir um diálogo “imparcial”, porém provocativo para entendermos melhor até que ponto esses diretores ajudam ou atrapalham nos processos institucionais?
É fato que muitos clubes enfrentam apuros financeiros provendo uma folha salarial não organizada, impactando na saúde do seu caixa a curto, médio, longo prazo. Uma boa saída, pode ser sim a figura do diretor estatutário, evitando deste aspecto, onerar o clube em questões trabalhistas ou contratuais.
Para que isso aconteça de forma aceitável, devemos levar em consideração um requisito inegociável, que seria a qualificação técnica para a função determinada. Não tenho dúvidas que uma boa intenção de doação do seu tempo, aliada ao conhecimento pode ajudar o clube em seus processos, auxiliando de forma assertiva a cadeia gestora. Repito, qualificação x local correto!
Apesar das dificuldades, se as pessoas escolhidas não tiverem interesses pessoais ou políticos pode dar certo sim, tornando-se possível realizar trabalhos de excelência com resultados satisfatórios a custo zero.
Infelizmente, para quem conhece um pouco sobre a realidade entranhada dos clubes estatuários no Brasil, já ouviu e presenciou muito mais aspectos negativos do que positivos em relação ao assunto. Costumeiramente o diretor estatutário é uma figura política, que tem satisfação não velada de ostentar o seu cargo “desfilando” pelos corredores do clube.
Quando isso acontece fica ainda mais explícito o apego pelo pequeno poder, pois esses atores não tem o menor pudor de dar ordens, e tomar decisões importantes, mesmo tendo a consciência que não possuem merecimento e formação acadêmica/técnica para estar à frente da sua pasta.
A presença deste diretor encaixado, geralmente causa um preconceito natural, porém velado nos ambientes em que o mesmo transita, fator esse determinado pela cultura de anos e anos fruto da mente coletiva. Esses indivíduos já causaram e ainda causam muitos problemas nos clubes, causando um prejuízo irreversível dependendo do departamento que estiver.
E os qualificados? Os qualificados e dispostos a trabalhar sofrem para desmistificar o estigma de mais um diretor que está ali por status, interesses subliminares e nada mais. Levar a fama no ambiente competitivo do futebol é muito conveniente em alguns casos, e esse é um belo exemplo que podemos observar.
Perante os fatos e possibilidades, concluo que tudo depende. Não se pode validar e nem invalidar um diretor estatutário. Na realidade, os clubes precisam ser mais profissionais.
Os estatutos precisam ser revistos imediatamente, para que os seus processos/normativas/diretrizes estejam mais atualizados. As bases dos estatutos em muitos lugares ainda são muito antigas, pouco revisadas, facilitando as pessoas de má fé.
Ficam algumas perguntas para reflexão…
- Com a entrada da SAF no Brasil, não seria mais adequado que este formato antigo de clube estatutário fosse extinguido de vez, pensando-se em um modelo de clube moderno, organizado, corporativo, globalizado?
- Este formado de SAF não inibira/excluiria as possibilidades de participação de pessoas não qualificadas e não remuneradas na gestão?
- Com a contratação de profissionais adequados/qualificados x local correto, trabalhando para o clube, não se diminuíram as possibilidades de erros, aumentando a produtividade e resultados esportivos?
Como sempre digo, se desarmem, estudem e se apropriem do assunto, só assim poderemos melhorar os alicerces do futebol brasileiro.
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Texto de Rodrigo Neves, aluno FootHub