“Os candidatos à cidade anfitriã se esforçam por objetivos de desenvolvimento muito diferentes e começam a partir de pontos de desenvolvimento muito diferentes. Nós abraçamos essa diversidade. Na verdade, essa diversidade faz parte da magia dos Jogos Olímpicos”.
Em livre tradução, essas foram as palavras do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, em seu discurso de abertura da 127ª sessão da Assembleia do COI, extraordinariamente realizada em Mônaco, no ano de 2014.
Apesar do discurso, podemos falar em diversidade na gestão do Movimento Olímpico?
É fácil constatar que, desde o início de sua gestão, Thomas Bach vem tomando medidas que aparentam um desejo de resgate dos valores olímpicos. Essas medidas estão reunidas no que chamamos Agenda 2020, uma espécie de autoavaliação e constatação de mudanças a serem realizadas no Movimento Olímpico, com medidas idealizadas a partir dos conceitos da sustentabilidade, da credibilidade e da juventude.
Quando o Movimento Olímpico iniciou esses questionamentos, em 2014, gozava da tranquilidade de ter realizados Jogos vitoriosos nos anos de 2012 (Jogos de Verão em Londres) e de 2014 (Jogos de Inverno em Socchi), vivia a sonhada estabilidade financeira e entendia que seus objetivos vinham sendo paulatinamente alcançados, o que, na visão geral, representa um empreendimento bem sucedido. Por que, então, projetar mudanças?
As fases bem-sucedidas concederam aos Jogos Olímpicos a oportunidade para a antecipação dos próximos desafios e de olhar além do horizonte do esporte, possibilitando ao COI protagonizar as mudanças pretendidas em toda a sociedade.
Como reflexo dessas mudanças, em maio de 2020, a entidade anunciou a composição de suas comissões em atuação neste ano e comemorou o progresso que vem ocorrendo ano após ano, em prol da igualdade de gênero: 47.7% das posições das 30 comissões hoje existentes são ocupadas por mulheres, o que demonstra evolução se comparada ao ano anterior.
Mas, ainda há muito a ser feito e esperamos que o ambiente olímpico acompanhe as tendências de mercado
Um relatório recentemente produzido pela Mckinsey & Company – Diversity Wins: Why Inclusion Matters – aponta um quadro bastante claro quando o assunto é o impacto financeiro causado por equipes diversificadas, notadamente quanto à liderança: dados de 2019 assinalam que as empresas com maior diversidade de gênero em equipes executivas tinham 25% mais chances de ter lucros acima da média. Já as empresas que além de gênero mantinham lideranças étnica e culturalmente diversas apontavam possibilidades de até 36%.
Esse é o terceiro relatório produzido pela empresa de consultoria americana objetivando cruzar dados de negócios e de diversidade e, assim como os relatórios publicados em 2015 e 2018, o report atual mostra que essas empresas que privilegiam a diversidade não só permanecem sólidas, mas também mostra a relação direta entre a diversidade, as equipes executivas e a probabilidade de desempenho financeiro que se fortaleceu ao longo do tempo.
A pesquisa abrangeu 15 países e mais de 1000 grandes empresas e aponta que, ao incorporar uma análise de “escuta social” do sentimento dos funcionários, a maioria deles declara como a inclusão ajuda em ambientes produtivos, evidenciando que as empresas devem prestar muito mais atenção à inclusão, mesmo aquelas que já são relativamente diversas. “Diversidade é o novo Darwinismo. Evoluir ou ser extinto”, arrisca o estudo.
Curiosamente, a mesma noção de “luta pela existência” de Charles Darwin, usada na pesquisa para defender a mudança a e o pluralismo, foi apropriada por Pierre de Courbertin, fundador do Olimpismo, para defender algo diametralmente oposto às pesquisas que reforçam os aspectos positivos da diversidade.
Vem do livro The 1904 Anthropology Days and Olympic Games: Sport, Race, and American Imperialism, da Autora Susan Brownell, um capítulo inteiramente dedicado à visão enviesada do Barão de Coubertin sobre raça, ao defender a superioridade de algumas nações e o colonialismo como solução civilizatória, ideias que não se sustentariam ante a força dos fatos e a necessidade de que mercados, como o esportivo, estejam em busca de constante inovação.
Como aponta o artigo How Diversity Can Drive Innovation (como a diversidade pode impulsionar a inovação, em livre tradução), escrito por Sylvia Ann Hwlett, Melinda Marshall e Laura Sherbin e publicado na Harvard Business Review: as empresas que demonstraram “diversidade bidimensional” ao empregar líderes com base em políticas de diversidade como gênero, raça e orientação sexual alcançaram a inovação e tiveram 70% mais chances de penetração em novos mercados.
Ainda restam dúvidas quanto à urgente necessidade de que o esporte olímpico abrace o pluralismo que vem da diversidade? No pós-pandemia, estratégias concretas de inovação serão essenciais para a retomada e ambientes diversos contêm a criatividade e a força produtiva dessa mudança.
Mudar ou ser mudado, evoluir ou ser extinto, eis as questões.
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Para outras leituras:
https://hbr.org/2013/12/how-diversity-can-drive-innovation