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Doping não pode ser tratado como brincadeira no esporte. É fácil entender

A suspensão de dois anos de Gabigol foi um susto, especialmente para a torcida do Flamengo. Mas não para todos, aqueles que estudam doping e a importância de proteger a integridade do esporte já sabiam da gravidade do fato. Sim, o atleta irá recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). Existe caminho para reverter a suspensão, mas ele não será fácil.

Esqueça a torcida que ficará fácil de entender por que doping é tratado com rigor no esporte. Um dos motivos é que ele ataca um dos princípios mais caros ao esporte, o da paridade de armas. Um dos competidores busca de maneira ilegal vantagem dobre o adversário.

A trapaça fere também o espírito do “jogo limpo”.

Pierre de Coubertin, o “pai” dos jogos olímpicos modernos, escreveu em suas Memórias olímpicas que o olimpismo é uma “escola de nobreza e de pureza moral, bem como de resistência e energia física – mas só se (?) a honestidade e a abnegação do esportista forem desenvolvidas de forma tão acentuada quanto a força dos músculos”

O Código Mundial Antidoping reforça a ideia do jogo-limpo ao determinar que visa “proteger o direito fundamental dos atletas de participar de atividades esportivas isentas de doping, promover a saúde e garantir assim aos atletas do mundo inteiro a eqüidade e a igualdade no esporte”.

Fraude e punição

Mesmo com o exame do atacante tendo dado negativo, a forma como ele tratou a equipe de dopagem, manuseou equipamento e fez a coleta da urina foi caracterizada fraude.

E esta tipificado no Código Brasileiro Antidopagem no art 162, que fala sobre fraude ou tentativa de fraude em qualquer parte do processo de controle de dopagem, a suspensão ser de 4 anos, podendo ser reduzida para 2 anos, quando o atleta puder comprovar as circunstâncias excepcionais que justifiquem seu grau de culpa ou de outra pessoa.

Ou seja, não há pena menor para o artigo em questão. O resultado negativo, o risco pequeno de burla, foram atenuantes na hora de se dosar a pena. Poderia ter sido de 4 anos!

Talvez por isso o resultado tenha sido equilibrado do TJD-AD, 5 a 4 pela condenação.

Importante lembrar que na briga doping e antidoping, há muitos casos de atletas punidos que também não testaram positivo.

O melhor exemplo talvez seja de Lance Armstrong. O fenômeno das pistas nunca foi flagrado no doping, mas foi o protagonista de um dos maiores escândalos de doping.

Por isso, existem regras e protocolos que precisam ser cumpridos à risca na hora de se fazer a coleta. E vale para o vôlei, basquete, tênis… e futebol.

No momento que Gabigol esqueceu disso, colocou sua carreira em risco.

E agora?

Agora é esperar a publicação do Acórdão (deve ser na quinta) e o atleta já avisou que irá recorrer.

Além de entrar com o pedido de anulação no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), a defesa também deve entrar com pedido de efeito suspensivo até que o caso seja analisado pelo Painel. Até porque não se sabe quando ele será julgado. Pode demorar.

Quanto as chances, difícil prever. Como já falamos, o resultado no Brasil foi equilibrado, o que mostra que existe caminho para a leitura da culpa e da absolvição. Mas na Suiça acontecerá outro julgamento, com (provavelmente) juízes europeus que são rigorosos quanto à conduta.

Gabigol errou. Feio.

Muitos atletas já sentiram na pele e no trabalho a importância do combate ao doping no esporte.

Armstrong, Pogba, Sun Yang… Paolo Guerreiro.

O peruano sentiu isso por 251 dias da sua carreira como jogador. Por quantos dias Gabigol sentirá?

A resposta virá lá da Suiça.

Crédito imagem: Gilvan de Souza/Flamengo

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