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É preciso ter cuidado

Na última semana a Comissão de Ética da CBF emitiu sua decisão sobre as denúncias de assédio moral e sexual realizadas por uma funcionária em face do então Presidente da entidade, Rogério Caboclo. Um processo sigiloso, ao qual poucos tiveram acesso total e que resultou na suspensão do denunciado pelo prazo de 15 meses.

Foi o suficiente para que muita gente, inclusive da imprensa, passasse a demonizar a Comissão de Ética e todas as pessoas envolvidas com o processo. Insinuações das mais diversas foram feitas, mesmo que nenhuma das pessoas que fez tais insinuações tenha tido total acesso ao processo.

Imediatamente após a realização da denúncia já havia a condenação pública: o então Presidente da CBF tinha cometido assédio moral e sexual e deveria ser expulso na entidade e, se possível, do mundo. O implacável tribunal da internet já tinha atuado, o que poderia colocar pressão sobre a Comissão de Ética, algo cada vez mais comum.

Como o julgamento popular não abalou os responsáveis pela análise dos fatos, a ira popular e de parte da mídia se voltou contra eles e contra a própria entidade. Patrocinadores foram cobrados por jornalistas sobre suas posições, que já tratavam o denunciado como culpado, alegando sem qualquer tipo de prova que o resultado do julgamento tinha sido manipulado internamente.

Não estou aqui dizendo que o julgamento foi perfeito e que não houve assédio, pois não conheço a integralidade do processo e das provas. Estou dizendo apenas que questionar a integridade daqueles que foram responsáveis pelo julgamento apenas porque o resultado foi diferente do esperado (com base em que, não sabemos) é um erro enorme, além de uma injustiça com os julgadores.

Com esse tipo de comportamento, as pessoas não percebem que estão cometendo crimes, imputando a outros condutas criminosas ou, no mínimo, antiéticas. Também estão se colocando em posição de risco, já que eventuais danos materiais sofridos pela entidade em razão desse tipo de manifestação podem ser imputados a tais indivíduos, com a devida indenização.

A guerra pelos cliques e a era da lacração têm afetado sobremaneira a mídia esportiva, que cada vez mais deixa de lado a investigação, a checagem e os fatos, jogando com a paixão e os paradigmas de uma sociedade em ebulição. E isso acaba afetando muitas pessoas que trabalham na estrutura do esporte, mesmo aquelas que trabalham para combater exatamente as atitudes que são amplamente criticadas, como o assédio sexual e o assédio moral, além de uma série de outros desvios éticos.

Aristóteles já dizia que a base da sociedade é a justiça, e que o julgamento é a base da ordem social. E a perda de credibilidade do judiciário, decorrente em grande parte da falta de celeridade e da prevalência das normas processuais sobre as normas materiais, parece afetar toda e qualquer decisão que seja tomada. Isso gera instabilidade e fomenta o clima bélico na sociedade, pois todos aqueles que têm suas certezas não satisfeitas por um julgamento imediatamente se sentem no direito de culpar o julgador.

A autocrítica e a autorreflexão com isso deixam de existir, e toda acusação passa a ser verdadeira, abrindo espaço para uma verdadeira caça às bruxas. A presunção de inocência deu espaço à presunção de culpa.

Precisamos parar e refletir se é essa a sociedade que queremos. O mesmo julgamento popular que hoje é apoiado por você pode se virar e não te dar chance de se defender.

Você pode até ter críticas ao sistema e esperar mudanças, e eu mesmo tenho várias, mas a inexistência dele é ainda pior. Se alguém te acusar de algo, torça para que você ainda tenha o direito de se defender e de ser julgado com imparcialidade.

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